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No começo de dezembro de 2024, o Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado (Consevitis-RS) e a Federação das Cooperativas Vinícolas do RS (Fecovinho), entre outras entidades, lançaram a Carta de Jaguari. O documento alerta para os graves impactos causados pela deriva de produtos herbicidas hormonais, prejudicando reprodução animal e o meio ambiente nos biomas Pampa e Mata Atlântica.
“A continuidade do uso de herbicidas hormonais ameaça a diversidade agrícola e a saúde da população e compromete setores importantes da economia nacional, como a vitivinicultura, a fruticultura e outras culturas nas quais já se comprovam danos”, alerta Helio Marchioro, diretor executivo da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho) e conselheiro do Consevitis-RS.
A Carta destaca que, apesar de normativas e fiscalizações implantadas nos últimos anos, as perdas econômicas e ambientais continuam a crescer, especialmente nas regiões Central e Campanha do RS. O documento propõe 11 medidas urgentes, como a proibição do uso de herbicidas hormonais de agosto a março, aumento das penalizações e criação de um fundo de compensação para produtores afetados.
Também inclui pesquisas sobre alternativas viáveis ao uso desses produtos, responsabilização das empresas fabricantes em casos de aplicação indevida e a realização de audiências públicas periódicas e debates com Frentes Parlamentares para dar visibilidade ao problema. A mobilização inclui ainda a articulação para a tramitação do Projeto de Lei 2.569/2022, que visa regulamentar o uso de herbicidas hormonais no Brasil.
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Tecnicamente chamado de ácido diclorofenoxiacético, o 2,4-D é um herbicida hormonal (que mimetiza alguns hormônios das plantas) desenvolvido na década de 1940.Esse químico se tornou mais conhecido durante a Guerra do Vietnã (1959-1975, com a participação dos Estados Unidos a partir de 1965), quando associado ao 2,4,5-T ou ácido 2,4,5-triclorofenoxiacético. Essa combinação era usada para produzir o famoso agente laranja, empregado pelo exército norte-americano para desfolhar as matas daquele país e facilitar a localização de soldados inimigos.
Segundo as entidades, o produto foi um dos 75 agroquímicos usados por um pecuarista que tem 11 fazendas no município de Barão de Melgaço, em Mato Grosso, acusado de desmatar parte do Pantanal para fazer pastagem para o gado.Em dezembro, no colapso da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que divide os estados de Tocantins e Maranhão um caminhão que transportava 9 toneladas de 2,4-D caiu no Rio Tocantins. A tragédia, que deixou 13 mortos e quatro desaparecidos, preocupou autoridades devido aos riscos ambientais e à saúde e prejudicou o trabalho de resgate do Corpo de Bombeiros dos corpos das vítimas.
Nosso objetivo é garantir que os herbicidas sejam aplicados de maneira correta e segura, em conformidade com as normas e regulamentos vigentes para proteger tanto o meio ambiente quanto a saúde pública.
Fabio Kagi, gerente de assuntos regulatórios do Sindiveg
Além da coleta de amostras e realização de análises em laboratório que permitam uma ideia real da dimensão do problema que vem afetando a Metade Sul.“Estamos muito preocupados É uma situação sensível e delicada, pois envolve produtores que são associados da nossa entidade. Mas, desde que o problema surgiu e passou a ser acompanhado pelo Ministério Público do RS e pela Seapi, em 2018 e 2019, a Farsul vem tentando encontrar soluções dentro da legalidade”, observa Domingos Antônio Velho Lopes.
A visão da entidade é de que o problema da deriva é grave, mas pontual, nas regiões Central e na Campanha Gaúcha. “As denúncias – cerca de 100 – são mínimas dentro de um universo de 13 milhões de aplicações terrestres, aéreas e costais que são feitas a cada ano no Estado. É claro que, para aquele produtor que acaba atingido, é algo muito sério, gravíssimo”, avalia o dirigente, que também não acredita que os produtores estejam deixando de fazer as denúncias à Seapi e abandonando a atividade.
Lopes é contrário a proibição de qualquer princípio ativo e avalia que o 2,4-D é um produto de qualidade e absolutamente seguro. “O problema da deriva é a má aplicação por parte de alguns produtores”, observa. A Farsul e outras entidades alertam para os prejuízos econômicos que a proibição do uso de herbicidas hormonais traria para a soja, cultura de maior peso financeiro do RS - sem garantias técnicas de que há substituto à altura para o herbicida, capaz de manter a produtividade da oleaginosa. “Ainda temos problema de deriva, mas, aparentemente, já há uma diminuição”, minimiza.
