Na safra 2018/2019 os produtores da região oeste do Paraná ficaram em alerta com o aumento na infestação de cigarrinha nas lavouras de milho e das doenças denominadas enfezamentos, cujo vetor é este inseto. A ocorrência deste combo cigarrinha + enfezamento tem acarretado aumento dos custos de produção em estados produtores com clima mais quente, como os do Centro-Oeste e Matopiba há algumas safras.
De acordo com a Embrapa, os enfezamentos podem reduzir em até 70% a produção de grãos de plantas de milho susceptíveis, podendo ser ainda maior quando da ocorrência de surtos epidêmicos. Além disso, o controle tanto do inseto vetor quanto da doença é difícil e exige engajamento regional.
Desta forma, esta nota técnica traz um compilado de recomendações da Embrapa Milho e Sorgo para manejo de risco dos enfezamentos e da cigarrinha do milho para que os produtores tenham conhecimento das estratégias que podem ser utilizadas regionalmente para controle.
É importante salientar que, de acordo com a Embrapa, nenhuma medida isoladamente é suficiente para controlar os enfezamentos e a virose da risca. Porém, a utilização simultânea pelos produtores de várias medidas de prevenção pode reduzir expressivamente o risco de danos causados por essas doenças.
Cigarrinha
A cigarrinha Dalbulus maidis é o inseto vetor das doenças causadas por moliculites (bactérias) chamadas de enfezamento pálido e enfezamento vermelho. A cigarrinha adquire os moliculites quando se alimenta de uma planta doente e, após um período de latência, transmite cada vez que se alimenta da seiva de plântulas sadias.
O período de latência é de 3 a 4 semanas e o habitat preferido da cigarrinha é o cartucho do milho. A cigarrinha pode sobreviver em outras gramíneas como braquiária e sorgo (por 3 semanas) e milheto (por 5 semanas), porém, seu único hospedeiro é o milho, onde ela se reproduz, utilizando as demais plantas para sobreviver apenas por um curto período.
A infecção com moliculites ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento das plântulas de milho, principalmente nos estádios V3 e V4. As cigarrinhas migram vindas de lavouras em fase de reprodução ou colheita. A multiplicação das moliculites na cigarrinha é favorecida por temperaturas acima de 25ºC. Além disso, temperatura média entre 27 °C e 32 °C causa encurtamento do ciclo da cigarrinha, favorecendo sua proliferação.
Figura 1: Cigarrinha D. maidis em plântula de milho. Fonte: Embrapa Milho e Sorgo – Foto: Elizabeth de Oliveira Sabato.
Doença
Além dos enfezamentos, a cigarrinha também é vetor da virose da risca, desta forma, pode ocorrer infecção simultânea com as três doenças, o que impossibilita a identificação segura a campo. Embora a infecção com molicutes ocorra nos estádios iniciais de desenvolvimento das plântulas, os sintomas manifestam-se no enchimento de grãos.
Os sintomas do enfezamento pálido são estrias cloróticas esbranquiçadas que surgem na base das folhas e se estendem em direção ao ápice, sobrepondo-se às nervuras, podendo atingir a folha inteira. A planta apresenta encurtamento de internódios e redução em altura e espigas pequenas, podendo ficar improdutiva.
Sintomas característicos do enfezamento vermelho são o avermelhamento das folhas e a proliferação de pequenas espigas, ou de perfilhos nas axilas foliares e/ou na base da planta. Porém, frequentemente, a planta apresenta apenas avermelhamento nas margens e na ponta das folhas e pequenas espigas, com poucos grãos. Embora o avermelhamento das folhas seja característica comum das plantas afetadas por enfezamentos, alguns genótipos apresentam apenas clorose na margem e na ponta das folhas, seguida por seca, associada ao encurtamento dos internódios e à formação de espigas pequenas.
Figura 2: Sintomas de enfezamento pálido (esquerda) e vermelho (direita). Fonte: Embrapa Milho e Sorgo – Foto: Elizabeth de Oliveira Sabato.
Milho tiguera e safras subsequentes
O milho tiguera ou guacho brota espontaneamente a partir de sementes que ficam no campo após a colheita da safra. A falta de controle eficiente destas plantas é apontada como a principal causa de aumento da infestação de cigarrinha.
Isso ocorre porque a cigarrinha só se reproduz quando infesta o milho, além de preferir plantas novas, ainda em estádio vegetativo, migrando sempre que possível para estas. O plantio de milho no verão e no inverno também favorece a infestação por cigarrinha, isso porque o inseto sai das lavouras em fase de colheita para lavouras recém implantadas. A população de cigarrinha na lavoura tende a aumentar até o florescimento e reduzir gradativamente até a colheita.
