Farsul avalia 2025 e alerta para desafios do agro em 2026
Entidade aponta crise climática, cenário econômico adverso e transição na presidência como pontos centrais
Coletiva analisou o cenário do agro em 2025 e os desafios econômicos e climáticos para 2026 no Rio Grande do Sul. Foto: Emerson Foguinho / Sistema Farsul
A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) realizou, na manhã da terça-feira (16), uma coletiva de imprensa para analisar o cenário do setor agropecuário em 2025 e as perspectivas para 2026. O encontro também marcou um momento simbólico para a entidade, com a transição na presidência após quase três décadas sem mudança no comando.
Ao abrir a coletiva, o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, que encerra seu mandato em 31 de dezembro, relembrou sua trajetória à frente da instituição. “É a primeira vez em 29 anos que fazemos uma transmissão do cargo da Presidência na Federação da Agricultura”, afirmou. Gedeão assumiu o posto após o falecimento de Carlos Rivaci Sperotto e, recentemente, passou a ocupar o cargo de primeiro vice-presidente da CNA, o mais alto já alcançado por um gaúcho na Confederação.
Cenário político, econômico e climático preocupa o setor
Durante a apresentação, Gedeão destacou que 2026 será decisivo para o futuro do agronegócio gaúcho e brasileiro, sobretudo em função do ambiente político e econômico. Segundo ele, as eleições terão papel central nas decisões que impactarão o setor.
“Hoje nós vivemos em um Brasil absolutamente indefinido quanto ao seu futuro. Os bons economistas estão apontando para uma crise em que o País está se afundando”, afirmou. Além disso, o presidente chamou atenção para os efeitos da crise climática no Rio Grande do Sul e seus reflexos sobre a economia estadual.
Nos últimos cinco anos, segundo Gedeão, bilhões de reais deixaram de circular no Estado em razão das perdas no campo. “Nosso Estado é majoritariamente agrícola. Quando a agricultura falha, a riqueza deixa de circular entre todo o nosso povo”, reforçou.
O presidente eleito da Farsul, Domingos Velho Lopes, que assume o cargo no início de 2026, afirmou que dará continuidade ao alto nível técnico da entidade. Além disso, destacou que pretende ampliar o diálogo com a população urbana. “Nossa meta é defender o produtor rural, ratificar o que fazemos tecnicamente e valorizar essa aproximação com a sociedade. Precisamos mostrar que somos o maior exportador líquido de alimentos do mundo”, disse.
Balanço econômico revela crise prolongada no Rio Grande do Sul
Na sequência, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, apresentou o balanço econômico de 2025 e reforçou a gravidade da situação enfrentada pelo setor. Segundo ele, a agricultura gaúcha atravessa a quinta safra consecutiva de perdas.
“Vamos ter uma queda de 6% na produção de grãos em relação a 2024, que já foi um ano muito ruim. O setor não consegue sair do fundo do poço”, afirmou. Da Luz também comparou o desempenho brasileiro ao de outros países nas últimas duas décadas, apontando que o Brasil perdeu cerca de 24% do PIB relativo nesse período.
No caso específico do Rio Grande do Sul, o economista destacou que o Estado apresenta desempenho ainda mais frágil. “O ranking da taxa de crescimento estadual coloca o RS na 26ª posição. De 2019 para cá, perdemos 11 pontos percentuais em relação ao País”, explicou.
Além do impacto econômico, Antônio da Luz alertou para efeitos sociais e demográficos da crise. Segundo ele, períodos prolongados de estiagem e dificuldades no campo influenciam até a dinâmica populacional. “Entre 2010 e 2022, o RS cresceu apenas 1,8%, enquanto Santa Catarina cresceu 22% e o Paraná, 9,6%. Estamos perdendo jovens”, afirmou.
Por fim, o economista ressaltou que o endividamento do setor deve continuar, mesmo diante de uma eventual boa safra. Para ele, o desequilíbrio fiscal, a inflação e os juros elevados seguem como entraves estruturais. “Nosso Estado está ficando para trás, e isso afeta toda a população, não apenas o produtor rural”, concluiu.
