O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), conforme dados divulgados em maio, apontou recuo de 0,8% em abril, na comparação com março de 2022, quando o indicador havia atingido um incômodo recorde histórico. Entretanto, cabe alertar que, mesmo com a queda, os valores ficaram quase 30% mais altos do que os registrados em abril de 2021. Ou seja, ainda há riscos para a segurança alimentar, principalmente para os contingentes mais vulneráveis da população do planeta.
Nesse cenário, o aumento da produção e da oferta é decisivo para conter a escalada dos preços globais, provocada pela crise da Covid-19 e suas consequências, como retenção de estoques em alguns países e dificuldades logísticas. Os problemas agravaram-se com a invasão da Rússia à Ucrânia, pois os preços de insumos químicos indispensáveis à agricultura aumentaram demasiadamente. Mais do que nunca, os pressupostos da lei da oferta e da procura têm se mostrado atuantes.
Obviamente, o Brasil tem posição estratégica como produtor e fornecedor mundial de alimentos. Nesse sentido, é promissor o resultado da oitava estimativa da safra de grãos 2021/22 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os números indicam que a produção deverá atingir 270,2 milhões de toneladas, o que representa 5,7% ou 14,65 milhões de toneladas a mais do que na temporada anterior. Será um novo recorde, mas é preciso ficar atento, pois os números estão abaixo da primeira estimativa.
Em nosso país, além dos impactos dos problemas mundiais enfrentados pela agropecuária, houve fenômenos climáticos adversos em 2021, como chuvas, frio excessivo, geadas, secas e enchentes, que prejudicaram bastante o rendimento das lavouras. Este ano, com a escalada dos juros, surge o problema adicional do crédito, pois muitos produtores não conseguem os recursos das linhas subvencionadas. Por isso, há necessidade de se redimensionarem os recursos direcionados à subvenção para o crédito ao setor no Plano Safra 2022/2023, que começa a vigorar em 1º de julho. Não houve uma revisão das verbas de modo congruente com o grande aumento da Selic desde o início de 2021, bem como do custo de produção, que eleva a demanda por recursos para investimentos, comercialização e custeio das atividades.
Com a taxa Selic já em 12,75% ao ano, os produtores precisarão, como nunca, de linhas especiais de financiamento para manter o patamar da produção. Ninguém conseguirá bancar os juros livres de mercado, em especial porque os spreads bancários estão muito elevados, inclusive por conta dos riscos da conjuntura atual. É premente ampliar o máximo possível o alcance do setor rural aos recursos oficiais do Plano Safra.
Outra prioridade é a renegociação de prazos de reembolso do crédito nas regiões onde a produção agropecuária sofreu o impacto da seca e outras adversidades climáticas. Há, ainda, o risco de oferta e pressão sobre os preços de adubos minerais, devido à invasão da Rússia à Ucrânia, dois importantes fornecedores do insumo, e os adubos têm peso significativo no custo da produção agrícola.
Todas essas questões demonstram não haver, neste momento, como os produtores arcarem com juros elevados, que conspiram contra a necessidade de se mitigarem as ameaças à segurança alimentar. Como se observa no Índice da FAO, é prioritário ampliar a produção mundial de alimentos para propiciar equilíbrio aos mercados e estabilidade aos preços. A agropecuária brasileira é estratégica nesse processo, mas precisa de apoio neste momento de dificuldades.