No dia 4 de fevereiro do próximo ano, o conflito armado entre Ucrânia e Rússia completará dois anos. Em uma guerra que ganhou diversas facetas ao longo do tempo, a perspectiva para o próximo ano continua tão nebulosa quanto o real motivo pela perduração do confronto até os dias atuais.
Além dos países protagonistas, a guerra ganhou apoio e atenção de outros países, como Estados Unidos e França. Somados, Estados Unidos da América e União Europeia já desembolsaram mais de US$ 200 bilhões para financiar o aparato necessário para que a Ucrânia impedisse o avanço russo em seu território. O investimento, de acordo com Conrado Baggio, professor doutor do curso de Relações Internacionais da Universidade Cruzeiro do Sul, pode ser um dos fatores que expliquem o porquê de o conflito ainda existir.
“Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, eles tentaram alcançar uma vitória rápida, concentrando forças contra a Kiev, e esperando eliminar – ou pelo menos suprimir – a liderança ucraniana. A Rússia chegou a controlar mais de 20% do território ucraniano, mas Kiev não foi tomada e a liderança do presidente Zelensky se fortaleceu. Apesar disso, Moscou segue dominando várias regiões, como a Crimeia e o Donbass, que foram anexadas pelos russos”, explica o docente. “Em outras palavras, os dois lados não são fortes o suficiente para ganhar a guerra, mas também não estão fracos o suficiente para perdê-la”, complementa.
De acordo com Baggio, ainda não há indícios de que qualquer uma das partes esteja preparada para aceitar um cessar-fogo. Como em um jogo de tabuleiro, qualquer movimento diferente pode gerar grandes consequências para ambos os lados. “De um lado, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ainda tem que lidar com tropas russas ocupando várias regiões do leste e sul do país. Nesse momento, um acordo para interromper as hostilidades seria visto como uma disposição do governo ucraniano em aceitar um status em que milhões de ucranianos e diversos territórios do país seguem sob ocupação estrangeira. Do outro lado, o presidente Vladmir Putin comprometeu muitos recursos e vidas de soldados russos para consolidar sua posição atual”, destaca o docente.
Em uma perspectiva econômica, até o momento, a guerra prejudicou inúmeras nações que dependiam da distribuição de grãos dos dois países protagonistas do conflito. “O conflito entre ambas, especialmente em áreas próximas do Mar Negro – rota de exportação do produto – fez com que a oferta desses produtos diminuísse e os preços aumentassem por todo o mundo. Alguns países da África e Oriente Médio, como o Egito e Turquia, que importavam esses grãos das zonas de conflito, foram afetados de forma mais direta. Em 2022, a Rússia aceitou um acordo que permitiu o escoamento da produção de grãos da Ucrânia por um corredor humanitário, no entanto, o acordo terminou em julho deste ano, diminuindo novamente a oferta”, afirma Baggio.
Apesar de não ter ficado imune aos efeitos da guerra, o Brasil conseguiu tomar uma posição mais confortável no conflito. A posição brasileira de grande exportador de produtos agrícolas fez com que o país fosse capaz de assumir a demanda global por grãos, duplicando a exportação de trigo. Mesmo assim, a população ainda foi capaz de sentir o impacto, não só por conta da inflação que permitiu o aumento dos preços, mas pela elevação dos preços globais do petróleo.
A atual posição de manterem a guerra, segundo o professor, parece ser a melhor, tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia. Isso porque os ucranianos estão saindo de uma contraofensiva com sucesso limitado, mas que retomou diversos territórios do controle russo. Para os russos, um cessar-fogo nesse momento pode ser interpretado como um recuo de Putin, especialmente se o mandatário pretende manter a sua popularidade alta para as eleições presidenciais, em setembro de 2024. Portanto, o impasse desta guerra deve se manter ao longo do próximo ano.