Apesar das sanções econômicas impostas por vários países contra a Rússia, em razão da guerra contra a Ucrânia, iniciada em fevereiro deste ano, o abastecimento de fertilizantes não foi tão prejudicado como se esperava. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), ligada ao Ministério da Economia, a importação desses produtos pelo Brasil, no primeiro semestre de 2022, registrou aumento de 14% na comparação do acumulado do mesmo período de 2021; foram importadas 17,8 milhões de toneladas. De acordo com Claudio Brisolara, chefe do Departamento Econômico da FAESP, houve melhora do cenário recente. “Alguns fertilizantes tiveram uma discreta redução no preço. Como o volume de importação ficou acima do ano passado, no mesmo período, creio que os preços deverão ceder mais”, avalia.
Mesmo com a possibilidade da normalização do fornecimento, os produtores devem estar preparados para soluções alternativas. Uma das estratégias é otimizar o uso de fertilizantes na lavoura por meio da agricultura de precisão e do uso racional dos insumos, uma prática que deve ser realizada com muito cuidado, para não haver o perigo de queda da produtividade. As Comissões Técnicas da FAESP consultadas apontam que ainda há preocupação por parte do setor agropecuário em todo o Estado de São Paulo quanto às safras 2022/2023, pois não há total segurança sobre o fornecimento ao longo do segundo semestre e a manutenção dos estoques de passagem em níveis satisfatórios.
Aumentos dos preços
Como as tensões geradas logo no início da guerra fizeram crescer a percepção de que o fornecimento poderia ser seriamente prejudicado, a procura pelos produtos se intensificou, o que, associado à valorização do dólar, pressionou o aumento dos adubos e fertilizantes. O abastecimento foi bastante irregular, pois os produtores com maior poder econômico conseguiram adquirir uma quantidade maior, o que não aconteceu com os pequenos e médios.
Segundo Ademar Pereira, presidente da Câmara Setorial do Café e coordenador adjunto da Comissão de Cafeicultura da FAESP, os altos custos dos fertilizantes, aliados a outros fatores, acabaram gerando distorções no preço final do pó de café nas prateleiras dos pontos de venda, dando a impressão, para o consumidor, de que os cafeicultores estivessem lucrando muito, o que não é verdade – ou seja, a margem de lucro dos cafeicultores na verdade tem caído, segundo ele.
O impacto do aumento dos insumos para os produtores de café somou-se ao de outros custos desde a última safra. Os cafeicultores tiveram de buscar soluções alternativas para reduzir a necessidade dos adubos convencionais sem prejudicar a produtividade. Para Ademar, o valor dos fertilizantes caiu um pouco, mas ainda é muito superior ao do começo do ano passado. “Está muito preocupante, muito fora dos preços de antes dessa escalada em um curto espaço de tempo”, relata.
Segundo a percepção dos produtores de hortaliças, alguns adubos estão mais baratos, após disparada de preços nos últimos 12 meses, conforme explica Gildo Takeo Saito, coordenador da Comissão Técnica de Hortaliças, Flores e Orgânicos da FAESP. Os pedidos mais recentes de compra dos adubos nitrogenados, que são os mais usados, não acompanharam essa tendência e tiveram novo aumento. O impacto só não é maior na produtividade e nos custos porque o segmento de hortaliças está em um momento natural de diminuição da produção devido à época mais fria do ano, em que a demanda dos consumidores é menor. “Alguns dos insumos que tiveram os preços reduzidos não vão refletir muito porque, principalmente no caso das hortaliças, houve uma diminuição do consumo em razão do frio. O valor desses produtos caiu mais do que o dos adubos, mas a safra é menor – cerca de 60% a 70% da capacidade máxima”, justifica Saito. Se o agricultor colher mais, aumentam os estoques, o que não é bom. “Neste cenário, não adianta ter 100% da capacidade. O melhor é estar mais próximo da demanda do mercado, e então buscar diminuir os custos”, aponta.
Em relação a política agrícola, algumas soluções a médio e longo prazo estão no radar do governo federal, como o fortalecimento de relações diplomáticas e econômicas com países árabes (que hoje representam 26% do fornecimento de fertilizantes para o Brasil – a meta é superar esta porcentagem nos próximos anos) e o Plano Nacional de Fertilizantes, lançado no início de março, que prevê estímulos à fabricação dos insumos no Brasil e à pesquisa de adubos orgânicos, visando diminuir a dependência de importações, até 2050, dos atuais 85% para 45%. Com isso, já começou a corrida por novos empreendimentos para exploração de potássio para fertilizantes. Até junho foram registrados 50 pedidos de extração da matéria-prima pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Mas não será tarefa fácil, pois as maiores jazidas localizadas na Amazônia, por exemplo, estão a aproximadamente 800 metros de profundidade, necessitando de muito tempo e altos investimentos – se não houver impedimentos ambientais – até haver retorno na prática. O Plano Safra anunciado no final de junho prevê investimentos também nesta área, inovando ao permitir o financiamento, pelos produtores, de remineralizadores de solo (pó de rocha).