Tarifaço dos EUA ameaça R$ 1,5 bilhão em exportações agro do Paraná afetando diversos setores produtivos e empregos
O tarifaço dos EUA ameaça exportações agro do Paraná, colocando em risco R$ 1,5 bilhão em vendas. Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo maior parceiro comercial do Estado, importando US$ 1,58 bilhão em produtos agropecuários. Além disso, no primeiro bimestre de 2025, o tarifaço dos EUA já impacta o mercado, com o país figurando como terceiro maior destino das exportações paranaenses, totalizando US$ 214 milhões. Portanto, o tarifaço dos EUA ameaça um pilar fundamental da economia paranaense.
“O Sistema FAEP está atento às consequências dessa medida. Estamos a poucos dias do início do tarifaço, mas o governo federal não abriu canal de negociação para preservar nossos acordos e minimizar impactos para quem trabalha no campo. Isso é preocupante”, destaca Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP. Desde 2009, os EUA mantêm superávit na relação comercial com o Brasil.
O setor florestal do Paraná, que depende fortemente do mercado norte-americano, é o mais afetado pelo tarifaço dos EUA. A medida já gera cancelamentos de contratos, embarques suspensos e contêineres retidos em portos. Além disso, há férias coletivas e demissões nas indústrias do ramo. Empresas também reduzem operações e reavaliam estratégias, com risco de fechamento de unidades.
Segundo a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), o tarifaço dos EUA é inesperado e desproporcional. Assim, ele compromete a competitividade do setor e ameaça a renda de pequenos e médios municípios.
Três indústrias já tomaram ações que afetam trabalhadores. A BrasPine concedeu férias coletivas para 1,5 mil funcionários, 60% do quadro, nas unidades de Jaguariaíva e Telêmaco Borba. Na Millpar, 640 funcionários entraram em férias coletivas, 58% do total, e houve redução das operações. Além disso, a Sudati demitiu 100 colaboradores nas unidades de Ventania e Telêmaco Borba, afetadas pela tarifa de 50%.
Redirecionar a produção para outros mercados não é viável no curto prazo. Isso porque o setor está adaptado ao consumo dos EUA, que utiliza madeira brasileira em movelaria e geração de energia.
O tarifaço dos EUA deve causar sobrecarga no mercado interno, que não absorve esse volume, especialmente no Paraná. “A madeira produzida aqui dificilmente tem outra saída. O Estado é refém, pois boa parte dessa produção não encontra espaço no mercado interno”, alerta Anderson Sartorelli, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP.
Os EUA são os maiores consumidores de café do mundo e dependem do Brasil para atender à demanda. O Brasil responde por 34% do café importado pelos americanos. A falta do café brasileiro pressionaria preços e afetaria a cadeia norte-americana.
Por outro lado, a Colômbia, segundo maior produtor de arábica, não supre a lacuna deixada pelo Brasil. Por isso, exportadores buscam novos mercados na Ásia e América Latina.
O Paraná, embora represente fatia pequena nas exportações totais de café, ganhou espaço com café solúvel, que tem os EUA como principal mercado. Além disso, os cafés especiais brasileiros, 22% das exportações em 2024, também têm nos EUA seu maior destino. O tarifaço dos EUA impactará produtores locais.
“Consumidor norte-americano dificilmente deixará de consumir, mesmo com preços maiores. Isso sustenta o valor agregado, mas exportadores e produtores receberão menos, e o consumidor final pagará mais”, avalia Jefrey Albers, gerente do DTE do Sistema FAEP.
A piscicultura, especialmente a tilápia, é outro setor vulnerável. Os EUA absorvem 89% das exportações brasileiras de pescado. Entre 2023 e 2024, as exportações do Paraná cresceram 94% em valor e 68% em volume. O Estado é maior exportador brasileiro de tilápia, com US$ 35,7 milhões, 64% do total nacional.
Responsável por 36% da produção nacional de tilápia, o Paraná tem forte presença da agricultura familiar, com endividamento para adequar propriedades a normas sanitárias, técnicas e trabalhistas, segundo Edmilson Zabott, presidente da Comissão Técnica de Aquicultura do Sistema FAEP.
Além disso, uma cooperativa relevante já anunciou redução de 15 toneladas diárias de pescado abatido. “Os EUA são nosso maior comprador, com 80% da tilápia do Paraná destinada a eles. As consequências serão gigantescas”, alerta Zabott.
Nacionalmente, o tarifaço dos EUA interrompe expansão das exportações. Em 2024, o setor cresceu 138% em valor, totalizando US$ 59 milhões, e 102% em volume. “Desde 2021, não havia crescimento em volume, apenas em valor”, destaca Fábio Mezzadri, técnico do DTE do Sistema FAEP.
Os EUA são segundo maior importador de suco de laranja brasileiro, com 41,7% do volume exportado nos últimos 12 meses, atrás apenas da União Europeia. O tarifaço dos EUA ameaça a cadeia global de fornecimento, com impacto no Paraná.
As exportações paranaenses de suco cresceram 345% no primeiro semestre de 2025, alcançando US$ 4,76 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do MDIC.
Paranavaí, polo importante, exportou US$ 10,9 milhões em suco para os EUA no primeiro semestre de 2025. “Não sabemos como será operacionalizada a tarifa nem o critério de cálculo. Esperamos reação das empresas americanas”, diz o empresário Paulo Pratinha.
Hoje, o suco já paga taxa de US$ 415 por tonelada, 15% a 20% do preço final. Se a nova tarifa for somada, os tributos podem chegar a 70%. Mesmo que consumidores aceitem preços mais altos, exportadores e produtores receberão menos. “A tarifa será distribuída entre os elos da cadeia, dada a dependência dos EUA pela importação”, complementa Pratinha.
O grau de dependência é alto, principalmente do Brasil e México – que também sofre sobretaxação de 30%. Além disso, a produção mexicana recua por problemas sanitários, elevando ainda mais a dependência dos EUA do suco brasileiro.
Na carne bovina, o impacto direto será menor. O Paraná tem apenas uma planta exportadora para os EUA. “Pode haver efeito colateral, mas o impacto nas indústrias locais será limitado”, afirma Ângelo Setim Neto, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes do Paraná.
Apesar disso, o tarifaço dos EUA pode interromper crescimento das exportações. Entre o primeiro semestre de 2024 e 2025, a participação da carne bovina paranaense nos EUA subiu 180%, de US$ 1,6 milhão para US$ 4,7 milhões.
Outros produtos bovinos, como couros e peleteria, também têm participação relevante, com receita de US$ 19,9 milhões no primeiro semestre. “O couro foi bastante afetado, o que repercute no boi. A receita da indústria frigorífica não depende só da carne, mas também desses produtos”, avalia.