Obviamente, a tarifa de 50% imposta pelo governo Trump aos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos traz perdas
Um estudo preliminar da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap) estimou em US$ 735 milhões o valor em risco para as exportações do estado. Mas não é o fim do mundo. Um novo levantamento da entidade, baseado nos fluxos comerciais do primeiro semestre de 2025, mostra que o Paraná já vinha redesenhando seus mapas de comércio. Só para a China, as vendas somaram US$ 3,5 bilhões, cinco vezes mais que tudo o que se destina ao mercado americano.
Essa guinada de rota não é mero acaso, mas tendência em consolidação.
A China já responde por quase metade das exportações paranaenses, puxada por soja (US$ 2,9 bilhões), carnes e miudezas comestíveis (US$ 313 milhões) e pastas químicas de madeira (US$ 91 milhões). A Argentina, por sua vez, mantém protagonismo com US$ 878 milhões, especialmente no setor automotivo, com importações de automóveis (US$ 234 milhões), tratores (US$ 76 milhões) e autopeças (US$ 70 milhões). A Colômbia desponta como novo destino para veículos e componentes, a Índia movimenta US$ 252 milhões em óleo de soja, e a Argélia surge como porta de entrada do continente africano, com US$ 134 milhões em açúcares.
Nem tudo, porém, é motivo para celebração. O setor madeireiro, base econômica dos Campos Gerais, continua frágil diante das tarifas americanas. Fora as pastas químicas exportadas à China, sua presença em mercados emergentes é quase nula. É o calcanhar de Aquiles que expõe a urgência de uma estratégia de diversificação.
A Faciap propõe uma agenda escalonada. No curto prazo, inserir produtos madeireiros na China e explorar nichos asiáticos. No médio, reforçar parcerias automotivas com Argentina e Colômbia e expandir gradualmente pela América Latina. No longo prazo, consolidar presença na Ásia, com Índia, Indonésia e vizinhos de alta demanda, reduzindo riscos e multiplicando fontes de receita.
Para que a travessia seja bem-sucedida, não basta apenas o dinamismo das empresas. O estudo também recomenda ação do Estado: crédito facilitado para expansão internacional, missões comerciais a mercados emergentes e programas de capacitação para adequar produtos às exigências locais. Porque qualidade não é tudo — é preciso oferecer o que cada mercado deseja.
No balanço final, as tarifas impostas pelos Estados Unidos representam um obstáculo importante, mas não intransponível. O Paraná já prova que encontra saídas, diversifica rotas e transforma barreiras em oportunidades de expansão.