Guerra comercial entre EUA e China poderá elevar prêmios de exportação no Brasil
Segundo análise da TF Agroeconômica, acirramento das disputas comerciais levará China a se abastecer no Brasil, como já fez em 2017 e isto poderá elevar os prêmios de exportação

Na quinta-feira (13/03), perto do fechamento do mercado, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA) ratificou sua estimativa de 49,60 milhões de toneladas para a colheita de soja argentina

Segundo análise do mercado de soja do boletim diário da TF Consultoria, diversos fatores tornam a tendência de preços da soja incerta, neste momento, mas há sinais de uma possível elevação dos prêmios nos portos brasileiros. "Um dos principais fatores a serem observados daqui para a frente será a relação EUA-China, em sua guerra comercial, porque, se ela se intensificar (como parece) a China não terá alternativa para se abastecer a não ser o Brasil, como já fez em 2017 e isto poderá elevar os prêmios de exportação, para compensar e até superar as quedas em Chicago", afirma o analista da TF Agroeconômica.
O boletim traz uma análise de diversos fatores altistas e baixistas que estão influenciando os preços do soja neste momento em Chicago e no Brasil. Um deles é a valorização do real frente ao dólar registrada na sexta-feira (14/03) no fechamento do pregão, em torno de 1,15%, reduziu o incentivo de venda para os produtores e também reduziu a competitividade das exportações brasileiras, que estavam a todo vapor durante a safra.
Esta valorização é um fator altista para CBOT, mas baixista para o Brasil, afirma Luiz Fernando Pacheco, da TF Agroeconômica. Ele ressalta outro fator altista na Bolsa de Chicago, que é a redução da safra argentina. "Embora os preços da soja estivessem perdendo terreno na última parte da sexta-feira, a queda no preço do farelo de soja jogou contra a melhora nos preços da soja", salienta.
Na quinta-feira (13/03), perto do fechamento do mercado, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA) ratificou sua estimativa de 49,60 milhões de toneladas para a colheita de soja argentina, em contraste com o ajuste de 47,50 para 46,50 milhões de toneladas projetado na quarta-feira à noite pela Bolsa de Valores de Rosario (BCR).
Luiz Fernando ressalta que esses dados divulgados pela empresa sediada em Rosário foram significativos na tendência de alta dos preços da soja e do farelo em Chicago. Em seus relatórios diários de hoje, o USDA confirmou uma nova venda de 20.000 toneladas de óleo de soja dos EUA para 2024/2025 para destinos desconhecidos, o que é um fator de alta na CBOT.
Entre os fatores baixistas, o boletim diário da TF Agroeconômica destaca o clima de incerteza geral devido à possibilidade de a economia dos EUA entrar em recessão e à guerra comercial 2.0, desencadeada pelo governo Trump afetando a demanda, que fez os investidores agiram com muita cautela, tanto no mercado de soja quanto no restante dos produtos agrícolas;
Outro fator baixista são as tarifas chinesas sobre os EUA e o Canadá: Como parte da resposta da China às tarifas de 20% impostas pela Casa Branca sobre as importações daquele país, as tarifas chinesas sobre vários produtos dos EUA entraram em vigor na segunda-feira, incluindo a soja, que agora tem uma sobretaxa de 10%.
Luiz Fernando Pacheco salienta que, embora este não seja o período mais movimentado do ano para o comércio, a medida é apenas um ponto de partida e pode piorar as relações comerciais sefor prolongada.
"Por outro lado, o governo de Xi Jinping também confirmou que, a partir de 20 de março, imporá tarifas de até 100% sobre vários produtos do Canadá, incluindo óleo e farelo de canola, em retaliação aos impostos que o país impôs em agosto passado sobre veículos elétricos, aço e alumínio da China", destaca Luiz Fernando.
Essa notícia, que atingiu os preços da canolaem Winnipeg, pode levar ao aumento do fluxo de óleo de canola canadense para os Estados Unidos, país que é o principal importador desse produto, do qual o Canadá é o maior produtor e exportador, dependendo do que acontecer em termos de tarifas entre esses vizinhos norte-americanos.
A agilidade na colheita do Brasil também está pesando negativamente nos preços em Chicago. Em seu relatório semanal desta sexta-feira, a consultoria Pátria Agronegócios informou que o avanço da colheita de soja no Brasil está em 66,03% da área plantada, à frente dos 61,87% registrados no mesmo período em 2024; de 62,88% em 2023 e 65,55% em média.
Especificamente em Mato Grosso, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária informou — também na sexta-feira — que a colheita de soja atingiu 97,33% da área apta, ante 95,60% no mesmo período do ano passado e a média de 93,18% dos últimos cinco anos. No início de março, o órgão aumentou o volume da safra estadual de 47,16 para 49,62 milhões de toneladas.
Na quinta-feira (13/03), em seu relatório mensal de estimativas agrícolas, a Conab elevou sua avaliação da produção brasileira de soja de 166,01 para 167,37 milhões de toneladas; de 105,49 para 105,75 milhões a estimativa para exportação de grão, e de 22 para 23,60 milhões a previsão para venda de farelo. Na terça-feira, o USDA projetou essas variáveis em 169, 105,50 e 22 milhões de toneladas, respectivamente.
A vendas brasileiras se tornam agressivas nos últimos dias, pois com a maior disponibilidade de novos grãos, em sua revisão semanal das estimativas de exportação brasileira, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais do Brasil (ANEC) elevou sua previsão de embarques de soja para março de 14,80 para 15,45 milhões de toneladas, acima dos 9,59 milhões embarcados em fevereiro e dos 13,55 milhões negociados no terceiro mês de 2024.
Em relação ao farelo, a entidade aumentou os embarques de 2,05 para 2,38 milhões de toneladas em março, ante 1,47 milhão em fevereiro e 1,80 milhão em março de 2024.
Neste momento, os preços da soja estão recuando no Brasil. Diante da colheita substancial desta temporada, estimada pelas consultorias particulares ao redor de 170 milhões de toneladas, pela Conab em 167.369,5 mil toneladas, em seu relatório de março, 0,82% a mais que as 166.013,8 mil toneladas estimadas em fevereiro e 169 MT estimadas pelo USDA.
As quebras ocorridas no sul do país estão sendo parcialmente compensadas pelo aumento da produtividade nos estados do Centro-Oeste do país. Mas, Trump poderá ser o fator altista para o Brasil.
Os Fundos de Pensão voltaram a apostar na alta da soja: Dados do Compromisso dos Traders indicaram que Fundos de Investimento reduziram suas posições líquidas de vendas em futuros e opções de soja em 19.943 contratos (2,71 milhões de toneladas) até terça-feira. Isso os levou a uma posição líquida vendida de 15.544 contratos (2,11 MT).
Segundo Luiz Fernando, outro ponto de observação é a geopolítica internacional, que poderá intensificar os conflitos mundiais (OTAN-Rússia, Irã-EUA, Israel-Hamas), além do próprio comportamento do clima nos EUA, a partir de maio, quando iniciarem o plantio.
