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Pesquisa da Embrapa mostra que tratamento térmico não altera sabor de açaí

Choque térmico é etapa importante para eliminar micro-organismos causadores de doenças

Pesquisa da Embrapa mostra que tratamento térmico não altera sabor de açaí

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19/02/2021 |

Pesquisa da Embrapa Amapá mostrou que a bebida de açaí (Euterpe oleracea Mart.) não sofre alterações no cheiro, textura e sabor se os frutos passarem por choque térmico de 80°C a 90°C. O choque é uma etapa essencial para inativação do Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, que pode estar presente em barbeiros contaminados.

O estudo científico ouviu os relatos de consumidores do açaí tradicional da Região Norte e desmistificou o temor de que o calor alteraria as propriedades do alimento. Esse preconceito é uma das principais causas da rejeição do produto por parte da população e de alguns batedores, cujos frutos foram submetidos a tratamento térmico.

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Participaram do ensaio sensorial 272 consumidores, homens e mulheres, que consomem açaí cotidianamente. A maioria dos entrevistados (95,5%) aprovou o produto tratado termicamente, justificando apreciar as qualidades do que consideram o bom açaí: grosso e com cor, aroma e sabor característicos. Eles também afirmaram que comprariam o produto usado no ensaio, açaí médio preparado em batedeiras após os frutos serem tratados termicamente.

Mergulho quente por dez segundos

O choque térmico nos frutos, ou branqueamento como é popularmente conhecido, elimina vários micro-organismos causadores de doenças, entre eles, o protozoário Trypanosoma cruzi, da doença de Chagas.

Pesquisa da Embrapa mostra que tratamento térmico não altera sabor de açaí

 “O batedor de açaí deve mergulhar os frutos higienizados em água aquecida em temperatura de 80 °C a 90 °C durante dez segundos. Em seguida, os frutos devem ser resfriados em outro tanque com água limpa em temperatura ambiente, por dois minutos. Com esse procedimento e as demais etapas das boas práticas, vários agentes causadores de doenças são eliminados”, destaca a pesquisadora da Embrapa Valeria Saldanha Bezerra.

Ela explica que a pesquisa procurou avaliar rumores de que esse tipo de sanitização causaria mudanças nas características originais do açaí, o que levava o consumidor a rejeitar o produto. Por isso, a pesquisa de análise sensorial envolveu os próprios consumidores de açaí tradicional para testar a hipótese. A análise sensorial envolve percepções por meio dos órgãos dos sentidos, no caso dessa pesquisa, foram enfatizados o olfato, o paladar e a visão.

Pesquisa da Embrapa mostra que tratamento térmico não altera sabor de açaí

Durante dois dias, voluntários, que consomem açaí pelo menos uma vez por semana, degustaram a bebida e, em seguida, preencheram uma ficha de avaliação com perguntas socioeconômicas, impressão geral do produto e a intenção de compra.

“Os consumidores tradicionais da bebida aceitaram o produto processado após choque térmico dos frutos, descrevendo-o com características positivas e expressando a efetiva intenção de compra do produto, contrapondo a alegação de algumas pessoas de que esse tipo de sanitização leva a alterações perceptíveis ao consumidor tradicional de açaí, causando um reflexo negativo na venda do produto”, concluiu a pesquisadora.

Choque térmico

Como resultado do doutorado da pesquisadora Valeria Bezerra, a Embrapa atualizou a recomendação do choque térmico nos frutos de açaí na temperatura de 80 °C a  90 °C. O procedimento do choque térmico é simples e prático. “Você deve fazer uma imersão dos frutos, previamente selecionados e sanitizados, numa água aquecida de 80 a 90 graus Celsius, que é muito quente para frutos de açaí, por isso mesmo devem ser imersos por apenas dez segundos. Se deixar mais tempo, a polpa do fruto pode “cozinhar”, pois é muito fina. Logo depois que retirar os frutos da água quente, fazer imersão em água fria para resfriar o fruto, para não correr o risco de perdas em relação ao pigmento roxo que é a antocianina, um corante antioxidante natural contido na polpa do açaí”, explica a pesquisadora.

Um detalhe fundamental é que a super proteção do choque térmico é uma das etapas, e não um procedimento isolado de garantia. As Boas Práticas de Fabricação de açaí começam desde a colheita, passando pelo transporte, armazenamento e comercialização. “Quando os frutos de açaí são entregues na batedeira, antes mesmo do choque térmico, devem passar pela mesa catadora na qual é feita a retirada de sujidades e insetos, entre eles o barbeiro inteiro ou partes dele, que pode estar contaminado com o protozoário causador da doença de Chagas, e contaminar o açaí batido e o consumidor”, esclarece Bezerra.

Ela ressalta ainda que o fruto de açaí contém apenas 15% a 20% de polpa, geralmente é nesta superfície do fruto que ficam os microrganismos que podem causar doenças, assim como fezes do barbeiro, por exemplo, que podem permanecer nos frutos mesmo após a etapa de catação e lavagens. “Então o tratamento térmico vai eliminar algo que possa ter ficado mesmo após as etapas de catação e higienização do fruto. É o único meio de inativar o protozoário que pode ainda estar presente nos frutos,” frisa.

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Editor RuralNews
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TAGS: #Açaí # Embrapa pesquisa
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