A importação de tilápias do Vietnã, autorizada pelo governo federal em outubro e efetivada em dezembro do ano passado, tem gerado preocupação na cadeia nacional da pesca. Um dos motivos é o fato de o peixe asiático ter desembarcado no Brasil a um preço inferior ao custo de produção local, em uma prática comercial conhecida por dumping. Este tipo de negócio é caracterizado pela prática preços abaixo de valor ajustado para outra economia nacional ou regional, com a finalidade de eliminar a concorrência comercial interna e dominar o mercado.O valor chegou à metade do custo de produção no Brasil, onde o quilo da tilápia é vendido entre R$ 9,80 e R$ 10. ao consumidor. Para competir com fornecedor do Vietnã, o setor teria que reduzir o preço para R$ 5 em clara ameaça ao funcionamento da cadeia.
A Faep encaminhou ofício ao ministro da Pesca e Aquicultura, André Alves de Paula, repudiando a importação do pescado vietnamita, argumentando que a produção nacional atende à demanda interna e há excedente para exportação. Em 2023, por exemplo, o país exportou mais de 2,1 mil toneladas do peixe para diversos países, aumento de 96% em relação a 2022, gerando dividendos na ordem de US$ 14,1 milhões.
Críticas
No dia 30 de janeiro, os ministros da Pesca e Aquicultura, André de Paula, e da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reuniram-se com representantes do setor brasileiro de pescado para discutir o tema. Na ocasião, Fávaro afirmou que a equipe técnica da defesa agropecuária do Mapa iria revisar o protocolo de importação de tilápia do Vietnã com objetivo de reavaliar a autorização. Também seriam reforçados os controles de importação para impedir que casos como esse voltem a se repetir.
Além da questão comercial, existe também receio em relação à qualidade e à sanidade do pescado vietnamita. “Ninguém sabe como a tilápia é produzida lá. Se obedece aos preceitos ambientais e/ou sanitários corretamente. Outra coisa é a qualidade. Nós temos uma preocupação enorme com a qualidade, com o sabor. Algo que essa cadeia levou anos para aperfeiçoar”, destaca Zabott.O receio, segundo o dirigente sindical, é que o consumidor não consiga diferenciar a tilápia vietnamita da brasileira e, diante de um produto de qualidade inferior, acabe desistindo de consumir pescado. “A qualidade é a principal característica do nosso produto, tanto que abrimos mercados nos Estados Unidos, Japão e países da Europa”, argumenta.
Uma das consequências, no curto prazo, pode ser a desarticulação da cadeia produtiva, que vem crescendo exponencialmente, com os elos produtivos estruturados, desde a produção de alevinos até a de insumos e equipamentos, passando pelas estruturas destinadas ao abate. “Essa é uma cadeia nova, entre 18 e 20 anos, ainda está em fase de estruturação e crescimento. Todos os investimentos, seja na indústria ou dentro da porteira, ainda não foram quitados. Se formos invadidos pela tilápia estrangeira vai haver muito desemprego e endividamento no campo”, projeta Zabott.
Se os prognósticos se concretizarem, o volume de peixes cultivados no Paraná saltará de 188 mil toneladas em 2022 para 376 mil toneladas até 2027. Hoje, o Estado produz mais de um terço dos peixes de cultivo criados no país. A região Oeste responde por 70% da produção estadual, principalmente nos municípios de Nova Aurora, Toledo e Palotina – os três maiores produtores do país.