Audiência no Senado debate impactos da investigação comercial dos EUA sobre o agronegócio brasileiro
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) participou, na quarta-feira (24), de audiência pública no Senado. O encontro ocorreu na Comissão Temporária Externa para Interlocução sobre as Relações Econômicas Bilaterais com os Estados Unidos (CTEUA).
A comissão discutiu os desdobramentos da investigação conduzida pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR). A medida se baseia na Seção 301 da Lei de Comércio norte-americana e afeta o Brasil. A audiência foi solicitada pela relatora da comissão, senadora Tereza Cristina (PP-MS), e reuniu economistas, diplomatas, consultores e representantes do governo, da indústria e da agricultura.
Durante a sessão, a diretora-adjunta de Relações Internacionais da CNA, Fernanda Maciel, destacou a importância dos Estados Unidos para o agronegócio brasileiro. Segundo ela, o país é o terceiro maior destino das exportações do setor e absorveu 7,4% de tudo o que o Brasil vendeu ao exterior, totalizando US$ 12 bilhões em 2024.
Além disso, cerca de 30% do comércio bilateral envolvem produtos agropecuários. Entre os principais itens exportados estão celulose, suco de laranja, carne bovina in natura e açúcar de cana. Fernanda ressaltou ainda que setores como carne bovina industrializada, café verde, etanol e suco de laranja estão entre os mais sensíveis às medidas norte-americanas.
“Produtos de menor volume, mas altamente dependentes do mercado norte-americano, como mel, manga e pescados, também podem sofrer impactos significativos”, disse. Ela observou que os efeitos da nova ordem executiva dos EUA, publicada em setembro, já atingem o setor.
Entre janeiro e julho de 2025, as exportações brasileiras alcançaram US$ 8 bilhões, superando os volumes dos últimos três anos. Contudo, após a entrada em vigor das tarifas em agosto, o desempenho caiu para níveis inferiores à média do período anterior. O açúcar registrou queda de 60% e os óleos vegetais, 25%.
Fernanda explicou que muitos importadores precisaram renegociar contratos ou reduzir margens de lucro para manter compromissos. Ao mesmo tempo, setores como a carne bovina buscaram diversificar mercados, especialmente no Chile e no Oriente Médio.
Ela também reforçou a posição da CNA no processo da Seção 301. O objetivo é defender a competitividade do agro brasileiro com base em recursos naturais, inovação e conformidade regulatória. “É fundamental garantir tratamento comercial justo com os Estados Unidos. O Brasil tem mostrado que é um parceiro confiável, cumpre regras internacionais e oferece produtos de qualidade. O setor agropecuário brasileiro não busca privilégios, mas condições de concorrência equilibradas”, disse.
Além da CNA, participaram da audiência economistas, diplomatas, consultores e representantes dos ministérios da Agricultura, Relações Exteriores e Desenvolvimento, Indústria e Comércio, assim como da CNI.