Respeito às orientações agronômicas, capacitação e educação, manutenção correta dos equipamentos e a boa convivência entre vizinhos são algumas das atitudes esperadas para evitar a deriva de agrotóxicos, que, entre outras culturas sensíveis, mata abelhas e prejudica a produção de mel no Paraná. O assunto foi discutido na primeira webinar Deriva de Agrotóxicos e Proteção de Abelhas que reuniu 160 pessoas nesta segunda-feira (7).
“A deriva não é problema novo, mas cresceu bastante em função do aumento na área cultivada de grãos e pela ampliação de culturas sensíveis, e o que vemos é que a convivência tem se mostrado um problema”, disse o diretor técnico da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Rubens Niederheitmann. “O problema não tem solução simples e exige da área técnica envolvida uma responsabilidade muito grande para melhorar os conhecimentos, qualificar os produtores e aplicadores e ter muita empatia”, afirmou. “Às vezes, o produtor pensa no seu negócio e esquece do vizinho, o vizinho é amigo, é parceiro e pode ter uma atividade, que, se não tiver cuidado, será prejudicada”.
Deriva é a denominação para o desvio das gotas durante a aplicação de produtos químicos, fazendo com que, pela força do vento, se espalhem em direções indesejáveis. Os reflexos mais sérios são observados nas cadeias da sericicultura, fruticultura, particularmente a uva, cultivos orgânicos e apicultura, em razão da coexistência no mesmo ambiente geográfico com culturas como cana-de-açúcar, soja e milho.
GEORREFENCIAMENTO – O presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, ponderou da necessidade de solução inteligente para o problema. Para ele, é preciso envolvimento de toda comunidade técnica, produtores, aplicadores e conselhos municipais, além de contar com o trabalho de georrefenciamento de propriedades. “Não adianta só multar depois que o prejuízo aconteceu. É preciso buscar o equilíbrio, a sustentabilidade e praticar esse conceito no Paraná”, aconselhou.
Segundo o diretor de Defesa Agropecuária da Adapar, Manoel Luiz de Azevedo, a apicultura está distribuída por praticamente todo o Paraná. A maioria dos produtores faz uso correto do agrotóxico. “O problema está em uma parte, seja na aplicação aérea ou terrestre e, principalmente, em relação aos cuidados que tem de ter com os produtores de culturas sensíveis e que estão próximos”, afirmou.
Ao expor as atividades desenvolvidas pela Adapar, o gerente de Sanidade Vegetal, Renato Rezende Young Blood, disse que há mobilização desde 1983, quando da edição da lei do agrotóxico. Desse período até 2009, o órgão recebia cópia em papel do receituário. Em 2010, com a criação do Sistema de Controle do Comércio e Uso de Agrotóxicos (Siagro), passou a ser eletrônico, melhorando a visualização do que acontecia no Estado.
A partir de 2019, a Adapar exige as coordenadas geográficas do uso dos agrotóxicos na receita agronômica. No ano passado, as coordenadas foram mapeadas. Agora, há um processo de cruzamento das informações do uso dos principais agrotóxicos relacionados com a mortalidade de abelhas com a localização delas no Estado. “É uma ferramenta fantástica, a gente ainda não consegue imaginar a quantidade de informação que isso vai gerar. É só o começo de um aprimoramento do processo de fiscalização e acompanhamento no uso de agrotóxicos”, disse.
Nesta semana, a entidade iniciou um curso de aperfeiçoamento em tecnologia da aplicação para aproximadamente 100 fiscais, com vistas a compreender melhor o equipamento, possibilitando ações pontuais e identificação de eventuais falhas. Há, ainda, ações de educação sanitária e conscientização em várias regiões do Estado. A Adapar também tem agilidade no atendimento de 100% das denúncias. “No caso da abelha, a orientação aos produtores é que a denúncia seja feita assim que houver suspeita de contaminação”, aconselhou.
ESTRATÉGIA – Também expositor na webinar, o diretor de Extensão Rural do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), Nelson Harger, reforçou a necessidade de estratégia para uma solução. “A gente está se organizando no Estado para uma ação integrada complementar entre as entidades privadas e públicas, envolvendo todos os segmentos no sentido de ter uma boa estratégia e avanços nas questões de combate à deriva”, disse.
Para ele, a primeira estratégia é a ação integrada com elaboração de plano estadual e plano municipal por atividade. “O Paraná caminha nessa direção tratando agora da apicultura e meliponicultura. Tratamos há pouco tempo o ambiente específico da sericicultura, estamos nos organizando para a viticultura e produção orgânica, e essa parece ser uma ótima iniciativa”, acentuou.
Harger destacou, ainda, a criação de curso específico em parceria com a iniciativa privada para inspeção de pulverizadores, destinado a agricultores de municípios prioritários. “Vamos falar a mesma linguagem dos agricultores”, afirmou. A previsão é que os cursos aconteçam nas propriedades onde as máquinas estão. “Para os agricultores que não quiserem participar, os que não quiserem fazer as mudanças, os que continuam a promover deriva, a fiscalização entra de forma efetiva, com punição severa”.
Também organizador do evento, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea) se fez presente com o coordenador da Câmara Especializada de Agronomia, Marcos Roberto Marcon. “Todos elogiam a forma como o Paraná administra a agropecuária, a forma como existe integração das entidades com os órgãos governamentais”, disse. “Isso faz com que possamos buscar solução desses problemas pontuais”.
Segundo o apicultor Joel Almeida Schmidt, um dos problemas mais recorrentes é a falta de respeito às orientações de bulas na preparação da calda. “O pessoal tem usado muita mistura, com dissecante e inseticida no mesmo momento, para aproveitar o trator e o diesel”, disse. Além disso, apontou a compra de produtos por meio da internet e não a partir de receituários agronômicos. “É lixo, é porcaria e está muito simples para encontrar”, afirmou.