Safra de soja avança para a reta final no Brasil, mas desafios logísticos limitam ganhos
Produtores enfrentam baixa rentabilidade, problemas de armazenagem e mercado pouco aquecido

Mesmo com boa colheita em vários estados, logística e preços limitam os ganhos dos produtores de soja. Foto: Canva

A colheita da safra de soja 2024/25 está praticamente encerrada em todo o país, com destaque para estados como Mato Grosso, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul, mas o cenário geral ainda impõe obstáculos significativos aos produtores. De acordo com análise da TF Agroeconômica, mesmo com bons volumes colhidos em diversas regiões, os desafios relacionados à logística, armazenagem e comercialização impedem uma rentabilidade mais expressiva nesta reta final de ciclo.
No Rio Grande do Sul, 98% da área cultivada já foi colhida, mas a irregularidade das chuvas durante o desenvolvimento da safra reduziu a produtividade média para 1.957 kg/ha — queda de 38,43% em relação à projeção inicial. O tempo seco em abril favoreceu o avanço das operações, porém causou debulha natural e perdas em campo. Além disso, o orvalho intenso nas manhãs de maio atrasou os trabalhos e elevou o risco de grãos deteriorados. A baixa produtividade também dificultou o acesso ao Proagro, comprometendo a compensação das perdas.
Em Santa Catarina, a colheita foi concluída, mas o mercado segue travado. A retração nos prêmios de exportação e a queda nas cotações internacionais contribuíram para a baixa liquidez, mesmo com os grãos já disponíveis. Os preços oscilaram entre R$ 125,00 e R$ 130,00 por saca no interior, com cotações chegando a R$ 132,49 no porto de São Francisco.
No Paraná, a safra está colhida, e os produtores agora enfrentam o desafio da armazenagem. A colheita cheia evidenciou a necessidade de modernizar os sistemas de estocagem nas propriedades e cooperativas. A comercialização segue lenta, com preços variando de R$ 114,24 a R$ 132,52 nos principais municípios e portos do estado.
Em Mato Grosso do Sul, o ciclo também foi encerrado. Apesar do bom volume colhido, a lucratividade média ficou abaixo de 8% devido ao estresse hídrico e às temperaturas elevadas. A alta nos fretes — pressionada pela concorrência com o milho — encarece o escoamento e limita as margens.
No Mato Grosso, estado líder na produção de soja, a colheita recorde trouxe um novo desafio: a falta de espaço para armazenar os grãos. A capacidade instalada suporta apenas metade da safra, obrigando muitos produtores a vender rapidamente para liberar espaço. A comercialização segue lenta, impactada por preços instáveis e fretes elevados, com destaque para os R$ 330/tonelada no trecho Sorriso-Santos (cerca de R$ 18,60/saca).
Na região do MATOPIBA, a colheita avançava para a reta final em meados de maio, após atrasos causados por chuvas intensas no início do ano. Para mitigar os efeitos logísticos, produtores adotaram soluções como silos-bolsa. A normalização dos trabalhos ajudou a consolidar o volume nacional, mas o mercado ainda opera com cautela.
Por fim, em Goiás, a safra foi positiva, com produtividade acima da média nacional. A industrialização do óleo de soja ganha força como estratégia para reduzir a dependência das exportações. Ainda assim, a logística permanece como um ponto de atenção, apesar de investimentos como o terminal ferroviário da Rumo, que deve movimentar até 8 milhões de toneladas por ano em Rio Verde.
De maneira geral, mesmo com uma safra robusta, o setor segue pressionado por fatores climáticos, estruturais e econômicos — o que reforça a importância de estratégias integradas de produção, armazenagem e comercialização.
