INÍCIO AGRICULTURA Geral

Dia Mundial sem carne: substitutos podem não ser tão sustentáveis ao meio ambiente


Publicado em 20/03/2023

A data do dia Mundial Sem Carne, 20 de março, foi definida em 1985 pela FARM (Farm Animal Rights Movement), com o objetivo de fazer uma reflexão e conscientizar sobre o impacto que o consumo de carne traz ao mundo e os supostos benefícios de uma alimentação sem a proteína animal. Segundo o Centro de Pesquisas em Alimentos (FoRC - Food Research Center), cuja missão é desenvolver pesquisas de classe mundial, de caráter básico, aplicado ou estratégico, e realizar projetos de educação e difusão do conhecimento científico, a discussão sobre o consumo ou não de carne ganhou outros contornos depois da emergência da preocupação com as mudanças climáticas. Há anos, cientistas e startups no mundo todo vêem tentando encontrar análogos de origem vegetal, para atender vegetarianos e veganos, e também produzir “carne” em laboratório para atender os carnívoros, argumentando menor impacto ambiental. As opções na mesa são muitas, mas os desafios também. O problema do consumo de insetos, comum no oriente, é a aceitação pelo consumidor “Além das especificidades do sabor, tecnicamente o grande desafio no desenvolvimento de análogos de carne de origem vegetal é a textura. Os ingredientes derivados da soja e ricos em proteínas são funcionais, mas as outras fontes proteicas disponíveis ainda precisam de desenvolvimento para serem otimizadas. Acrescento que, sob o aspecto microbiológico, a microbiota presente em produtos vegetais é distinta daquela presente em produtos animais, especialmente o perfil de deterioração microbiana, portanto estudos ainda são necessários, principalmente em relação aos produtos comercializados resfriados”, explica Ana Lúcia Silva Corrêa Lemos, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Pegada ambiental

O professor associado da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (FZEA/USP), Marco Antônio Trindade, chama a atenção para um estudo publicado em 2014 por quatro cientistas do German Institute of Food Technologies comparando análises do ciclo de vida do frango, de análogos vegetais e daqueles à base de micoproteínas (oriundas de fungos), de análogos à base de leite e glúten, e da célula de carne cultivada, na tentativa de estabelecer a pegada ambiental das diferentes opções. O trabalho concluiu que os maiores impactos para o ambiente foram os da ‘carne’ cultivada em laboratório e dos análogos à base de micoproteínas, que têm alta demanda por energia para cultivo. A criação do frango e os substitutos da carne à base de leite e de glúten tiveram impacto médio; e o menor impacto ficou com os substitutos à base de insetos e de farelo de soja.
“Eu acredito na importância de termos essas alternativas. Sou da área de carne, gosto de carne, acho que ela tem coisas boas e ruins. Há de fato problemas relacionados à sustentabilidade, ao efeito estufa e ao uso da terra. Mas há setores se aproveitando dessas características críticas para fazerem propaganda dos análogos de forma equivocada. É desejável haver alternativas para pessoas que não querem, por exemplo, consumir produtos animais. Mas essas opções têm sido anunciadas como sendo extremamente mais sustentáveis, além de mais saudáveis, do que aquilo que se quer substituir: ou seja, a carne obtida tradicionalmente. Entretanto, pode não ser bem assim.” Sobre a baixa pegada ambiental das proteínas oriundas de insetos, Trindade é cauteloso. “Talvez seja mais sustentável mesmo, do ponto de vista ambiental. O grande problema seria a aceitação: conseguir convencer a população a comer esse produto. Mesmo no caso de usá-los na formulação de outros produtos, como congelados, biscoitos e salgadinhos, vai ser necessário informar, no rótulo, a presença desses ingredientes, além de atentar para o sabor: o consumidor vai ter de gostar.”
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