A data do dia Mundial Sem Carne, 20 de março, foi definida em 1985 pela FARM (Farm Animal Rights Movement), com o objetivo de fazer uma reflexão e conscientizar sobre o impacto que o consumo de carne traz ao mundo e os supostos benefícios de uma alimentação sem a proteína animal. Segundo o Centro de Pesquisas em Alimentos (FoRC - Food Research Center), cuja missão é desenvolver pesquisas de classe mundial, de caráter básico, aplicado ou estratégico, e realizar projetos de educação e difusão do conhecimento científico, a discussão sobre o consumo ou não de carne ganhou outros contornos depois da emergência da preocupação com as mudanças climáticas.
Há anos, cientistas e startups no mundo todo vêem tentando encontrar análogos de origem vegetal, para atender vegetarianos e veganos, e também produzir “carne” em laboratório para atender os carnívoros, argumentando menor impacto ambiental. As opções na mesa são muitas, mas os desafios também.
O problema do consumo de insetos, comum no oriente, é a aceitação pelo consumidor
“Além das especificidades do sabor, tecnicamente o grande desafio no desenvolvimento de análogos de carne de origem vegetal é a textura. Os ingredientes derivados da soja e ricos em proteínas são funcionais, mas as outras fontes proteicas disponíveis ainda precisam de desenvolvimento para serem otimizadas. Acrescento que, sob o aspecto microbiológico, a microbiota presente em produtos vegetais é distinta daquela presente em produtos animais, especialmente o perfil de deterioração microbiana, portanto estudos ainda são necessários, principalmente em relação aos produtos comercializados resfriados”, explica Ana Lúcia Silva Corrêa Lemos, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Pegada ambiental
O professor associado da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (FZEA/USP), Marco Antônio Trindade, chama a atenção para um estudo publicado em 2014 por quatro cientistas do German Institute of Food Technologies comparando análises do ciclo de vida do frango, de análogos vegetais e daqueles à base de micoproteínas (oriundas de fungos), de análogos à base de leite e glúten, e da célula de carne cultivada, na tentativa de estabelecer a pegada ambiental das diferentes opções.
O trabalho concluiu que os maiores impactos para o ambiente foram os da ‘carne’ cultivada em laboratório e dos análogos à base de micoproteínas, que têm alta demanda por energia para cultivo. A criação do frango e os substitutos da carne à base de leite e de glúten tiveram impacto médio; e o menor impacto ficou com os substitutos à base de insetos e de farelo de soja.