A população mundial continuará crescendo por, no mínimo, mais 40 anos; já a renda per capita vai continuar aumentando por longo tempo. Os dois fatores, atuando de forma conjugada, são os principais responsáveis pelo incremento na demanda de alimentos no mundo. De outra parte, a oferta depende, primordialmente, da disponibilidade de área adicional, que já é restrita; e da produtividade, que depende de inovações tecnológicas e de sua adoção, mas ambos os fatores serão negativamente afetados pelas mudanças climáticas em curso.
Parte da responsabilidade pelas perdas situa-se nos elos iniciais da cadeia, envolvendo produção, armazenamento, transporte e processamento dos produtos agrícolas. O valor estimado para perdas nessa etapa é de 15%. Entre 2000 e 2020, a produção global dos cinco principais grãos (arroz, trigo, milho, soja e cevada) cresceu 50%, sendo o Brasil o principal responsável, com um incremento de 109% na produção, de acordo com a Conab. Como o referencial de perdas é um valor percentual, conforme aumenta a produção agrícola, as perdas crescem na mesma proporção.
Técnicos da Conab debruçaram-se sobre o tema da perda de grãos na etapa inicial das cadeias dos cinco principais grãos, obtendo os resultados apresentados a seguir.
Perdas globais
Em termos de conteúdo calórico, as perdas de grãos atingem 1.600 trilhões de kcal, o que permitiria atender a demanda energética de 120% da população mundial afetada por deficiência nutricional, de acordo com a estimativa da FAO.
Perdas no Brasil
Outro cálculo efetuado pelos técnicos da Conab foi a conversão do valor das perdas (R$84,8 bilhões) em cestas básicas, o que permitiria adquirir 134,8 milhões delas. Sendo essas dimensionadas para suprir a necessidade de um trabalhador adulto, durante 30 dias, seria possível alimentar 11,2 milhões de pessoas por ano, ou quase 60% dos brasileiros que enfrentaram a fome no ano de 2020, conforme estimativas do Governo Federal.
Os números acima convidam para uma reflexão de produtores, agrônomos, lideranças setoriais, formuladores de políticas públicas, autoridades governamentais, e de todos os brasileiros. O foco deve ser a redução da maior quantidade possível de perdas de alimentos, no menor prazo de tempo possível, para fazer frente à demanda de alimentos do mundo, de forma cada vez mais sustentável.