O setor é destaque no Paraná. A nível nacional, o Estado prevalece como potência da avicultura, batendo recordes ano a ano. Líder absoluto na produção, o Paraná responde por 34,5% dos abates – mais do que Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul, juntos. No mercado internacional, o Paraná também é imbatível, impulsionado pela ampliação das vendas à China e abertura de mercado em Israel. Porém, segundo a FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), apesar do sucesso da porteira para fora, mais uma vez os custos de produção fizeram com que os avicultores paranaenses fechassem o ano no vermelho. "Se alguém está ganhando dinheiro no setor avícola, não é o produtor", afirma o presidente da entidade, Ágide Meneghette.
As dificuldades de quem mantém os aviários chegam a impressionar, se colocadas em perspectivas com a pujança da atividade. Entre janeiro e outubro deste ano, a avicultura paranaense movimentou mais de US$ 3,2 bilhões só com as exportações, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria,
As exportações sobem, novos mercados internacionais se abrem e essa prosperidade não chega para o produtor, que acumula saldos negativos. O avicultor não está vendo esse dinheiro. Não estamos dizendo que a indústria é o vilão. Ela tem custos de estoque, armazenamento e beneficiamento. Mas é preciso ter transparência, para que se chegue a uma remuneração mais justa e que garanta a sustentabilidade da cadeia", afirma Fábio Mezzadri, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Mudança de perfilA tendência é de que essa dinâmica acentue uma mudança na configuração da avicultura estadual, o que já é visível no campo. Com os custos altos e margens apertadas, apenas médios e grandes avicultores devem seguir na atividade, que passam a garantir a rentabilidade a partir do aumento da escala. Também devem se sobressair produtores que se dediquem à avicultura em consórcio com outras atividades – como o cultivo de grãos –, o que permite diluir os custos.
“O que temos visto é a concentração da atividade na mão dos grandes, que conseguem ganhar em escala, que reduzem os custos, por sistemas de energia alternativa ou cultivo das próprias florestas, e que têm condições de acessar financiamentos em melhores condições. O pequeno já está apavorado. Não consegue pôr sistema fotovoltaico, está preso a financiamentos e a essa condição de baixa rentabilidade. A tendência é que a avicultura se torne uma atividade de grandes produtores”, avalia Mezzadri.
Elivelton Antônio Bosi é filho de avicultores e se dedica à atividade em duas propriedades em Chopinzinho Todas as decisões são tomadas em análises concretas. Não tem como aumentar escala ou gerir o negócio sem que se coloque tudo no papel. "Tem que pensar nos aviários como uma empresa. Mesmo que as margens sejam apertadas, com porcentagens pequenas, temos que garantir que essa evolução seja constante", afirma Elivelton.
Avicultor há 16 anos, Juarez Pompeu destaca um círculo vicioso. Com a defasagem na remuneração dos produtores ante a alta dos custos, os pequenos e/ou quem tem financiamento não conseguem reinvestir no negócio. Sem modernizar os aviários, os avicultores não atingem a eficiência exigida. “Sem os investimentos, as granjas não oferecem as condições que as aves necessitam. A conversão alimentar é menor. Aí, o produtor recebe menos. A indústria quer investimento constante, mas está impossível”, afirma.
Juarez Pompeu é avicultor há 16 anos e atualmente mantém dois aviários em Chopinzinho. Segundo ele, a avicultura não é uma commodity. "Ela se submete à integração. E as indústrias não estão observando as dificuldades dos avicultores. Os produtores que se dedicam só à avicultura dificilmente têm conseguido se manter na atividade. As margens são muito apertadas e os investimentos cobrados são muitos. No meu caso, eu planto soja. Estou colocando aqui e tirando dali. O investimento [na avicultura] está feito. Se eu sair, é pior", ressalta Juarez.
Para Santana, da CT de Avicultura, não é de hoje que o perfil da atividade vem se transformando. Ele explica que, com a exigência de mais tecnologia implantada nos aviários, modais cada vez maiores passaram a ser construídos para aumentar a capacidade de alojamento e diluir os custos – mas isso se aplica aos médios e grandes produtores. “Em um aviário pequeno, a implantação de tecnologia eleva muito o custo por ave, o que inviabiliza a produção. Chega num ponto que a reforma do aviário fica inviável. O produtor acaba apelando para a venda dos equipamentos e, eventualmente, se desliga da atividade”, aponta.