Garantia do abastecimento de fertilizantes no curto prazo passa pela ampliação do leque de fornecedores internacionais
Incremento da produção nacional, com base nas premissas do novo Plano Nacional de Fertilizantes, não é para agora, e sim no médio e longo prazo, afirmam especialistas
A garantia do abastecimento de fertilizantes no mercado interno passa, neste momento, pela ampliação do leque de fornecedores internacionais, já que o incremento da produção nacional de adubos, com base nas premissas do novo Plano Nacional de Fertilizantes, não é para agora, e sim no médio e longo prazo.
O Brasil é altamente dependente da importação de matérias-primas para fabricação de fertilizantes, sobretudo dos três principais ingredientes: potássio, fósforo e nitrogênio. Gargalos logísticos decorrentes da pandemia já vinham prejudicando o mercado global de adubos, acarretando em oferta limitada e consequentemente preços mais altos. A guerra no Leste Europeu, naturalmente, agravou a situação, por conta de bloqueios marítimos locais e de sanções econômicas a dois grandes fornecedores mundiais, localizados na região: Rússia e Belarus.
Há risco de que não haja volume de fertilizantes disponível para o próximo ciclo de grãos na comparação com o ofertado nas temporadas passadas. Além disso, a conjuntura é altista para os preços, o que deve acarretar em pressão inflacionária, já que o aumento do custo de produção agrícola acaba, inevitavelmente, refletindo nos preços dos alimentos no atacado e varejo.
Este foi o cenário apresentado nesta segunda-feira (21), durante reunião do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que contou com a participação do ex-ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do pesquisador da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro. O encontro, liderado pelo coordenador do Conselho, Cesário Ramalho, também contou com a presença do deputado federal Arnaldo Jardim, membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Autor da obra, lançada em 2014, intitulada “Fertilizantes – marco regulatório e diretrizes para uma política autossuficiente”, Stephanes disse que, além das inerentes questões geopolíticas, outro desafio do setor é que, em termos comerciais, há uma concentração no mercado mundial de fertilizantes, com poucas empresas multinacionais controlando produção, operação e negociações.
No que diz respeito ao estímulo à produção doméstica, o ex-ministro fez uma explanação na qual destacou que existem jazidas em território nacional, em particular de fósforo e potássio, mas que a exploração destas áreas envolve o endereçamento de questões ambientais e fundiárias. Em relação ao Plano Nacional de Fertilizantes, Stephanes acentuou que é preciso um órgão gestor para administrar o tema, caso contrário será difícil a entrega de resultados, conforme o estipulado. Outro ponto crucial, que precisa de uma resolução, é que o produto importado tem vantagens tributárias sobre o nacional, o que inibe investimentos.
Por sua vez, Polidoro, da Embrapa, mostrou isso em números ao apontar que o consumo brasileiro de fertilizantes cresceu 450% nos últimos 20 anos, enquanto que a produção nacional caiu 30% no mesmo período. Em sua fala, o pesquisador discorreu sobre a necessidade e ao mesmo tempo oportunidades que o momento traz para o desenvolvimento de novas tecnologias em fertilização, como bioinsumos, adubos organominerais, remineralizadores etc.. "Não resolve a questão, porque não seremos autossuficientes, mas a expansão destas alternativas pode ajudar, contribuir para diminuir nossa dependência das importações", afirmou.