Suporte econômico de milhares de pequenos produtores e suas famílias nas zonas tropicais do mundo, a banana hoje está ameaçada. Uma doença originada no sudeste asiático, que murcha o cultivo até matá-lo, está se disseminando por plantações de todo o mundo.
Trata-se de um tema de alto impacto para as populações vulneráveis: longe de ser uma questão técnica que deva atrair a atenção exclusiva dos especialistas em mercados agrícolas, representa um verdadeiro risco para os meios de vida de inúmeros agricultores familiares da América Latina e do Caribe. Na região, a banana é um dos poucos cultivos que proporciona receitas o ano todo para os moradores rurais.
Por isso, especialistas -entre eles Gert Kema e Chelly Hresko, dois dos cientistas que mais têm investigado o tema no mundo- recomendam como imprescindível uma ação coordenada de governos, setor privado e organismos de cooperação técnica pautada pela ciência para que a doença seja contida e a produção possa seguir adiante.
A cepa Tropical Race 4 (TR4) do fungo Fusarium é uma doença transmitida pelo solo e que resiste a fungicidas. Hoje não existe cura, e a única solução para frear sua propagação é queimar plantações inteiras de banana, que depois não podem ser cultivadas novamente, perdendo-se milhares de hectares de terras férteis.
Embora a TR4 não afete a saúde humana e não represente um risco para os que consomem a banana, pode destruir plantações inteiras de um cultivo do qual dependem as receitas de milhares de famílias rurais em 135 países do mundo, entre eles, muitos da América Latina e do Caribe.
É uma pandemia da qual não se fala, mas que pode ter um impacto devastador sobre o bem-estar das populações rurais, sobre os postos de trabalho e sobre a segurança alimentar mundial.
Uma experiência que a humanidade já viveu
Sob certos aspectos, o surgimento e a disseminação da TR4 representam a repetição de uma história que a humanidade viveu na primeira metade do Século XX, quando outra doença do fungo Fusarium — a chamada Race 1 — terminou com a espécie de banana Gros Michel, dominante até então.
A solução foi a expansão da variedade Cavendish, possuidora de uma resistência natural a essa doença. Assim, o cenário da produção mundial de banana mudou. Em pouco tempo ficou claro que a alternativa foi bem-sucedida, ao ponto que, nas últimas sete décadas, a banana Cavendish cresceu na forma de monoculturas. Hoje essa variedade constitui a metade da produção mundial e 95% das bananas exportadas.
Na América Latina e no Caribe, todas as bananas que os consumidores encontram, tanto em mercados locais como em grandes cadeias, é da espécie Cavendish, hoje em sério risco pela TR4, o que tem exposto a sua fragilidade. São muitas as razões pelas quais é importante garantir a sustentabilidade da produção de bananas.
A maior parte dos pequenos produtores destinam suas colheitas aos mercados locais ou ao autoconsumo, assim cumprindo um papel fundamental na alimentação da população. De fato, a banana é o quarto cultivo alimentar de maior produção no mundo (atrás do trigo, do arroz e do milho) e o quinto cultivo não processado mais consumido no planeta.
Nesse sentido, é notória a sua importância, sob o ponto de vista da segurança alimentar global, e alguns dados são reveladores: 90% da produção é consumida em países em desenvolvimento, onde representam até a quarta parte das calorias ingeridas diariamente por cerca de 400 milhões de pessoas.
A necessidade de agir
Embora tenha sido detectada pela primeira vez na Jordânia, no Oriente Médio, a doença TR4 se originou no sudeste asiático, de onde começou a se expandir para o oeste. A banana é cultivada nos cinco continentes, e a propagação foi rápida. Em pouco tempo chegou à Índia e ao Paquistão, e na África foi encontrada em Moçambique, sobre o Oceano Indico.
Com mais de 15 países afetados, os especialistas perceberam que, mais cedo ou mais tarde, a doença chegaria à América Latina e ao Caribe, onde países como o Brasil, o Equador, a Guatemala, a Colômbia e a Costa Rica são grandes produtores e recebem, da banana, uma contribuição essencial para suas economias. As nações da região se encontram no topo das listas de exportadores mundiais, e seus clientes mais importantes são os países industrializados.
A Colômbia foi o primeiro país em que a doença foi detectada no continente, em 2019. O Instituto Colombiano Agropecuário (ICA) tornou pública a suspeita de que havia cerca de 175 hectares afetados no norte do país. Por precaução, o cultivo foi erradicado do território em questão e, poucos depois, análises moleculares e genéticas realizadas nos Países Baixos, pela Universidade de Wageningen, confirmaram o diagnóstico. A Colômbia rapidamente declarou emergência nacional, e em toda a região soaram os alertas.
Embora não haja informações conclusivas, os especialistas entendem que a doença é transmitida pelas pessoas que trafegam de plantação em plantação, muitas vezes entre diversos países, e, sem que o saibam, levam roupas ou outros elementos contaminados. Hoje, a prioridade é gerar conhecimento científico e melhorar as capacidades entre os pequenos produtores, para que, pela higiene e outras medidas preventivas, contribuam para a contenção da doença.
Também é fundamental conscientizar sobre uma situação que poderia piorar, caso não seja prestada a devida atenção: os especialistas estimam que quase 20% das plantações de banana do mundo poderiam ser afetadas pela TR4 em 2040. É tempo de agir sem perder tempo, pois a fonte de receitas e a alimentação de centenas de milhares de pessoas estão em jogo.
Sobre o IICA
É o organismo internacional especializado em agricultura do Sistema Interamericano. Sua missão é estimular, promover e apoiar os esforços de seus 34 Estados-membros para alcançar o desenvolvimento agrícola e o bem-estar rural, por meio da cooperação técnica internacional de excelência.