Qualidade da carne, boas práticas agropecuárias e sustentabilidade produtiva e ambiental das fazendas. Estes são os três grandes desafios da cadeia produtiva da carne bovina brasileira em 2021. As exportações da proteína fecharam o primeiro trimestre do ano com bons resultados. Foram embarcadas 384 mil toneladas, que renderam quase US$ 1,8 bilhão. Números próximos aos obtidos no mesmo período do ano passado. Em 2020, o País embarcou por volta de dois milhões de toneladas. Mais da metade para China e Hong Kong. E faturou US$ 8,5 bilhões. “As exportações em 2021 podem ser semelhantes ao ano passado, porém o volume talvez não seja tão expressivo. Vai depender bastante do tamanho da venda para a China, em razão de uma esperada distensão nas relações comerciais entre aquele país e os Estados Unidos. E dos reflexos que ainda são sentidos na produção das granjas chinesas por causa da Peste Suína Africana (PSA)”, analisa Sérgio Ribas Moreira, Diretor do Serviço Brasileiro de Certificações (SBC), empresa líder no protocolo do Sistema Brasileiro de Identificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov), que atua com 40% do mercado brasileiro de propriedades certificadas, incluindo grandes projetos pecuários e renomadas empresas do setor. Já o mercado europeu, um dos mais exigentes do planeta, que vinha comprando aproximadamente 120 mil toneladas, esfriou suas aquisições desde o início da pandemia. Nos primeiros três meses de 2021, importou a quantia de aproximadamente 20 mil toneladas. “O problema do mercado europeu é que ele está obstruído momentaneamente pelo lockdown na maioria dos países desse bloco, mas, quando o food service voltar à normalidade, provavelmente uma boa demanda por nossa carne voltará a aparecer. E o Brasil terá condições de atender na plenitude”, aponta Sérgio Ribas, reforçando a importância de mostrar ao pecuarista o prêmio direto oferecido pelo mercado europeu e os benefícios para a gestão do negócio. “Quem sair do Sisbov, vai demorar pelo menos seis meses para poder retornar. E vai perder muitas oportunidades. É mais prudente aguardar a retomada”, alerta.
E o Sisbov vive um novo momento exatamente agora, com a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) assumindo novas ações na gestão do Sistema, que é considerado o maior banco de identificação individual de bovinos do mundo. Valorizando os negócios em toda a cadeia e ganhando mais confiança dos consumidores nacionais e do exterior. “Participamos ativamente dessa nova e importante etapa do processo de informações do sistema porque acreditamos no Sisbov. E vamos aproveitar a boa demanda que normalmente ocorre agora neste semestre, durante o primeiro giro dos confinamentos, para atender os nossos clientes, conseguir novas adesões e ajudar a cadeia a profissionalizar cada vez mais a atividade no sentido de garantir produção de valor, com origem e sempre buscando a abertura de novos mercados”, reforça Sérgio Ribas.
Pois é justamente a preocupação com a qualidade da produção, dos rebanhos e do meio ambiente que está norteando os desafios do SBC em 2021. A empresa prepara o lançamento da certificação do Bem-Estar Animal, depois de se tornar a primeira certificadora brasileira a integrar o ‘Welfare Quality Network’, grupo composto por professores e pesquisadores de universidades e institutos de pesquisa da Europa que criou uma metodologia de avaliação de BEA nos sistemas de produção comercial, focada na observação dos animais e nos sinais que eles apresentam de conforto ou estresse. O SBC espera conseguir realizar o treinamento dos auditores nos próximos meses. E também vai reforçar as ações na área de inventários de rebanhos e estudar um mergulho profundo no selo envolvendo o mercado de baixo carbono na Pecuária. “Acredito bastante nessas certificações, elas vão abrir muitas portas, inclusive no mercado interno. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com esses temas. A certificação desse novo selo de bem-estar está na dependência de alguns trâmites envolvendo viagens ao exterior, o que deve ocorrer assim que a situação da pandemia melhorar. Quanto ao carbono, a Embrapa está em processo final do protocolo ‘Carne Baixo Carbono (CBC)’ para dar seguimento à certificação de terceira parte. O mundo está de olho na pegada de carbono”, reflete o Diretor do SBC Certificações.
De volta ao front interno, Sérgio acredita que 2021 ainda vai ter os altos e baixos de uma pecuária que passa pela escassez na oferta de animais terminados e a valorização crescente da cria. “A oferta de animais para a indústria no Brasil vai permanecer baixa. Houve forte abate de fêmeas e vacas nos últimos anos. O mercado é reflexo da oferta de bovinos aos frigoríficos. Está certo que diminuiu o consumo de carne bovina por habitante no Brasil, mas, por outro lado, as vendas externas aumentaram. Um dos motivos pelo qual a produção total de carne bovina teve uma vazão. Enquanto isso, outros parâmetros ganham destaque, como controles sanitários na produção, melhorias na qualidade da carne, origem e rastreabilidade do alimento e avaliação de fornecedores de fazendas, entre outros. O SBC trabalha nesse sentido, sempre com o objetivo de atender os clientes da cadeia e ajudar o consumidor brasileiro e estrangeiro”, conclui o executivo do Serviço Brasileiro de Certificações.