Escrevo esse artigo na manhã do dia 31 de outubro, o primeiro dia após as mais disputadas eleições da história da política brasileira. Com pouco mais de 1,5%, o candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, venceu as eleições. O pesadelo da direita brasileira se tornou realidade. O atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, do PL, que que se elegeu com apoio maciço do agronegócio e manteve essa proximidade com o segmento durante todo o seu mandato, amargou o título de primeiro presidente da história do Brasil a não se reeleger no meu primeiro mandato.
Sem a mínima pretensão de tentar decifrar o que aconteceu, foco no tema principal desse artigo: e agora, agronegócio? Sem a menor possibilidade de contestação, o resultado das urnas foi reconhecido imediatamente pelas principais lideranças mundiais. O recém eleito presidente apressou-se para fazer um discurso conciliatório, buscando unir o país e superar as abismais diferenças ideológicas entre ambos os lados do eleitorado.
No fim, o agronegócio terá aceitar e conviver com o resultado, a mesma coisa que fez o Partido dos Trabalhadores fez em outubro de 2018, quando o então candidato do partido, Fernando Haddad, perdeu as eleições para o atual presidente, Jair Bolsonaro.
O resultado das eleições é uma ducha de água fria na direita, que hasteou ostensivamente a bandeira da família, do amor à pátria e do nacionalismo, valores nobres e essenciais mas que se perdem quando elevados ao nível do radicalismo que se viu durante o mandato de Bolsonaro. Os valores familiares, segundo a direita, não é inclusivo, ou seja, não aceita nada mais do que o tradicional e intocável conceito conservador heterossexual e religioso. Por mais harmônico que esse conceito possa parecer, não se alinha com a realidade que o mundo vive, com liberdade sexual e com novas gerações que buscam não se adaptar a fórmulas prontas oferecidas pela direita. As gerações X, Y e Z não compartilham da mesma visão de sociedade tradicional. Daí o reflexo dessa turma nas urnas, uma camada de eleitores que não se lembra dos escândalos de corrupção do passado de governos petistas, não concorda com os extremismos da Direta, e acabou pendendo contra o o discurso do atual mandatário do Palácio do Planalto.
A democracia, onde a maioria decide, passa agora sim por um grande teste. O agronegócio, que ostentou ostensivamente a bandeira pró-Bolsonaro, que fez campanha radical contra qualquer contestação dos valores defendidos pelo atual presidente, vai reagir como a esse resultado das urnas? As associações, federações, sindicatos e entidades que radicalizaram os seus discursos, ignorando que entre seus associados pudesse ter alguém que pensasse diferente, vão fazer o quê agora? A resposta é simples: terão que ter a humildade de fazer uma auto reflexão, assim como acontece com qualquer um de nós, quando nos deparamos com situações parecidas no nosso dia a dia. Quantas vezes tínhamos certeza de algo e acabamos nos deparando com a realidade que dizia o contrário? Quantas vezes tivemos que nos adaptar e procurar conviver com algo que não concordamos, mas que nos foi imposto pelas circunstâncias? E quantos amores e relacionamentos baseados na paixão e extremismo vivemos até o ponto de acabarem e descobrirmos que o próximo relacionamento, iniciado com paixão, mas sem aquele nível avassalador e sem o mesmo radicalismo é que nos faria mais plenos?
Mais do que nunca, a realidade nos mostra que o radicalismo só leva a extremos em que a "corda" se rompe e colapsa e o equilíbrio é a fórmula ideal, como prega a filosofia budista. Segundo a lenda, Buda meditou durante anos em busca da resposta da verdade universal e a busca acabou quando ouviu, no silêncio da sua concentração, vozes que vinham de um barco que passava em um rio próximo. No barco, um mestre músico ensinava a seu pupilo o segredo da afinação das cordas do instrumento musical: não pode ficar frouxo, mas não pode esticar muito, senão arrebenta.
Foram 12 anos de governo de esquerda e o país estava descambando para o precipício, com a corda esticada ao máximo, também embalados no radicalismo libertário da esquerda. Foi preciso que a esquerda levasse uma ducha fria, assim como acontece com a direita agora, em 2022, para se reavaliar. A eleição do presidente Jair Bolsonaro tirou o Brasil do precípio da esquerda, aliviou a pressão extrema na corda, e prometeu trazer equilíbrio ao país, tanto na gestão da economia quando no extremismo político vivido na época. O que vimos nesse período foi a inversão da situação, com o país pendendo agora violentamente e sem controle para a direita, também embalado pelo radicalismo, agora conservador.
Agora é a hora dos líderes empresariais, políticos, sindicais e de todas as entidades representativas terem a humildade de repensar o lema "Brasil acima de todos" do atual mandatário. O Brasil está acima de tudo e todos e é no bem do Brasil, da sociedade, na construção de um país que está predestinado a ser uma potência mundial é que devemos pensar. Momento difícil, porém, extremamente importante para todos os brasileiros. Lembrando que o melhor ministro da Agricultura que o Brasil já teve, Roberto Rodrigues, unanimidade em todos os setores nacionais e internacionais, respeitadíssimo pelas suas posições, foi revelado num governo petista...
O agronegócio, como principal segmento da economia brasileira, tem agora essa responsabilidade de mostrar maturidade e reavaliar seus valores e posicionamentos políticos radicais. Para o bem do Brasil.