Fabio Kagi, gerente de assuntos regulatórios do Sindiveg, lembra que a indústria de defensivos agrícolas tem investido de forma contínua em tecnologias de aplicação mais eficientes e seguras, como bicos antideriva e formulações inovadoras que ajudam a minimizar esses riscos. Além disso, reforça que a entidade está comprometida com a promoção de práticas agrícolas responsáveis e sustentáveis, oferecendo treinamentos e orientações aos produtores e operadores. "No Rio Grande do Sul, o treinamento específico para aplicação de hormonais já é obrigatório”, observa.
O executivo assegura que uma eventual proibição do produto causaria um impacto significativo, uma vez que esse herbicida desempenha papel essencial no controle de plantas daninhas de folhas largas, particularmente nas culturas gramíneas. “Eventual necessidade de substituição geraria uma pressão adicional sobre os produtores, resultando em um aumento nos custos de produção e, em alguns cenários, uma possível redução na produtividade”, sustenta.
Segundo ele, o Sindiveg defende uma análise técnica minuciosa e equilibrada antes de se tomar qualquer decisão sobre a proibição do agroquímico.A entidade admite, no entanto, que a falta de treinamento adequado dos operadores e a falta de conscientização dos produtores podem ser fatores determinantes para os problemas de deriva e contaminação.
E ressalta a importância de haver conscientização sobre as técnicas de redução de deriva, como controle da altura da pulverização, condições meteorológicas, controle da calda de pulverização e, sobretudo, da classe de gotas indicadas. “Todas essas indicações estão determinadas nas bulas dos produtos e devem ser consideradas para elaboração do receituário agronômico, cujo cumprimento é mandatório segundo o disposto na legislação”, orienta Kagi.
Com informacões do jornalista Gustavo Paes.
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Vitivinicultores cobram a proibição de defensivo no Rio Grande do Sul
Segundo a entidade, produtores rurais da chamada Metade Sul do Estado estão enfrentando problemas devido à aplicação de um herbicida hormonal utilizado no preparo do solo em lavouras de soja, mas também empregado no controle de plantas daninhas nas culturas do milho, cana-de-açúcar, trigo, arroz e café.
Publicado em 06/01/2025 | 23:23:00
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“A continuidade do uso de herbicidas hormonais ameaça a diversidade agrícola e a saúde da população e compromete setores importantes da economia nacional, como a vitivinicultura, a fruticultura e outras culturas nas quais já se comprovam danos”, alerta Helio Marchioro, diretor executivo da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho) e conselheiro do Consevitis-RS.
A Carta destaca que, apesar de normativas e fiscalizações implantadas nos últimos anos, as perdas econômicas e ambientais continuam a crescer, especialmente nas regiões Central e Campanha do RS. O documento propõe 11 medidas urgentes, como a proibição do uso de herbicidas hormonais de agosto a março, aumento das penalizações e criação de um fundo de compensação para produtores afetados.
Também inclui pesquisas sobre alternativas viáveis ao uso desses produtos, responsabilização das empresas fabricantes em casos de aplicação indevida e a realização de audiências públicas periódicas e debates com Frentes Parlamentares para dar visibilidade ao problema. A mobilização inclui ainda a articulação para a tramitação do Projeto de Lei 2.569/2022, que visa regulamentar o uso de herbicidas hormonais no Brasil.
Tecnicamente chamado de ácido diclorofenoxiacético, o 2,4-D é um herbicida hormonal (que mimetiza alguns hormônios das plantas) desenvolvido na década de 1940.Esse químico se tornou mais conhecido durante a Guerra do Vietnã (1959-1975, com a participação dos Estados Unidos a partir de 1965), quando associado ao 2,4,5-T ou ácido 2,4,5-triclorofenoxiacético. Essa combinação era usada para produzir o famoso agente laranja, empregado pelo exército norte-americano para desfolhar as matas daquele país e facilitar a localização de soldados inimigos.
Seapi recebeu, em 2024, 108 denúncias de deriva, que atingiu a fruticultura, olivicultura, horticultura, pastagens e mato nativo
Segundo as entidades, o produto foi um dos 75 agroquímicos usados por um pecuarista que tem 11 fazendas no município de Barão de Melgaço, em Mato Grosso, acusado de desmatar parte do Pantanal para fazer pastagem para o gado.Em dezembro, no colapso da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que divide os estados de Tocantins e Maranhão um caminhão que transportava 9 toneladas de 2,4-D caiu no Rio Tocantins. A tragédia, que deixou 13 mortos e quatro desaparecidos, preocupou autoridades devido aos riscos ambientais e à saúde e prejudicou o trabalho de resgate do Corpo de Bombeiros dos corpos das vítimas.
