Apesar da ameaça de recessão global e oscilações nos preços, o mercado de café se estabilizou com a postergação das tarifas americanas, mas os riscos seguem elevados
O mercado de café experimentou grande volatilidade entre março e abril de 2025, impactado por temores de uma recessão global e pelo anúncio das tarifas americanas. No entanto, a postergação das tarifas por 90 dias trouxe alívio aos preços, que voltaram a se recuperar rapidamente. O arábica, por exemplo, fechou em USD 3,76/lb em 16 de abril, com uma leve variação de -0,8% em relação a 1º de março, conforme indicam os dados do relatório Agro Mensal, divulgado pela Consultoria Agro do Itaú BBA.
A perspectiva de recessão global foi um fator negativo para o mercado de café, com os fundos reduzindo suas posições compradas em 12 mil contratos no início de abril. No mercado de robusta, em Londres, os preços subiram 0,6% nos últimos 45 dias, também com forte volatilidade. No entanto, o preço do conilon no Brasil caiu 14,7%, o que representou uma queda de quase R$ 500 por saca, embora os preços tenham se estabilizado recentemente, conforme relatado pela Consultoria Agro do Itaú BBA.
A colheita do conilon no Brasil tem avançado rapidamente e com boas perspectivas de crescimento, o que também influenciou os preços domésticos. A exportação de café em março foi de 3,3 milhões de sacas, uma queda de 25% em comparação a março de 2024. Apesar disso, as exportações ainda foram bastante significativas, considerando a safra 2024/25 estimada pelo USDA em 66,4 milhões de sacas. Esse número sugere que a safra brasileira foi maior do que a estimativa americana, a menos que as exportações no último trimestre da safra (abril a junho) caiam significativamente, o que é improvável.
O mercado de café, após a postergação das tarifas, voltou a focar nos fundamentos de oferta e demanda. No entanto, o cenário macroeconômico global continua repleto de incertezas, principalmente em relação às políticas do governo americano. O balanço global para o café em 2025/26, embora mais apertado que o ciclo atual, depende de um crescimento de consumo de 1%. Caso o consumo sofra uma redução de 2%, o superávit de 3,1 milhões de sacas pode se transformar em um excedente de 8,1 milhões de sacas, o que traria uma pressão negativa sobre os preços, segundo o relatório da Consultoria Agro do Itaú BBA.
O impacto climático também tem sido relevante. A volta das chuvas na segunda quinzena de março ajudou a melhorar as condições das lavouras, mas pode ter ocorrido algum impacto irreversível nas plantações de café arábica devido à falta de chuvas durante a granação. Por outro lado, a safra de conilon apresenta perspectivas positivas, com expectativa de aumento de 12% na produção. A produção de arábica deverá cair 10%, somando 40,9 milhões de sacas.
A previsão de chuvas para os meses de maio, junho e julho pode trazer desafios para a colheita, mas, se confirmadas, evitarão os efeitos de uma seca prolongada, como a do ano anterior, criando condições melhores para a próxima florada. No entanto, o inverno no Hemisfério Sul e o fim do prazo de 90 dias para reintrodução das tarifas americanas exigem cautela nos próximos meses.