Agricultura regenerativa no Cerrado brasileiro pode gerar até US$ 100 bilhões
Estudo revela que 32 milhões de hectares de áreas agrícolas no Cerrado têm potencial para serem regenerados até 2050, o que pode gerar impactos econômicos significativos.

A agricultura regenerativa no Cerrado brasileiro pode trazer benefícios significativos.

De acordo com um novo relatório elaborado pelo Boston Consulting Group (BCG), em colaboração com o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (MAPA), o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a agricultura regenerativa no Cerrado tem o potencial de gerar até US$ 100 bilhões em valor econômico (VPL) e contribuir com US$ 20 bilhões anualmente para o PIB do Brasil até 2050.
O estudo, intitulado “Cultivando a Resiliência: Caminhos Viáveis para Regenerar Paisagens no Cerrado Brasileiro”, aponta que a conversão de terras agrícolas já consumiu quase metade da área original do Cerrado, com um aumento de 71% nas taxas de conversão apenas entre 2019 e 2023. Como resultado, a região enfrenta incêndios mais frequentes e intensos, com várias espécies ameaçadas de extinção. Além disso, o clima da região tem se tornado cada vez mais quente e seco, afetando a produtividade agrícola local.
Com o objetivo de reverter essa situação, o BCG recomenda a adoção de práticas agrícolas mais resilientes, que podem aumentar a produtividade sem comprometer a sustentabilidade. O relatório identifica 32,3 milhões de hectares no Cerrado com grande potencial para práticas regenerativas. Esse total é composto por 23,7 milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser recuperadas com uma taxa interna de retorno (TIR) de 15% a 22% em um período de 7 a 9 anos. Além disso, há 8,6 milhões de hectares em terras cultivadas, onde a intensificação de práticas sustentáveis pode gerar uma TIR de 16% a 29% entre 3 e 5 anos.
“Para que essa transformação seja possível, é necessário implementar uma estratégia integrada de investimentos, que combine capital privado, concessional e seguros. Também é fundamental que sejam estabelecidos padrões e métricas em colaboração entre os setores público e privado. Isso criaria as condições ideais para grandes investimentos e incentivaria a adoção de práticas sustentáveis pelos produtores, que já têm mostrado que é possível unir produção e eficiência com preservação do meio ambiente”, afirmou Lucas Moino, sócio do BCG.
Além de gerar benefícios econômicos, a adoção da agricultura regenerativa no Cerrado pode proporcionar uma série de benefícios ambientais e sociais, como a redução de emissões de carbono em até 140 MtCO2e, a melhoria da saúde do solo, o aumento da biodiversidade, a maior eficiência no uso da água e o aumento da renda de até 400 mil agricultores.
“A mobilização para a COP30 oferece uma oportunidade estratégica para acelerar a expansão da agricultura regenerativa no Brasil. O Landscape Accelerator – Brazil (LAB), uma iniciativa do BCG, WBCSD e CEBDS, já está promovendo alinhamentos importantes no setor privado. Um passo importante nesse processo será o AARL Brazil Summit, que ocorrerá em abril, no oeste da Bahia, em parceria com o MAPA. O evento visa avançar na construção de consensos com produtores e a sociedade civil sobre políticas públicas, financiamento e sistemas de métricas e monitoramento para o setor”, destacou Marcelo Behar, conselheiro sênior do WBCSD e CEBDS.
Para Juliana Lopes, diretora de Natureza e Sociedade do CEBDS, “a transição para paisagens regenerativas não é apenas uma oportunidade econômica sem precedentes, mas uma exigência para a resiliência climática e a competitividade do agronegócio brasileiro a longo prazo. O Brasil tem a chance de liderar essa transformação global, e o LAB está criando as condições para que o país chegue à COP30 com um modelo de agricultura regenerativa em implementação, mostrando na prática que produção e conservação podem coexistir”.
Desafios
Apesar do enorme potencial, o estudo também alerta para três grandes desafios para a expansão da agricultura regenerativa no Cerrado:
Ativação dos agricultores: A transição para a agricultura regenerativa exige uma mudança de mentalidade, com os produtores priorizando a busca por margens maiores e produtividade a longo prazo em vez de ganhos imediatos. Muitos pequenos agricultores enfrentam barreiras como a falta de acesso a especialistas, programas de apoio e dificuldades educacionais, além de resistência cultural a mudanças nas práticas tradicionais.
Financiamento da transição: A transição para a agricultura regenerativa exige investimentos iniciais significativos em infraestrutura, insumos e equipamentos. Além disso, os maiores retornos financeiros são observados a longo prazo, o que dificulta o financiamento dessa transição, especialmente devido ao risco percebido pelas instituições de crédito. O estudo sugere a combinação de capital privado, concessional e seguros para viabilizar o processo.
Verificação das práticas e resultados: A avaliação da eficácia das práticas regenerativas é complexa e dispendiosa, exigindo tecnologias avançadas e auditorias. Para pequenos agricultores, os altos custos e a burocracia podem ser obstáculos para o acesso a mercados mais exigentes e a incentivos. A falta de métricas e protocolos padronizados agrava essa dificuldade, tornando o sistema fragmentado e confuso.
Esses desafios, vinculados à falta de confiança, limitações financeiras e questões de verificação, exigem um entendimento profundo das barreiras enfrentadas pelos agricultores. O Cerrado, ao adotar a agricultura regenerativa, pode se tornar um modelo para equilibrar produção agrícola e preservação ambiental, tornando-se a primeira paisagem regenerativa do mundo.
