Puxado pela altas dos alimentos e do combustível, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial no país, fechou abril em 1,06%, maior resultado para o mês em 26 anos, desde 1996 (1,26%), de acordo com dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (11). O economista João Beck, sócio da BRA, analisa que o IPCA desacelerou mais, mas ainda assim, ficou levemente acima do consenso do que o mercado esperava.
“O aumento de preços ainda continua bem difuso, mas novamente a pressão veio dos alimentos e da gasolina, principais itens influenciados pela guerra na Ucrânia. Nossa taxa Selic se encontra em nível bastante contracionista, e muitos dos impactos das altas recentes ainda não foram sentidas. Outros indicadores de atividade e de oscilação de preços já dão sinais de que poderemos ver uma inflação mais comportada nos próximos trimestres”, avalia Beck. O economista pontua ainda que “o que deve mais pesar nos mercados é o CPI americano, mostrando que nos EUA a inflação ainda está longe de ser controlada, e leva à uma discussão maior sobre possíveis aumentos acima de 50 pontos nas próximas reuniões”.
Para Rafael Marques, CEO da Philos Invest, o resultado do IPCA mostra a desaceleração em grande parte dos itens de vetores mais voláteis da inflação, que foram a alimentação no domicílio e os combustíveis. Também há uma deflação no subgrupo de energia elétrica por causa da mudança da bandeira tarifária de escassez hídrica para verde em 16 de abril. Ele avalia que espera-se um impacto baixista remanescente, olhando para frente, com a mudança da bandeira tarifária para verde. No entendo, o diesel deve ter um reajuste de 8,9% no preço, por isso, deve ser um impacto altista sobre o índice no próximo anúncio.
“Além disso, o balanço de risco segue assimétrico ainda para cima, refletindo uma elevada do cenário global, com uma política monetária restritiva vindo especialmente dos Estados Unidos e a deterioração de alguns problemas de cadeia produtiva por causa das medidas tomadas de restrição social na China”, diz o especialista. O economista pontua ainda que "esse cenário tem provocado uma desvalorização do real e isso pode resultar em novas pressões altistas aqui. Além disso, a gente tem na outra ponta uma defasagem da gasolina também que pode ter um impacto negativo. Por fim, em meio a dados positivos do mercado de trabalho e recuperação parcial do rendimento real, precisamos monitorar algumas que podem vir da da parte de serviços”, finaliza Marques.