Planeta enfrenta recordes de calor, seca e inundações às vésperas da COP30; cientistas alertam para crise climática
O mês de março de 2025 foi o segundo mais quente já registrado no planeta, conforme dados do serviço europeu Copernicus (C3S), que monitora as mudanças climáticas globais. A temperatura média da superfície do ar foi de 14,06°C — 0,65°C acima da média do período entre 1991 e 2020 e 1,60°C acima dos níveis pré-industriais.
Esse é o 20º mês, entre os últimos 21, em que a temperatura global ultrapassa 1,5°C em relação à era pré-industrial — limite estabelecido pelo Acordo de Paris para conter os impactos mais severos da crise climática. A sequência reforça o avanço contínuo do aquecimento global.
Europa registra março mais quente já observado
Na Europa, março foi o mais quente da história, com temperatura média 2,41°C acima da média histórica. O leste do continente e o sudoeste da Rússia foram as regiões mais atingidas pelo calor. Já a Península Ibérica destoou, com temperaturas abaixo da média.
De acordo com dados da Climatempo, a distribuição das chuvas também apresentou contrastes. Enquanto o sul da Europa — como Portugal e Espanha — enfrentou tempestades e inundações, regiões como o Reino Unido, Irlanda e o centro do continente registraram o março mais seco em quase cinco décadas.
Calor atinge diversas partes do mundo
Fora da Europa, o calor acima da média também foi registrado nos Estados Unidos, México, partes da Ásia e Austrália. Áreas do Ártico, como o arquipélago canadense e a Baía de Baffin, também enfrentaram temperaturas anormalmente elevadas.
As poucas exceções com temperaturas abaixo da média incluíram o norte do Canadá, a Baía de Hudson e o extremo leste da Rússia, como a Península de Kamchatka.
A média da temperatura dos oceanos entre as latitudes de 60°S e 60°N foi de 20,96°C em março de 2025, a segunda mais alta já registrada para o mês. O aquecimento persistente das águas, especialmente no Mar Mediterrâneo e no Atlântico Norte, tem impacto direto sobre a perda de gelo marinho.
No Ártico, a extensão do gelo ficou 6% abaixo da média — o menor valor para março desde o início das medições por satélite, em 1979. Na Antártida, a situação é ainda mais crítica: a cobertura de gelo ficou 24% abaixo da média histórica, com retrações significativas em quase todos os setores oceânicos.
Extremos de seca e enchentes
O mês de março também foi marcado por contrastes extremos na distribuição de chuvas. Nos Estados Unidos e no Canadá, prevaleceu a seca. Ásia central, sudeste da Austrália e partes da América do Sul também registraram precipitação abaixo da média.
Em contrapartida, o leste do Canadá, o oeste dos Estados Unidos, a África Austral e o nordeste da Austrália enfrentaram chuvas excessivas. O mesmo foi observado no Oriente Médio e em áreas da Rússia, evidenciando o desequilíbrio climático em escala global.
A sequência de eventos extremos reforça os alertas da comunidade científica. “É imprescindível que líderes dos setores público e privado incorporem o enfrentamento da crise climática como eixo central de suas estratégias de desenvolvimento e tomada de decisão”, destaca Patricia Madeira, CEO da Climatempo.
Esse cenário acontece às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará. A escolha da cidade brasileira como sede do evento representa uma chance histórica para o país assumir papel de liderança na agenda climática, colocando a justiça climática e a preservação dos biomas tropicais no centro das negociações globais.