Preservação ambiental nas fazendas de algodão é tema central do Brazilian Cotton Dialogues com visitas a propriedades em MT, GO e BA
O cuidado com o solo e a preservação de áreas vegetais nativas foram o ponto alto dos dois primeiros dias do “Brazilian Cotton Dialogues”. Promovida pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) em conjunto com o programa Cotton Brazil, a iniciativa consiste em visitas a fazendas, algodoeiras e laboratórios de três dos principais estados produtores: Mato Grosso, Bahia e Goiás. Dessa forma, a comitiva, formada por 15 representantes do setor têxtil global e de organizações ambientais, pôde conhecer de perto o modelo de produção brasileiro.
Na etapa realizada em Mato Grosso, a programação incluiu visita à fazenda Cidade Verde, do grupo WDF (Wilson Daltrozo e Filhos), localizada em Primavera do Leste. Lucas Daltrozo, diretor de produção, explicou que o algodão entrou na propriedade como uma alternativa para o manejo da soja. No entanto, o mercado mostrou que a nova cultura era, de fato, um bom negócio.
“Costumo dizer que, antes de qualquer coisa, somos cotonicultores, porque hoje o algodão ocupa cerca de 52% da nossa área”, afirmou. De 1997 para cá, quando começou o plantio do algodão, muita coisa mudou. Atualmente, Lucas adota o sistema “três-três”, que consiste no cultivo de algodão como primeira safra por três anos consecutivos, seguido por uma cultura de cobertura e, em seguida, soja.
“Deu resultado. Conseguimos rodar o algodão em toda a fazenda, rotacionando com a soja, e funcionou. A produtividade aumentou, o material orgânico no solo também, e começamos a colher um fardo e meio a mais por hectare”, revelou Lucas. Além disso, o grupo realiza análise de solo anualmente. Com isso, a necessidade de aplicação complementar de fósforo foi reduzida graças ao sistema “três-três”.
Formado em Agronomia pela Esalq, Lucas Daltrozo leva a sério os cuidados com o solo. Por isso, a comitiva coordenada pela Abrapa conheceu parte de uma área experimental de 1,5 mil hectares que Daltrozo mantém para testar diferentes tipos de cobertura, como braquiária, crotalária e sorgo. “O próximo desafio é integrar mais a pecuária dentro do sistema ‘três-três’. Quero colocar o animal dentro desta área de forma experimental, pra daí termos a total integração entre planta, animal e ambiente”, revelou.
Além da lavoura, a comitiva também visitou a algodoeira do grupo WDF, em operação há 17 anos. “Levamos dez anos para termos a nossa usina. Nos meses de beneficiamento do algodão, ampliamos o quadro de colaboradores”, disse Lucas, destacando ainda que a fazenda emprega diretamente cerca de 130 profissionais.
Ainda em Primavera do Leste, o grupo visitou a UniCotton, cooperativa fundada há 27 anos que reúne 108 produtores de algodão. Além de atuar na comercialização, beneficiamento, inteligência de mercado e pool de compras, a UniCotton integra a rede de laboratórios do Programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), coordenado pela Abrapa.
A programação em Mato Grosso também contou com um workshop técnico na sede da Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa). Durante o evento, foram apresentados dados sobre a cotonicultura e três cases de sustentabilidade realizados pelas empresas Amaggi, Scheffer e Bom Futuro.
Durante todo o evento, o “Brazilian Cotton Dialogues” incentivou perguntas, trocas de experiências e discussões sobre práticas sustentáveis. Entre os principais temas abordados estavam a rotatividade entre algodão, milho e soja, a colheita de duas safras por ano, o aumento da produtividade e a preservação de áreas nativas dentro das propriedades rurais.
“Esses dois dias em Mato Grosso foram reveladores para todos nós. Principalmente por percebermos como o produtor brasileiro está empenhado em inserir a conservação ambiental no seu cotidiano”, afirmou K.V. Srinivasan, presidente da International Textile Manufacturers Federation (ITMF).
Segundo Marcelo Duarte Monteiro, diretor de Relações Internacionais da Abrapa, “a transformação da cotonicultura brasileira começa quando o foco se volta para o melhor uso da terra. Somos o terceiro maior produtor mundial e o maior exportador de pluma usando uma área inferior a 1% do território brasileiro”.
Além da Ampa, Mato Grosso também abriga o Instituto Mato-grossense do Algodão (ImaMT), centro de pesquisa em genética e tecnologia agrícola. De acordo com Jean-Louis Belot, coordenador do ImaMT, “o aproveitamento do solo foi possível devido ao alto grau de organização dos produtores”.
“Devido ao nosso clima, estamos em uma área muito propensa à pressão de pragas. Nossa meta sempre foi aumentar a resistência das plantas a ameaças fitossanitárias e criar soluções para que o produtor fizesse o melhor controle biológico possível”, explicou Jean-Louis.
Após a etapa em Mato Grosso, o “Brazilian Cotton Dialogues” continua com visitas a fazendas, algodoeiras e laboratórios em Goiás e na Bahia. O evento faz parte das ações do “Cotton Brazil”, programa que promove o algodão brasileiro no exterior.
Idealizado pela Abrapa, o Cotton Brazil é realizado em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), com apoio da Associação Nacional de Exportadores de Algodão (Anea).