RS: Apesar das condições climáticas desfavoráveis, avança colheita da soja

Prejuízos serão maiores nas regiões Centro, Sul e Oeste do Estado, onde grandes extensões ainda não haviam sido colhidas

Na segunda semana de maio, as condições climáticas sobre o Rio Grande do Sul permaneceram desfavoráveis para as atividades de campo, especialmente a colheita. As fortes chuvas provocaram a morte de 154 pessoas e devastaram plantações de soja. O fato agrava a situação, pois as perdas aumentam diariamente com o adiamento da operação, provocando a abertura de vagens, a germinação de grãos ou seu comprometimento pela proliferação de fungos.

De acordo com o Informativo Conjuntural, divulgado na quinta-feira pela Emater/RS-Ascar, as precipitações foram menos recorrentes, o que permitiu pequenas janelas temporais para a realização da colheita da oleaginosa em grande parte do Estado, apesar dos altos teores de umidade no solo e nas plantas.
Lavouras de soja foram arrasadas pelas cheias
Lavouras de soja foram arrasadas pelas cheias

“Da soja colhida se observa redução drástica na qualidade dos grãos, em comparação ao produto obtido antes do excesso de chuvas”, destaca o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera, ao analisar que na safra 2023-2024 o Rio Grande do Sul cultivou 6,68 milhões de hectares, que é a maior área cultivada. “Na última análise feita pela Emater, se verifica que 85% das lavouras de soja estão colhidas, apresentando um avanço de sete pontos percentuais”, diz, ao ressaltar que parte dos municípios produtores de soja e dos agricultores optaram por colher, ainda que o grão esteja em condições não favoráveis e mesmo no período de calamidade.

A Emater/RS-Ascar estima que nos próximos dias o avanço da colheita da soja provavelmente será pouco significativo, já que muitas lavouras, dos 15% restantes, devem ser abandonadas em razão da inviabilidade econômica, ou seja, a colheita dessas áreas não cobre os custos da operação, o frete e os descontos aplicados no recebimento pelas cerealistas. Os prejuízos serão maiores nas regiões Centro, Sul e Oeste do Estado, onde grandes extensões ainda não haviam sido colhidas.

Diante dessas perdas significativas, os produtores estão acionando o seguro agrícola. Aqueles que não possuem cobertura para suas lavouras buscarão renegociar as dívidas com os cerealistas e com outros financiadores da safra, transferindo para os períodos futuros a quitação dos débitos. A estimativa de produtividade projetada inicialmente era de 3.329 quilos por hectare, mas deverá variar negativamente, dependendo dos resultados de lavouras a colher ou perdidas.

Regiões - Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, na Campanha, as chuvas foram diárias, exceto em 09/05, quando alguns produtores realizaram a colheita, mesmo em condições extremamente desfavoráveis de solo e umidade das plantas. Ainda restam pouco mais de 200 mil hectares para colher na região, equivalente a 61% da área cultivada. Esse índice é fortemente impactado pelo município de Dom Pedrito, onde apenas 31% dos 120 mil hectares plantados foram colhidos.

Em Caçapava do Sul, a colheita está mais avançada, chegando a 60%. Nos municípios de Bagé, Aceguá, Hulha Negra e Candiota, o levantamento realizado indicou perdas médias de 40%, mas há ampla variação entre lavouras; em algumas, a perda foi total. Além dos danos às lavouras, os produtores relatam grandes dificuldades logísticas, como caminhões atolados e a necessidade de transportar as cargas em graneleiros por vários quilômetros até pontos da estrada em melhores condições.

A presença de plantas invasoras, favorecidas pelas falhas de estande, está aumentando, e há azevém e aveia se desenvolvendo nas entrelinhas da cultura. Muitos produtores terão de realizar a dessecação dessas plantas para minimizar os problemas na operação das colhedoras. Há produtores que já haviam acionado o Proagro em razão da estiagem no verão e novamente estão comunicando o agravamento das perdas, mas, dessa vez, por causa das chuvas persistentes após a maturação das lavouras.

Na Fronteira Oeste, as janelas para colheita foram mais propícias, pois não choveu em alguns municípios, nos dias 06, 07 e 09/05. No entanto, ainda restam aproximadamente 290 mil hectares para colher, correspondendo a 38% do total cultivado. A alta incidência de replantes, em função do excesso de chuvas no período de semeadura, está gerando problemas significativos para os produtores, como perdas por germinação, debulha e avarias dos grãos nas plantas do primeiro plantio, que já estão maduras há várias semanas, bem como grãos verdes e imaturos na colheita de áreas replantadas.

Em Maçambará, a colheita atingiu 80%, e as perdas, na área restante, que corresponde a cerca de 12 mil hectares, estão estimadas em 60%. Há relatos de cargas rejeitadas por algumas cerealistas devido ao elevado índice de grãos germinados e avariados, o que representa um cenário crítico para os produtores, pois, além da perda da produção, precisam arcar com os custos de colheita e do frete. Em Manoel Viana, a colheita superou 90%. A área restante – estimada em 5 mil hectares – já apresenta perdas de 70%, e há possibilidade de aumento com o adiamento da colheita.

