Danos mais significativos foram registrados nas culturas da soja, arroz e feijão segunda safra, diz Emater-RS/Ascar
O produtor Harrison Barcellos, de Glorinha, município da Região Metropolitana de Porto Alegre, nesta safra destinou 300 hectares para o cultivo de soja. Ele já tinha conseguido colher 160 hectares quando as intensas precipitações começaram a castigar o Rio Grande do Sul. “As chuvas começaram no dia 31 de abril e não pararam mais. A lavoura está toda debaixo de água. Em alguns trechos chega a ter dois metros de profundidade”, afirma o proprietário da Fazenda Barcellos. “Isso nunca tinha acontecido antes”, acrescenta o agricultor, que planta a oleaginosa há dez anos.
Barcellos olha para a lavoura tomada pela água e contabiliza os prejuízos e estima um prejuízo de R$ 1,2 milhão com a soja que deixará de colher. “Mas eu consegui colher quase a metade da área cultivada. Tem vizinho que colheram a produção e levaram para os silos e a água alagou”, observa.
Mas os problemas de Barcellos não se resumem somente a lavoura atingida pelas chuvas. Ele entregou a produção para a Bianchini, indústria de extração de óleos vegetais e produção de farelos a partir do processamento da soja. A unidade situa-se próxima aos bairros Mathias Velho e Harmonia, os mais atingidos pela tragédia em Canoas, município vizinho à capital gaúcha. Por lá, a água atingiu 1,8 metro de altura e danificou a estrutura que armazenava 100 mil toneladas da oleaginosa. “Estou tentando falar com eles, mas não consigo. Preciso vender a soja porque as contas estão chegando”, salienta.
As chuvas torrenciais da última semana foram altamente desfavoráveis para as atividades agropecuárias no Estado. Além de provocar mais de 100 mortes e afetar 447 municípios, o excesso de precipitação interrompeu os processos de colheita e causou inundações em vastas extensões de áreas cultiváveis em várias regiões.
Conforme a Emater-RS/Ascar, os danos mais significativos foram registrados nas culturas da soja, arroz e feijão 2ª safra, afetando severamente as lavouras maduras e comprometendo a qualidade dos grãos, devido ao prolongado encharcamento. A produção de hortigranjeiros também foi drasticamente atingida, pois há grande concentração de produtos na zona submersa.
O fenômeno ainda ocasionou danos significativos nas pastagens, a morte de milhares de animais, a interrupção da produção leiteira, entre outros problemas, que se prolongarão por tempo indeterminado em regiões severamente afetadas. Ademais, provocou transbordamento de açudes destinados à dessedentação animal e à criação de peixes.
Em lavouras com topografia declivosa, as chuvas extremas causaram erosão, formando sulcos particularmente em áreas com práticas inadequadas de manejo do solo e da água, segundo a Emater-RS/Ascar. Adicionalmente, houve danos em infraestruturas, incluindo a destruição de estradas, pontilhões e pontes, o que dificultará a logística de transporte da produção. Registraram-se também casos de inundação e destruição de estruturas de produção, como estufas de hortícolas, estábulos, salas de ordenha, silos e armazéns de grãos.
Soja - A soja, principal cultura do Estado, foi a mais atingida pela catástrofe climática. Antes do início das chuvas torrenciais. as produtividades obtidas na colheita de 76% das áreas eram consideradas satisfatórias, chegando a picos excelentes de 5,4 mil quilos por hectare, ou à produção mediana, próxima a 3 mil quilos por hectare.
No entanto, em razão do evento climático adverso, que impediu a realização da colheita em vários períodos, a perspectiva da operação para as áreas restantes (24%) mudou abruptamente, e as perdas de produção serão elevadas, podendo atingir até 100% das áreas remanescentes. Algumas infraestruturas de armazenagem de grãos também foram danificadas, o que pode afetar a produção colhida anteriormente.
A colheita foi suspensa, durante todos os dias, na maior parte do Estado. Porém, nas regiões Noroeste e Campanha, onde as precipitações iniciaram em 1º de maio, a operação pôde ser realizada entre os dias de 29 e 30 de abril, mas, de maneira precária, pois os grãos estavam excepcionalmente úmidos. A colheita foi retomada, lentamente, na Campanha a partir do dia 3 de maio, e ampliada nos dias seguintes. A área colhida totalizou 78% da cultivada.
A qualidade dos grãos retirados de lavouras maduras, que estavam sob chuva durante vários dias, está inapropriada, e muitas não serão colhidas pela inviabilidade econômica. O aspecto visual das lavouras destinadas à colheita não está adequado, pois o estágio ideal para a realização da colheita foi ultrapassado consideravelmente. A opção por colher nessas condições, mesmo diante de uma umidade elevada, acarreta descontos significativos, reduzindo a rentabilidade e não sendo suficiente para cobrir os custos de produção. Além disso, houve danos expressivos devido à perda de solo nas áreas de cultivo, ocasionada pela erosão provocada pelo excesso de chuvas durante o período.
Apesar das chuvas excessivas no início do ciclo, dos breves períodos de estiagem e dos desafios no controle da ferrugem-asiática, parte da safra, colhida antes das chuvas e das enchentes históricas no início de maio, está dentro da normalidade em função da obtenção de produtividades, conforme as projeções iniciais.
Porém, nos 22% de áreas restantes, as perdas serão significativas, variando de 20% a 100%, dependendo da localização geográfica. A estimativa de produtividade projetada inicialmente no Estado era 3.329 quilos por hectare, mas deverá variar negativamente, dependendo dos resultados de lavouras a colher ou perdidas. Na safra 2022/2023, a área cultivada no Estado com a oleaginosa está estimada em 6.681.716 hectares.