A cada dia a divulgação de novos números endereça que, de fato, a quebra da safra de soja 2023/24 será significativa, sobretudo no Brasil Central. O fenômeno climático El Niño, que registrou forte intensidade neste ciclo, provocou altas temperaturas e períodos de seca, prejudicando o potencial produtivo das lavouras da oleaginosa.
Em Mato Grosso, por exemplo, o Instituto Mato‐grossense de Economia Agropecuária (Imea) revisou para baixo a projeção de produtividade para 53,99 sacas por hectare, queda de 7,42% no comparativo mensal e 13,99% em relação ao ciclo passado. Segundo o instituto, com o ajuste no rendimento, a produção aguardada para o estado ficou estimada em 39,00 milhões de toneladas, redução de 13,93% em relação à temporada anterior. "A produtividade da soja no Mato Grosso é a pior em 15 anos", destaca relatório da EarthDaily Agro, empresa de sensoriamento remoto com uso de imagens de satélites.
De acordo com a empresa, os quatro principais estados produtores de soja têm previsão de quebra de safra em razão da estiagem. Ao observar a tendência dos últimos 15 anos, a Earth projeta redução na produtividade da soja no Mato Grosso, em Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. A empresa estima a safra brasileira de soja em 149,2 milhões de toneladas.
“No Mato Grosso, o índice de vegetação (NDVI), que possui alta correlação com a produtividade, apresenta evolução muito ruim. Após dois anos de resultado acima da tendência, o NDVI traz uma curva mais acentuada e desfavorável do que nas temporadas de 2015/16 e 2012/13, quando houve quebra de safra”, explica Felippe Reis, analista de safra da Earth. “A produtividade em Mato Grosso está estimada em 15% abaixo da tendência, cerca de 52,12 sacas por hectare. O pior resultado foi em 2016, quando ficou 13% abaixo.”
Ao comentar o mais recente relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), que projetou para o Brasil uma produção de 157 milhões de toneladas de soja, Pedro Schicchi, analista de Grãos e Óleos Vegetais da hEDGEpoint Global Markets, diz que o corte, de 4 milhões de toneladas, embora grande, ainda ficou acima da média das estimativas privadas, que giram em torno de 150 e 155 milhões de toneladas.
“O número da safra de janeiro da hEDGEpoint é de 153,4 milhões de toneladas, contra 160,1 milhões do início de dezembro. Por trás desse declínio está um dezembro quente e seco, como já é de conhecimento do mercado. Ainda assim, há nuances que precisam ser discutidas”, enfatiza Schicchi, que acrescenta: "com relação ao desenvolvimento, estamos bem no ‘olho do furacão’. A maior parte das áreas está passando pelos estágios reprodutivos da soja, os mais críticos para a produtividade."
O analista da hEDGepoint salienta, ainda, que as condições climáticas em dezembro não foram as melhores. "As temperaturas foram bastante altas durante o mês e a precipitação, em média, ficou abaixo do necessário. Mais calor significa mais evaporação, o que acentua a questão da falta de água, que certamente afetou as safras este ano. Ainda assim, na segunda metade do mês houve melhora, uma tendência que parece continuar em janeiro. A temperatura nessas duas primeiras semanas tem sido muito mais amena e, portanto, benéfica para as culturas. Além das temperaturas mais baixas, a precipitação também melhorou.”
No entanto, Schicchi pondera que para muitas áreas, essa melhora pode não trazer maiores produtividades, pois os danos sofridos já eram irreversíveis quando o clima começou a melhorar. "Contudo, para muitas outras áreas, ainda há tempo, e as melhores condições podem impedir que a produção nacional continue em queda."