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Farsul defende a manutenção do agroquímico
O diretor vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) Domingos Antônio Velho Lopes admite o momento de dificuldade envolvendo produtores de diferentes culturas que são seus associados, mas defende a manutenção do agroquímico no mercado, com a intensificação dos programas de boas práticas de aplicação envolvendo a Emater/RS-Ascar, Seapi, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a iniciativa privada. A
Condições climáticas e topográficas do Rio Grande do Sul podem agravar o risco de deslocamento do produto para áreas não-alvo
Além da coleta de amostras e realização de análises em laboratório que permitam uma ideia real da dimensão do problema que vem afetando a Metade Sul.“Estamos muito preocupados É uma situação sensível e delicada, pois envolve produtores que são associados da nossa entidade. Mas, desde que o problema surgiu e passou a ser acompanhado pelo Ministério Público do RS e pela Seapi, em 2018 e 2019, a Farsul vem tentando encontrar soluções dentro da legalidade”, observa Domingos Antônio Velho Lopes.
A visão da entidade é de que o problema da deriva é grave, mas pontual, nas regiões Central e na Campanha Gaúcha. “As denúncias – cerca de 100 – são mínimas dentro de um universo de 13 milhões de aplicações terrestres, aéreas e costais que são feitas a cada ano no Estado. É claro que, para aquele produtor que acaba atingido, é algo muito sério, gravíssimo”, avalia o dirigente, que também não acredita que os produtores estejam deixando de fazer as denúncias à Seapi e abandonando a atividade.
Lopes é contrário a proibição de qualquer princípio ativo e avalia que o 2,4-D é um produto de qualidade e absolutamente seguro. “O problema da deriva é a má aplicação por parte de alguns produtores”, observa. A Farsul e outras entidades alertam para os prejuízos econômicos que a proibição do uso de herbicidas hormonais traria para a soja, cultura de maior peso financeiro do RS - sem garantias técnicas de que há substituto à altura para o herbicida, capaz de manter a produtividade da oleaginosa. “Ainda temos problema de deriva, mas, aparentemente, já há uma diminuição”, minimiza.
Clima desafiador
O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), entidade sindical que representa a indústria de produtos para defesa vegetal no Brasil, reconhece a preocupação crescente com a deriva de herbicidas hormonais, especialmente no Rio Grande do Sul, onde as condições climáticas e topográficas podem agravar o risco de deslocamento do produto para áreas não-alvo.Fabio Kagi, gerente de assuntos regulatórios do Sindiveg, lembra que a indústria de defensivos agrícolas tem investido de forma contínua em tecnologias de aplicação mais eficientes e seguras, como bicos antideriva e formulações inovadoras que ajudam a minimizar esses riscos. Além disso, reforça que a entidade está comprometida com a promoção de práticas agrícolas responsáveis e sustentáveis, oferecendo treinamentos e orientações aos produtores e operadores. "No Rio Grande do Sul, o treinamento específico para aplicação de hormonais já é obrigatório”, observa.
O executivo assegura que uma eventual proibição do produto causaria um impacto significativo, uma vez que esse herbicida desempenha papel essencial no controle de plantas daninhas de folhas largas, particularmente nas culturas gramíneas. “Eventual necessidade de substituição geraria uma pressão adicional sobre os produtores, resultando em um aumento nos custos de produção e, em alguns cenários, uma possível redução na produtividade”, sustenta.
Segundo ele, o Sindiveg defende uma análise técnica minuciosa e equilibrada antes de se tomar qualquer decisão sobre a proibição do agroquímico.A entidade admite, no entanto, que a falta de treinamento adequado dos operadores e a falta de conscientização dos produtores podem ser fatores determinantes para os problemas de deriva e contaminação.
E ressalta a importância de haver conscientização sobre as técnicas de redução de deriva, como controle da altura da pulverização, condições meteorológicas, controle da calda de pulverização e, sobretudo, da classe de gotas indicadas. “Todas essas indicações estão determinadas nas bulas dos produtos e devem ser consideradas para elaboração do receituário agronômico, cujo cumprimento é mandatório segundo o disposto na legislação”, orienta Kagi.
Com informacões do jornalista Gustavo Paes.
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