Produção de SAF ainda é pequena, mas Brasil tem potencial para se tornar líder global com metas que entram em vigor a partir de 2027
O combustível sustentável de aviação (SAF) desponta como solução imediata para reduzir emissões de gases do efeito estufa no setor aéreo. No entanto, a indústria mundial ainda está em estágio inicial. Em 2024, a produção global atingiu apenas 1,9 bilhão de litros, o que correspondeu a 0,5% do consumo de querosene de aviação.
As informações fazem parte do Radar Agro, relatório produzido pela Consultoria Agro do Itaú BBA, que analisa o potencial brasileiro na produção de SAF.
No país, a Lei Combustível do Futuro instituiu metas obrigatórias de redução de emissões, que começam a valer em 2027. Nesse mesmo ano terá início a fase obrigatória do programa internacional CORSIA, que padroniza a compensação de carbono para aviação. Esses marcos colocam o Brasil no centro da transição energética do setor nos próximos dois anos.
Atualmente, os projetos brasileiros priorizam a rota HEFA, que usa óleos e gorduras como insumos. Já estão em estudo plantas que utilizarão a rota AtJ, com etanol como matéria-prima. Outras tecnologias, como Fischer-Tropsch (a partir de biogás) e Power-to-Liquid (baseada em hidrogênio verde), ainda enfrentam custos elevados, mas podem ganhar espaço no futuro.
Estudos indicam que, em 2037, a demanda nacional de SAF pode variar entre 2,8 e 5,5 bilhões de litros, somando voos domésticos e internacionais. Para atingir a meta de 10% de redução de emissões em voos internos, seriam necessários de 0,6 a 1,7 bilhão de litros, dependendo da matéria-prima utilizada.
O país já é um grande produtor de matérias-primas de baixa pegada de carbono, como óleo de soja, etanol de cana, sebo e óleo de cozinha usado. Esse diferencial pode garantir competitividade global, já que companhias aéreas tendem a concentrar consumo em locais com melhor custo-benefício entre preço e redução de emissões.
Apesar do potencial, a produção de SAF no Brasil ainda não começou em escala. Projetos-piloto estão em andamento, mas especialistas alertam que incentivos fiscais e subsídios serão essenciais para viabilizar a indústria. Além disso, a adequação da legislação nacional às metodologias internacionais será determinante para que novas matérias-primas brasileiras sejam reconhecidas oficialmente.
A expectativa é que, no longo prazo, o mercado ganhe escala e reduza custos. O compromisso internacional da aviação é alcançar emissões líquidas zero até 2050. Nesse cenário, o Brasil poderá exercer papel central, fornecendo combustível sustentável para atender tanto à demanda interna quanto internacional.