Em Toledo, além da energia, os produtores ressaltam a alta aguda de equipamentos e itens da construção civil, que encarecem os investimentos em infraestrutura e/ou reformas e adequações. O presidente da Associação dos Avicultores do Oeste do Paraná (Aviopar), Edenílson Carlos Copini, no entanto, vê alguns pontos positivos, entre os quais o fato de a agroindústria não ter interrompido os abates ao longo da pandemia e do diálogo aberto, o que pode ajudar a construir consenso adiante.
“Tivemos reajuste de 10%, em contrapartida os itens de infraestrutura subiram muito. As agroindústrias não têm conseguido repassar esses valores em cima da infraestrutura. Outro desafio é o aquecimento das aves. Usamos pellets de pinus, produto que praticamente dobrou de preço em três anos. Estamos com dificuldades para pagar isso”, observa. “Temos que ganhar acima de R$ 1,20 por frango. Quem ficar abaixo de R$ 1 [por ave] vai estar tirando dinheiro do bolso e se descapitalizando”, diz.
As condições são ainda mais severas para produtores com financiamento em aberto. Segundo o avicultor Ilseu Peretti, de Chopinzinho, esse é o caso de inúmeros produtores da região. “Em termos de remuneração, tivemos uma melhora de 2%. Isso foi insuficiente, principalmente para quem tem granjas financiadas. Tenho vizinhos que estão em desespero, prorrogando parcelas com juros abusivos e com o risco de perder as terras que deram como garantia. O avicultor só se mantém por persistência e com mão de obra familiar. Mas muitas famílias já estão descapitalizadas e com dificuldades na sucessão”, aponta.
Energia renovável pode garantir sustentabilidade financeira
O aumento do peso da energia elétrica na avicultura tem evidenciado uma saída a que, cada vez mais, produtores têm aderido: a geração própria a partir de fontes renováveis, principalmente a solar. Recentemente, o Sistema FAEP/SENAR-PR divulgou estudos técnicos que demonstram a viabilidade financeira do investimento em usinas fotovoltaicas e de biogás. Com a previsão do fim da Tarifa Rural Noturna (TRN) – programa que concede descontos à energia consumida no campo durante a noite e a madrugada – para dezembro de 2022, a aposta em energias renováveis deve ser determinante para a sustentabilidade financeira de atividades como a avicultura.
“De um lado temos bandeiras tarifárias que encarecem a conta de luz. De outro, temos o fim de subsídios federais e estaduais. Então, a adoção da energia renovável deixou de ser uma alternativa, para se tornar uma realidade”, observa Luiz Eliezer Ferreira, do DTE. “Temos novas legislações que trouxeram segurança jurídica a esses investimentos. São projetos que se pagam em poucos anos e, após esse período, podem garantir renda ao produtor”, destaca. Não faltam exemplos que ilustrem o que Ferreira diz. Nos últimos seis meses, a conta de luz do avicultor Carlos Eduardo Maia vinha se estruturando para investir em energia renovável. Ele vai aportar R$ 3 milhões – financiados pelo BNDES – em painéis fotovoltaicos, que produzirão toda a energia consumida nos 12 aviários, que alojam 500 mil aves por lote.
“As alterações na TRF já tinham limitado o desconto aos produtores. Agora, vamos ser autossuficientes em energia. Com essas bandeiras tarifárias, entre três a quatro anos o investimento vai se pagar”, diz Maia. “Mas o dinheiro economizado com energia por causa do investimento em usinas fotovoltaicas tem que ficar com o produtor. Não adianta, depois, a integradora querer zerar os repasses de energia, alegando que o avicultor já não tem esse gasto. A gente está investindo para deixar de gastar, não para a indústria ganhar em cima”, ressalva.
Os produtores também ressaltam a dificuldade de o produtor captar crédito para investir nos projetos. Em algumas regiões, os avicultores não conseguem acesso ao Renova PR, programa do governo do Estado para fomentar a implantação de sistemas de energia renovável. Ainda assim, quem instalou as usinas em seus aviários atesta os benefícios.
“O ganho real só vai existir quando o produtor terminar de quitar o financiamento. Mas sem sombra de dúvidas é uma alternativa viável. Em vez de pagar a energia à concessionária, você paga o financiamento da implantação da usina, que é um ativo do produtor”, diz o presidente da Comissão de Avicultura da FAEP, Diener Gonçalves Santana.
Números são usados nas negociações com as indústrias
O levantamento dos custos de produção dá subsídios concretos aos avicultores para negociarem com representantes da agroindústria, no âmbito das Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs). O objetivo é que, com os dados em mãos, os produtores possam apresentar os números da atividade às integradoras, reivindicando reajustes e remunerações mais condizentes com a conjuntura.
“Agora é o momento de os produtores recorrerem às Cadecs, para conseguirem uma melhor negociação, porque a situação está à beira do insustentável, principalmente aos produtores que têm financiamentos. Alguns estão parando com as renovações, o que gera um impacto na eficiência e na produtividade. É hora de negociar”, diz Mariani Ireni Benites, do DTE.
Diener Gonçalves Santana ressalta a importância de os produtores participarem dos levantamentos dos custos de produção e de fortalecerem as Cadecs. Na avaliação do presidente da CT, é a partir da união que a categoria vai conseguir avanços. “Se os avicultores não se manifestam, a indústria vai entender que as condições são satisfatórias. Temos que aproveitar esse levantamento feito pelo Sistema FAEP/SENAR-PR e levá-lo para a mesa de negociação, para que a partilha seja justa”, opina.
Os produtores da Cadec de Paranavaí, por exemplo, já agendaram uma reunião com a integradora para janeiro. A expectativa dos avicultores é chegar a um consenso, com base nos dados trazidos pelo levantamento. “A nossa integradora é bastante atenta os custos apresentados a partir da planilha Do Sistema FAEP/ SENAR-PR, apesar de haver alguns pontos de divergência. O importante é que se unificasse o diálogo, chegando a um consenso no que diz respeito aos custos. Essa organização já é o primeiro passo para unificarmos o diálogo com a indústria”, diz Carlos Eduardo Maia.
Cadeia promissora com custos nas alturas
A avicultura brasileira vai fechar 2021 com índices recordes de produção e exportação, e apesar disso, o levantamento de custos de produção realizado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR mostrou que o cenário é, no mínimo, preocupante para os produtores de frango de corte do Paraná. Apesar de o Estado alojar 30% de todo frango do país e carregar o título de maior produtor e exportador, muitas despesas têm deixado os avicultores no prejuízo.
Os desafios para a cadeia produtiva de frangos foram vários ao longo do ano, com alta dos custos de produção de todos os lados: os preços do milho e do farelo de soja; alta do dólar, que apesar de beneficiar as exportações, encareceu a importação de insumos necessários à produção; e elevação dos combustíveis e da energia elétrica, fatores que mais impactaram os custos desembolsados pelo produtor.
É um tanto quanto incoerente que uma das pontas dessa cadeia tão promissora esteja se equilibrando com as contas e correndo o risco de não se sustentar a longo prazo. O produtor precisa conhecer a sua realidade e ter dados consistentes da sua região para comparar seus custos com a média local e assim poder negociar com a indústria. Esse é o objetivo do levantamento de custos realizado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR: subsidiar os produtores com informações e auxiliar junto às Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) para as negociações da remuneração junto as indústrias.