Avanço das agfintechs, investimento coletivo e foco em sustentabilidade moldam o futuro das finanças no campo
A demanda por crédito no agronegócio brasileiro ultrapassou R$ 1 trilhão em 2024, segundo dados do Boletim de Finanças Privadas do Agro, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O volume expressivo revela a força do setor na economia e escancara um desafio persistente: o acesso ao capital continua concentrado em grandes produtores e nos canais tradicionais de financiamento.
Esse cenário, no entanto, começa a mudar com o fortalecimento de um novo ecossistema de soluções financeiras voltadas ao campo. Startups especializadas em tecnologia e serviços financeiros, conhecidas como agfintechs, estão oferecendo alternativas mais acessíveis e flexíveis de crédito, com destaque para os pequenos e médios produtores. Em paralelo, plataformas de investimento coletivo reguladas ganham espaço como instrumentos que conectam o campo diretamente a investidores interessados em ativos com impacto socioambiental.
De acordo com o Radar Agtech Brasil 2024, levantamento realizado em parceria com a Embrapa, o número de agfintechs no país chegou a 97 empresas neste ano, um crescimento de 14,1% em relação a 2023. Essas startups desenvolvem soluções como antecipação de recebíveis por meio de CPR digital, crédito direto entre pares (peer-to-peer), seguros baseados em dados climáticos e sistemas integrados de gestão de risco financeiro. O objetivo é ampliar o acesso ao crédito e tornar o financiamento rural mais moderno, seguro e eficiente.
O mercado de capitais também passa a ser uma alternativa concreta para produtores e empresas do setor. A regulamentação vigente permite ofertas públicas de até R$ 15 milhões via plataformas de investimento coletivo. Com isso, instrumentos como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Notas Comerciais lastreadas em recebíveis rurais e CPRs ganham espaço e se tornam mais acessíveis a um público que, até então, estava à margem do crédito estruturado.
Essa mudança acompanha uma transformação no perfil dos investidores. A busca por ativos com impacto positivo sobre o meio ambiente e a sociedade se fortalece. Projetos voltados à agricultura regenerativa, rastreabilidade de alimentos, descarbonização e preservação ambiental passam a ser vistos não apenas como sustentáveis, mas também como economicamente viáveis. O agro, nesse contexto, se consolida como uma alternativa para diversificação de carteira com retorno financeiro e propósito.
Nos próximos anos, estima-se que bilhões de reais sejam direcionados a soluções tecnológicas voltadas ao campo. Entre as tendências estão o uso de inteligência artificial, biológicos, monitoramento climático e plataformas digitais de crédito e seguro rural. Com ampla base produtiva e biodiversidade, o Brasil tem potencial para liderar essa transformação global.
A combinação de alta demanda por crédito, soluções tecnológicas escaláveis e um novo perfil de investidor faz do agronegócio brasileiro um dos setores mais promissores para quem busca unir inovação, retorno e impacto socioambiental.