Os meses de agosto e setembro, historicamente, são os períodos mais secos do ano no Paraná. A ocorrência de geadas fortes em diversas regiões do Estado aumentou a quantidade de material seco com potencial de disseminação de focos de incêndio. Além disso, o Paraná passa por uma crise hídrica sem precedentes. Desde 2018, a chuva abaixo da média tem sido uma constante no Estado. Esses fatores acenderam o sinal de alerta para reduzir a chance de fogo descontrolado em áreas rurais. Afinal, além dos prejuízos, essas ocorrências colocam em risco a vida de animais e até mesmo de pessoas que vivem nas propriedades espalhadas pelo território paranaense.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, de janeiro a junho deste ano foram registrados 3.650 incêndios em áreas rurais, número menor em relação ao mesmo período de 2020, quando a corporação notificou 4.791 casos. Mesmo assim, a atenção está voltada principalmente para os próximos meses.
Segundo o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Rafael Lorenzetto, um dos principais pontos de atenção por parte dos produtores para evitar problemas relacionados ao fogo está nas áreas próximas a rodovias. “Nesses locais há incidência de incêndio causadas por pontas de cigarro acesas jogadas à beira da estrada, por exemplo. É preciso sempre manter as áreas próximas limpas, sem vegetação. A prevenção é sempre o melhor caminho para evitar prejuízos maiores”, enfatiza.
Outro aspecto crucial, de acordo com Lorenzetto, é evitar ao máximo usar o fogo como técnica de manejo nas lavouras. “Há um decreto federal [10.735 de 2021] que proíbe por 120 dias [a partir de 29 de junho] qualquer tipo de queimada em áreas rurais. Muitos agricultores ainda usam queimadas no manejo e cuidado do solo antes do plantio. Mas existem estudos que mostram que essa prática feita de maneira indiscriminada pode até causar danos ao solo, eliminando nutrientes essenciais para as plantas”, alerta o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros.
Orientações
Além das rodovias, as estruturas das fazendas também devem estar sempre com os arredores limpos, sem mato alto em volta. No caso de um incêndio de grande proporção, muitas vezes, não há como extinguir o fogo. Nesse caso, como pontua Lorenzetto, a prioridade é fazer com que o fogo se limite a áreas sem animais, veículos, insumos e, principalmente, casas. “A orientação é não deixar a vegetação crescer muito perto de prédios, casas ou outras estruturas, para evitar que sejam afetadas pelo fogo em casos de emergência”, explica.
No caso de ocorrer um incêndio, a orientação é acionar o Corpo de Bombeiros por meio do telefone 193. Mesmo que não haja uma corporação próxima, há grupos de voluntários, brigadistas, Defesa Civil e uma série de organizações que podem auxiliar no controle dessas situações. Além disso, os atendentes também fornecem orientações do que é necessário fazer para garantir ao máximo a segurança das pessoas e evitar prejuízos nas ocorrências.
“Temos formações tanto voltadas a brigadas em empresas maiores e que contemplam as normas regulamentadoras quanto para produtores e trabalhadores rurais de todos os tamanhos. Sempre trabalhamos com o que há de mais atualizado em relação à legislação, técnicas e equipamentos necessários”, relata Corso.
O instrutor do SENAR-PR Luiz Paulo Corso tem ministrado o curso “Prevenção e combate aos incêndios em meios rurais”, lançado em 2021. Para ele, quanto mais preparadas para enfrentar emergências as pessoas estiverem no meio rural, maior a chance de se fazer combates efetivos em situações de incêndio.
“Vamos enfrentar um agosto bem seco, quando venta muito. Isso é bem preocupante. Temos que sensibilizar sindicatos, usinas, empresas de modo geral, produtores rurais e associações. Quanto mais pessoas tivermos preparadas com a habilidade para combater o incêndio no meio rural teremos mais sucesso nas nossas atividades quando da ocorrência do sinistro”, projeta o instrutor.
Na área florestal, Emerson Massoqueto Batista, também instrutor do SENAR-PR, reforça que o sucesso na hora de combater um incêndio é uma somatória de fatores. “Desde a hora da detecção do incêndio até a mobilização de equipe, que precisa de uma rede de comunicação efetiva, o combate em si e a última operação, chamada de rescaldo, têm que estar alinhados, para que tenha a menor perda possível”, enumera.