Com o tema “Arrozeiros como Produtores Multissafras”, a Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, neste mês de fevereiro em Capão do Leão (RS), debateu os conceitos de diversificação das propriedades. Um dos chamarizes da programação do evento foi a questão relacionada à Integração Lavoura-Pecuária, defendida pelos organizadores enquanto sistema produtivo.
Conforme Armindo Barth Neto, gerente Técnico da SIA, Serviço de Inteligência em Agronegócios, o setor orizícola vem passando por dificuldades financeiras já à alguns anos. “O produtor tem se esmerado muito para adotar tecnologias para evoluir na questão produtiva, melhorar a eficiência. Mas os custos de produção aumentaram nos últimos anos, mesmo com o aumento em produtividade, os produtores tem visto as suas margens de lucro reduzirem drasticamente ao longo do tempo”, revela.
O especialista reforça que a soja tem trazido bons resultados na última década com estabilidade produtiva especialmente na Campanha. “As propriedades que têm a produção de arroz normalmente também tem a pecuária, e junto com a soja, montam um tripé bastante estável que pode garantir produção, produtividade e melhoria de receita”, destaca.
Barth Neto salienta que para trabalhar no sistema de Integração Lavoura-Pecuária, é importante que os produtores fiquem atentos para montar um negócio estável para que as culturas possam se auxiliar para produzir mais e ter um custo de produção reduzido e uma margem de lucro interessante. “Os produtores têm que ter um modelo de negócio definido. Quando a gente olha para a pecuária, esse modelo de negócio tem que ser bastante específico. Se vai trabalhar com ciclo completo ou com recria e terminação, ou com cria, pois a pecuária, das três culturas, é a que tem o ciclo produtivo mais longo e ela passa de uma estação para a outra. Por isso, na pecuária, a organização é fundamental e temos menos margem para fazer mudanças rápidas no modelo de negócio”, ressalta.
Outro ponto destacado pelo especialista é que deve ser feito um bom plano de uso do solo. Isso significa ter um bom plano de rotação de culturas também visando sempre a maior exploração, com o maior número de dias desta área em uso. “Um ponto de atenção para o arroz que ela muitas vezes está em produção em uma área, em preparo na outra e muitas vezes em pousio em outra e eu tenho 30% de uma área produzindo e o restante em preparação. Isso representa uma baixa eficiência. Com isso entra a soja e a pecuária para que eu tenha sempre o máximo de número de dias produzindo”, frisa. “É importante termos neste modelo a pecuária com um bom plano forrageiro para que não falte pasto ao longo do ano, pasto este com excelente qualidade de pastagem tanto no inverno quanto no verão, para que estes animais consigam desempenhar melhor”, complementa Barth Neto.
Muitas vezes, de acordo com o gerente técnico da SIA, a pecuária é a que menos tem investimentos. Quando colocada no mesmo nível de atenção das demais culturas ela tem um nível de desempenho semelhante a cultura de grãos. Para isso, Barth Neto lembra também que é fundamental ter um bom manejo das pastagens. “Quando tenho uma atenção bem dada à pecuária, conseguimos ter uma boa cobertura de solo e uma melhoria pelas raízes colocadas no solo pelo pastejo. Com isso as lavouras que vêm na sequência podem produzir mais. Arroz em média pode produzir até 20% mais e a soja 10% mais pelo simples fato de ter o pastejo antes das lavouras”, afirma.
Entre outros pontos, o especialista também explica que a gestão de pessoas deve ter atenção, “É fundamental que as equipes estejam bem alinhadas. Todas elas (pecuária e agricultura) devem entender que o melhor é que o negócio inteiro seja bem conduzido e gere mais dinheiro com o custo controlado, não somente colher mais soja, mais arroz ou mais carne. Na integração, não adianta ter a melhor técnica se as operações não acontecerem no momento certo, e isso passa por pessoas, que entendem e executam com excelência o que tem que ser feito, independente da cultura.”, frisa.
Finalizando, o gerente Técnico da SIA afirma que é preciso se gerar indicadores, desde os técnicos/zootécnicos até os financeiros para melhor controle e análise. “O que mais acontece é que até 90% dos recursos vai para uma ou duas culturas e a outra fica à margem. "Hoje temos uma seca muito grande com as culturas de grão sofrendo mais, a pecuária vem sofrendo também, porém temos mais alternativas (como a suplementação, liquidez e etc) e quando voltar a chover, tem capacidade de recuperar de certa maneira este prejuízo. Por isso precisamos direcionar bem estes recursos, usar tecnologias e dar atenção por igual a todas as culturas e avaliar bem como cada uma contribuiu para o resultado do negócio e fazer seus ajustes”, complementa.