As queimadas são um dos maiores desafios ambientais da atualidade, causando danos profundos ao meio ambiente, à qualidade do ar e à sustentabilidade do agronegócio. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Brasil registrou 159.411 focos de incêndio desde o início de 2024. Embora o INPE monitore a qualidade do ar há mais de duas décadas, pesquisadores afirmam que o governo federal não solicitou essas análises durante a atual crise de queimadas, levantando questões sobre a gestão da crise ambiental.
O agronegócio brasileiro, fundamental para a economia e responsável por grande parte das exportações, depende de recursos naturais, como a terra e o clima, para manter sua produtividade. No entanto, as queimadas, que são utilizadas para expandir áreas agrícolas ou renovar pastagens, têm consequências severas. A degradação do solo, a perda de biodiversidade e a deterioração da qualidade do ar estão entre os efeitos mais alarmantes. Ao liberar grandes quantidades de gases tóxicos, como monóxido de carbono e dióxido de enxofre, esses incêndios agravam a poluição do ar, com impactos diretos sobre a saúde humana e o meio ambiente.
Dados do Ministério da Saúde indicam que entre 2019 e 2021, mais de 300 mil pessoas morreram de doenças respiratórias relacionadas à poluição do ar, exacerbadas pelas queimadas. O impacto vai além da saúde humana, afetando a própria produtividade agrícola. As mudanças climáticas provocadas pelas queimadas interferem no regime de chuvas, prejudicando culturas agrícolas cruciais, como soja, milho e café. A intensificação de eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, resulta em um ciclo vicioso, onde as queimadas destroem o ambiente e pioram as condições necessárias para o agronegócio prosperar.
Para enfrentar essa crise, o agronegócio deve adotar práticas mais sustentáveis. Soluções como o manejo sustentável do solo, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o monitoramento das queimadas podem mitigar os danos. Políticas públicas como o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa na agricultura, são essenciais. Esse plano foi criado como parte dos compromissos internacionais do Brasil para combater as mudanças climáticas, e deve ser reforçado para incluir práticas de adaptação climática.
A transição para um modelo agrícola mais sustentável é urgente. A preservação da qualidade do ar e dos ecossistemas que sustentam a produção agrícola é vital para o futuro do Brasil. É necessário um esforço conjunto entre o setor privado, o governo e a sociedade civil para promover práticas agrícolas que protejam o meio ambiente, sem comprometer o desenvolvimento econômico.
A saúde pública, a prosperidade do agronegócio e a estabilidade ambiental estão interligadas. Apenas com ações coordenadas poderemos proteger o ar que respiramos e garantir um futuro mais sustentável.
*Paula Braz, administradora, especialista em Agronegócios, tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional Uninter.