INÍCIO AGRICULTURA Mercado

Especialistas avaliam estragos do clima no café e divulgam expectativas

Perdas com seca e geadas devem causar déficit na produção e redução dos estoques de café arábica, atingindo menores níveis desde 2009/2010; melhora climática no Centro-sul, aliado ao bom ritmo da safra do hemisfério norte, pode aliviar a pressão no fluxo comercial de açúcar a partir do segundo trimestre

Publicado em 25/02/2022

O tempo seco e as geadas que acometeram as regiões produtoras de café e cana-de-açúcar no Centro-Sul do país provocaram efeitos adversos na oferta desses produtos. As culturas foram o tema do segundo dia de webinar da hEDGEpoint Global Markets, na quarta-feira (23), com mais de 200 inscritos.



Em relação ao mercado de café, a analista Natália Gandolphi destacou os problemas em torno da produção no Brasil. “A safra brasileira de 22/23 deve registrar nova quebra, com a produção de arábica atingindo 37,9 milhões de sacas”, disse ela. O número está abaixo do último ano de bienalidade positiva (20/21), em que se produziu 50,5 milhões de sacas. A quebra decorre da seca no crescimento vegetativo, além de três episódios de geadas em 2021 e chuvas torrenciais que dificultaram o pegamento da florada. “Em termos de qualidade, porém, a safra de arábica pode ter um ano positivo em 22/23, com frutos uniformes e cheios em decorrência das boas chuvas em janeiro”, aponta a analista. A recuperação das chuvas também é positiva para o crescimento vegetativo da safra 23/24. Para o conilon, porém, a produção deve ficar em linha com o último ciclo, atingindo 22,3 milhões de sacas, com áreas apresentando desenvolvimento menos uniforme e faixas menores de produtividade. “O quadro da safra brasileira impacta diretamente o balanço de oferta e demanda mundial, com dois déficits consecutivos esperados para 21/22 e 22/23, o que deve gerar uma relação de estoque/uso mais apertada em 2022”, indicou Carlos Costa, Global Head of Sales na hEDGEpoint Global Markets Em sua apresentação, o executivo destacou a queda dos estoques de arábica para os menores níveis em uma década, o que pode gerar sustentação dos preços ao longo do ano. O painel ainda abordou riscos baixistas na frente macroeconômica: “O sentimento de aversão ao risco em torno de conflitos internacionais, em conjunto ao quadro inflacionário que pode corroer o poder de compra do consumidor final, são elementos que o mercado precisa acompanhar de perto”, alerta Carlos.
Cana-de-açúcarPara a analista do setor sucroalcooleiro da hEDGEpoint Global Markets, Lívea Coda, o rumo do mercado de açúcar será ditado, nos próximos meses, pela perspectiva de oferta brasileira, demanda mundial e conflitos geopolíticos. “O tempo mais seco e as geadas em 2021 afetaram a produção do Centro-Sul (CS) do Brasil, antecipando o final da safra 21/22 (abr-mar)”, pontuou ela. “Isso adicionou pressão aos fluxos comerciais e sustentou os preços durante o terceiro e quarto trimestre do ano”, lembrou.

 Para a mesma região, a hEDGEpoint estima um crescimento de 1,1% no consumo de combustível (ciclo otto) em 22/23. Esta baixa demanda adicional é resultado dos altos preços dos combustíveis e da corrosão do poder de compra da população dada alta taxa de inflação e baixo crescimento econômico previsto para 2022. Por sua vez, o mix de açúcar deve ser mais doce, 46%, uma vez que a demanda por combustíveis se mantém abaixo dos níveis pré-pandemia e os estoques de etanol se encontram confortáveis. Assim, a quantidade total de açúcar poderá variar entre 33,8Mt e 35Mt, a depender do total de cana (551Mt -- 570Mt) que, por sua vez, se relaciona diretamente ao clima.
 “Atualmente, nos encontramos céticos quanto a uma recuperação de mais de 25Mt para a próxima safra uma vez que parte da cana já foi afetada pelo clima adverso em 2021 e esperamos renovação do canavial. Dessa forma, nos mantemos no limite inferior do intervalo (551Mt de cana) e esperamos que o Brasil contribua com 31,5Mt (out-set) consolidando, juntamente com um crescimento de 1,1% da demanda mundial, um déficit de 1,4Mt”, prevê Lívea. Em relação à China, a analista observa que o país tem se destacado como grande importador da commodity e, mesmo com arbitragem fechada, moveu entre outubro e novembro de 2021 cerca de 90% do volume que importou quando ganhava um prêmio de 150$/t em 2020. A hEDGEpoint estima que o “dragão asiático” deve importar cerca de 5,7Mt nesta safra, ante 6,3Mt na temporada anterior.

 O head da mesa de Açúcar na hEDGEpoint, Fabio Mendes, destaca que estamos em um período de transição de preços quando olhamos para fundamentos específicos deste mercado. O retorno do Brasil a partir do segundo trimestre retira parte da pressão sentida no fluxo comercial hoje e assim, podemos esperar que o patamar de preços atual (entre 17,8 e 19,3 c$/lb) se mova para baixo (16,8 a 18,3 c$/lb). “É claro que essa visão possui riscos, dentre eles destacam-se um reaquecimento da demanda, o clima e, principalmente, os desdobramentos das tensões geopolíticas”, disse Mendes. “Fatores externos ao mercado que aumentem a percepção de risco, ou até mesmo elevem o valor das commodities energéticas, devem ser monitorados de perto para melhor entendermos os preços de açúcar no futuro”, observa.

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