Na de Caxias do Sul, em apenas dois dias, houve tempo seco, permitindo a realização da colheita. A soja colhida, nesse período, apresenta baixa qualidade e alto percentual de grãos germinados, mofados e ardidos. Ainda restam 11% das lavouras para serem colhidas, contudo, muitas estão totalmente comprometidas, pois os grãos não possuem valor comercial. Apenas nos municípios fronteiriços com o estado de Santa Catarina, onde os volumes de chuva foram menores, há possibilidade de colheita, embora os grãos apresentem alta umidade e avarias, o que reduz o valor comercial.

Na de Erechim, 95% da área cultivada foi colhida; 5% restantes estão em fase de maturação e prontos para a colheita. Os produtores deverão concluir a operação nos próximos dias, mas a área remanescente deve apresentar produtividade reduzida devido ao excesso de chuvas e à incidência de doenças de final de ciclo. A produtividade média regional está estimada em aproximadamente 3,8 mil quilos por hectare. As áreas de soja são as mais afetadas pelas perdas no solo, causadas pelas precipitações.

Na de Frederico Westphalen, apesar das dificuldades pelo excesso de umidade, algumas lavouras foram colhidas, mas a qualidade dos grãos está inferior à desejada. A colheita está praticamente concluída, alcançando 98%. Em função das chuvas, houve redução significativa na produtividade das áreas de cultivo de safrinha. A produtividade média final na região deve ficar em torno de 3,6 mil quilos por hectare.

Na de Ijuí, o intervalo sem chuvas foi muito curto, o que provocou maior deterioração das lavouras não colhidas. Na região, contabilizam-se aproximadamente 97% colhidos. Observa-se a movimentação de máquinas realizando o arremate das áreas mais baixas e dos cantos onde as grandes colhedoras não conseguiram operar. Em Salto do Jacuí e arredores, a situação é mais crítica, pois restam mais de 5 mil hectares por colher, e as perdas já estão estimadas em até 80%.

Na de Passo Fundo, as chuvas impossibilitaram a colheita. Estão em fase de maturação 5% das lavouras, e 95% colhidos. A produtividade média permanece em aproximadamente 4 mil quilos por hectare.

Na de Pelotas, as atividades de colheita encontram-se paralisadas em praticamente toda a região. Em algumas localidades, não houve precipitações, permitindo que os produtores iniciassem a colheita em momentos propícios para uso das colhedoras, e quando as vagens apresentavam condições próximas às adequadas para a trilha e debulha.

Na região, 52% das lavouras foram colhidas, e 48% estão maduras. Os maiores índices de colheita estão em Canguçu, atingindo 76%, seguido por Piratini e Morro Redondo, com 70% das lavouras colhidas. Problemas significativos são observados em Santa Vitória do Palmar, onde apenas 6% foram colhidos, e em Jaguarão e Chuí, que apresentam respectivamente 15% e 16%. De maneira geral, as produtividades estão abaixo do esperado, podendo variar em razão dos efeitos do excesso de chuvas; as estimativas estão inferiores a ,8 mil quilos por hectare.

Na de Santa Maria, em 08 e 09/05, algumas lavouras foram colhidas. A qualidade dos grãos foi afetada, e já ocorre germinação nas vagens. A expectativa inicial de produtividade era de 3.269 quilos por hectare, porém, após o evento das enchentes, a estimativa passou para 2.665 quilos por hectare, representando redução de 18%. Uma vez encerrada a colheita nos próximos dias, poderá haver aumento desse índice de perdas.

Na de Santa Rosa, as perdas de produtividade foram mitigadas em decorrência da colheita de 95% das lavouras antes do período de chuvas. Atualmente, a proporção de área colhida aumentou para 97%. Em diversos municípios, a colheita atingiu 100%, favorecida pelas boas condições de trabalho entre os dias 06 e 08/05. Entretanto, observou-se deterioração dos grãos e redução da produtividade. As áreas restantes correspondem principalmente a terras baixas, as quais estão atualmente saturadas de água, dificultando o processo de colheita. A produtividade média atual na região sofreu redução de 2%, passando de3.322 quilos por hectare para 3.254 quilos por hectare.

Na de Soledade, o tempo firme, entre 05 e 08/05 possibilitou a retomada da colheita, que chegou a 81%. Contudo, mesmo em áreas de topografia mais plana, as colhedoras atolaram com regularidade, o que comprometeu a eficiência operacional. A qualidade dos grãos colhidos varia consideravelmente: segundo informações obtidas em unidades de armazenamento, a proporção de grãos ardidos situa-se entre 50% e 70%.

No Baixo Vale do Rio Pardo, estimava-se que 60% das áreas haviam sido colhidas e posteriormente às precipitações, 63%. Já no Alto da Serra do Botucaraí e no Centro Serra, a estimativa era de 92%, antes da ocorrência de chuvas, e 98% depois desse evento climático.
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