Relatório Visão Agro indica cenário desafiador, com pressão de insumos, juros altos e necessidade de gestão estratégica
O agronegócio brasileiro inicia o ciclo 2025/26 diante de um ambiente econômico desafiador. A avaliação é do relatório Visão Agro, divulgado pela Consultoria Agro do Itaú BBA, que aponta aumento dos custos, instabilidade cambial e cenário internacional adverso como os principais fatores de atenção para o setor.
Esta é a terceira safra consecutiva iniciada com recomendação de cautela. O documento destaca que os produtores entram em um novo ciclo marcado por juros ainda elevados, desaceleração econômica global e tensões geopolíticas, especialmente nos corredores do Mar Negro e do Golfo Pérsico. Esses fatores têm impacto direto sobre o custo dos fertilizantes e da energia, em um momento em que os preços das commodities seguem pressionados.
“Cada cultura enfrenta seus próprios desafios, mas o cenário geral exige atenção em todos os segmentos. O índice de inadimplência tem aumentado, afetando o crédito disponível para o setor e pressionando a gestão financeira dos produtores”, explica Cesar de Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do banco.
Segundo o relatório, a formação de custos será um dos maiores obstáculos da próxima safra. A expectativa de alta nos fertilizantes, influenciada pela instabilidade internacional, tende a deteriorar as relações de troca, especialmente para culturas como milho safrinha, café, laranja e cana-de-açúcar, que realizam aquisições ao longo do segundo semestre.
No setor de grãos, o real mais valorizado tem incentivado importações num momento em que culturas como o arroz precisariam exportar. No trigo, a concorrência com o produto argentino pressiona os produtores brasileiros, contribuindo para uma possível redução na área plantada.
Por outro lado, o cenário é mais positivo para os setores consumidores de grãos. A pecuária bovina, em especial, deve atravessar uma boa fase, beneficiada pela queda nos custos de ração, aumento nos confinamentos e firme demanda externa. A menor produção nos Estados Unidos e os preços mais altos da carne norte-americana favorecem a competitividade brasileira.
O relatório também aponta oportunidades com o avanço da Lei do Combustível do Futuro, que deve ampliar a demanda por biocombustíveis derivados de soja, milho e cana. Com isso, a produção de subprodutos como farelo de soja e DDG tende a crescer, impulsionando ainda mais a cadeia de proteínas animais.
Por fim, o Itaú BBA reforça que superar gargalos estruturais — como infraestrutura logística, acesso a financiamento e segurança jurídica — será essencial para garantir o crescimento e a competitividade do setor no longo prazo.