Manejo de risco
Para controle da cigarrinha e dos enfezamentos não há estratégia única e muito menos isolada. As medidas de manejo combinadas precisam ser adotadas em âmbito regional para garantir a eficiência, pois o inseto pode migrar por longas distâncias, além de possuir um elevado potencial de disseminação da doença.
Além de conhecer a doença e seus sintomas, é preciso saber também quais as condições ambientais ideais para proliferação da cigarrinha, tais como temperatura noturna acima de 15ºC, alta umidade relativa e alta densidade populacional da praga nas imediações. Por fim, é preciso planejar a semeadura e adotar práticas adequadas para reduzir a população da cigarrinha e da doença na propriedade e na região.
Evitar plantio de outras gramíneas sobre milho;
Eliminar o milho tiguera, no mínimo 2 semanas antes da semeadura;
Verificar fontes de inóculo nas imediações – evitar semeadura e pulverizar gramíneas próximas;
Tratar as sementes com inseticidas e pulverizar a lavoura no início (V3 e V4) - reduzir os níveis de incidência;
Sincronizar o período de semeadura do milho na região – concentrar em 20 ou 30 dias;
Utilizar sementes com resistência genética aos enfezamentos – consultar Documento 223 da Embrapa Milho e Sorgo;
Evitar semeadura ao lado de lavouras adultas com plantas doentes – migração de cigarrinhas;
Utilizar controle biológico para controle dos ovos, ninfas e adultos da cigarrinha;
As medidas de controle precisam ter abrangência regional, ou seja, adotadas por todos os produtores. Diversificar e rotacionar cultivares;
Outras recomendações: fazer pousio de pelo menos 30 dias (vazio sanitário) e controlar milho tiguera;
Problemas Fitossanitários Ocorridos em Lavouras de Milho na Região de Marechal Cândido Rondon-Oeste do Paraná, na Safra 2018/2019 e Safrinha 2019
As ocorrências de casos de quebramento e morte súbita de plantas registradas este ano no Paraná foram acompanhadas por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo que vieram em abril para o estado e publicaram nota técnica sobre suas constatações. Dez lavouras da região oeste foram avaliadas quanto aos sintomas de doenças e presença de insetos vetores. Colmos tombados e em pé foram coletados, além de folhas com sintomas de enfezamentos. A presença de cigarrinha foi confirmada, ainda que os produtores tenham relatado não tenham atentado para sua ocorrência na fase inicial de desenvolvimento das plantas.
Uma combinação de fatores contribuiu para a severidade das condições registradas e devem ser observadas para evitar novos problemas na safra 2019/2020. São eles:
- O milho foi semeado em diversas épocas na região; Ocorrência de chuvas seguidas de altas temperaturas;
- Antecipação da colheita de soja e do plantio do milho safrinha para dezembro;
- Plantio da 1ª safra em out/ nov (após colheita do fumo) resultando em ponte verde entre 1ª e 2ª safra;
- Utilização de híbridos susceptíveis aos enfezamentos;
- Presença de cigarrinhas em lavouras até mesmo em fase de maturação;
- Identificação de vários fungos associados à podridão de colmo, predominantemente Fusarium spp.;
- Ocorrência de estiagem durante a safra, agravando os efeitos do enfezamento, que prejudica a absorção de nutrientes pela planta e afeta o processo de translocação de fotoassimilados para o enchimento de grãos.
Referências
FILHO, I. A. P.; BORGHI, E.. Sementes de Milho no Brasil – A Dominância dos Transgênicos.
Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2018. 31 p. Documento 223.
SABATO, E. de O.. Manejo do Risco de Enfezamentos e da Cigarrinha no Milho. Sete Lagoas:
Embrapa Milho e Sorgo, 2018. 18 p. Comunicado Técnico 226.
SABATO, E. de O.; OLIVEIRA, C. M. de; SILVA, R. B. Q. da.Transmissão dos Agentes Causais de
Enfezamentos Através da Cigarrinha Dalbulus maidis, em Milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e
Sorgo, 2015. 8 p. Circular Técnica 209.
SABATO, E. de O., et al. O papel do milho Tiguera na perpetuação e concentração da cigarrinha
Dalbulus maidis, do inóculo de molicutes e do vírus da risca. Sete Lagoas: Embrapa Milho e
Sorgo, 2018. 21 p. Circular Técnica 248.
SILVA, D. D. da, et al. Problemas Fitossanitários Ocorridos em Lavouras de Milho na Região de
Marechal Cândido Rondon-Oeste do Paraná, na Safra 2018/2019 e Safrinha 2019. Sete Lagoas:
Embrapa Milho e Sorgo, 2019. 24 p. Nota Técnica.