La Niña pode afetar clima e safra no Brasil e no mundo
Fenômeno La Niña aumenta risco de seca no Sul e chuvas intensas no Norte e Sudeste do Brasil
La Niña pode provocar seca no Sul e chuvas intensas em outras regiões do Brasil. Foto: Canva
O último trimestre de 2025 apresenta risco crescente de formação do fenômeno La Niña, segundo o Relatório Trimestral de Perspectivas para Commodities da StoneX.
Carolina Jaramillo Giraldo, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, alerta que o fenômeno pode alterar padrões climáticos globais e impactar a produção agrícola. As anomalias de temperatura no Pacífico indicam resfriamento nas áreas centrais e leste, acompanhado de aquecimento no Pacífico oeste, configuração típica de La Niña.
Relatórios da OMM, IRI e NOAA indicam que o evento deve ser fraco, mas não se descarta retorno à neutralidade durante o verão do Hemisfério Sul.
O fenômeno tende a reduzir chuvas no sul da Europa, Ásia Central, leste da África, norte do México, sul do Brasil, Uruguai, sudoeste da Argentina e sul do Chile. Em contrapartida, regiões como Índia, norte da Ásia, América Central, Canadá, norte dos Estados Unidos e oeste da Colômbia devem registrar precipitação acima da média.
No Sudeste do Brasil e na Bolívia, os efeitos são mais fracos, enquanto o restante da América tende a apresentar condições próximas à normalidade.
Efeitos climáticos e riscos agrícolas no Brasil
No Brasil, o inverno de 2025 teve temperaturas abaixo da média, principalmente nas máximas. Para os próximos meses, os modelos indicam variações regionais. Em outubro, áreas do leste de Mato Grosso, oeste da Bahia e nordeste de Goiás podem registrar até 1 °C acima da média. Isso acelera a germinação da soja, mas aumenta o risco de déficit hídrico caso as chuvas atrasem.
Em novembro, a previsão é de temperaturas próximas da normalidade no Centro-Oeste, Cerrado e Sul, enquanto o Sudeste pode ter anomalias de até 1 °C, elevando a evapotranspiração em lavouras e cafezais.
Entre dezembro e janeiro, o Centro-Sul deve apresentar médias normais, favorecendo o enchimento de grãos, desde que haja boa distribuição de chuvas. No Nordeste e Norte, alguns pontos podem ter temperaturas mais altas, pressionando as lavouras.
Interações atmosféricas e impactos específicos
A interação entre La Niña e a Oscilação de Madden–Julian (MJO) pode intensificar os efeitos climáticos no Hemisfério Sul. Quando a MJO se posiciona sobre a Indonésia e o Pacífico ocidental, a Oscilação Antártica positiva desloca ventos para o sul, reduzindo frentes frias no Sul do Brasil. Isso aumenta a seca e o calor em regiões críticas para milho e soja de primeira safra.
Nos trópicos, a interação eleva a convecção no oeste do Pacífico, Indonésia, Sudeste Asiático e Filipinas, enquanto o Pacífico central e leste permanece mais seco. Esses padrões podem afetar culturas como soja, milho, café e cana-de-açúcar, além de elevar o risco de doenças fúngicas em áreas úmidas.
As previsões da OMM indicam chuvas acima da média no Sudeste Asiático, especialmente ao redor das Filipinas, com probabilidades de até 70%. O Pacífico central e extremo leste deve ter precipitação normal ou ligeiramente abaixo da média. No norte do Equador e regiões costeiras da América do Sul, há indicação de seca.
No Brasil, essas projeções reforçam a necessidade de monitoramento contínuo, já que o fenômeno pode alterar produtividade agrícola e pressionar economias locais.
