O dólar ainda predomina largamente nas transações de comércio exterior realizadas no Brasil, mas as demais moedas responderam por US$ 243,3 bilhões nos último cinco anos (2018-2020), segundo levantamento inédito feito pela
Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Entre elas, destacam-se euro e real. Somadas, as moedas brasileira e da União Europeia tiveram participação de 9,2% nas operações do período.
Os dados estão disponíveis nesta página e serão atualizados anualmente. Com o levantamento pormenorizado das transações em “moeda declarada”, o Brasil atende a recomendações internacionais na área de comércio exterior.
A Secex explica que, embora todas as operações de comércio exterior sejam contabilizadas em dólar, isso não significa que tenham sido feitas originalmente nesta moeda. A “moeda declarada” é aquela firmada entre comprador e vendedor nos registros aduaneiros.
A maior utilização de outras moedas ocorre nos contratos de importação, modalidade em que elas somaram quase US$ 179,1 bilhões em 5 anos, com destaque para o euro (US$ 92,4 bi), o real (US$ 58,7 bi), o iene (US$ 8 bi) e o renminbi chinês (US$ 3,2 bi).
Destas, apesar do volume menor em relação às outras quatro, chama a atenção os contratos de importação fechados em renminbi, cujos valores saltaram de US$ 240 milhões em 2018 para US$ 1 bilhão em 2022, crescimento superior a 300%.
“Os números ainda são baixos no conjunto do nosso fluxo comercial, mas o crescimento da denominação em renminbi é notável”, comenta a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres.
Euro e real
As principais moedas declaradas, além do dólar, são euro e real. Somadas, as duas representaram 4,7% nas exportações e 14,8% nas importações desde 2018.
Pelo levantamento da Secex, é possível verificar que, de todas as exportações realizadas em reais, o Mercosul foi o destino mais utilizado, representando 22,4% nos últimos 5 anos. Já das importações em moeda brasileira, a União Europeia é a principal origem, representando 36,9%, enquanto o Mercosul representa apenas 1,8%.
Em relação ao euro, a União Europeia foi o principal parceiro tanto nas exportações quanto nas importações, representando 60% e 86%, respectivamente
Dólar predomina
O dólar dos Estados Unidos ainda representa a quase totalidade das moedas declaradas nas operações de exportação, com 95% em 5 anos. Em relação às importações no período, o índice cai para 82,5%.
Os dados mostram que o dólar vinha perdendo espaço na exportação desde 1997, início da série, até 2017, mas voltou a crescer a partir daí. Em 1997 a moeda representou 97,9% das operações de exportação; em 2017, era 92,5%.
Nesse período, ganharam relevância tanto o euro, que foi criado em 1999 e chegou a representar 4,9% das operações de exportação em 2008; quanto o real, que teve seu auge em 2016, com 3,2% das operações de exportação.
Compras governamentais
Segundo Tatiana Prazeres, diversos motivos levam os operadores a escolherem moedas diferentes do dólar.
“Detectamos, por exemplo, que o relativamente alto uso do real nas importações está relacionado a compras governamentais de medicamentos. Nessas operações, há um preço máximo em reais definido pelo poder público. Dessa forma, as partes estabelecem os valores em reais e o risco cambial recai sobre o fornecedor, que declara as operações de importação na moeda brasileira. Além disso, o uso de euro, libra esterlina e iene era esperado por serem moedas estáveis e com liquidez elevada, de economias grandes e com amplo relacionamento comercial com o Brasil”.
O Sistema de Pagamento em Moeda Local (SML) é outro fator que influencia o uso do real no comércio exterior. Segundo dados do Banco Central do Brasil, as exportações via SML somaram R$ 5,2 bilhões e as importação, R$ 383 milhões com os países do Mercosul em 2022.
Como funciona?
Para a compilação das estatísticas de comércio exterior e da balança comercial brasileira, as transações declaradas em outras moedas são sempre convertidas para o equivalente em dólar dos Estados Unidos.
Mas o exportador ou importador pode escolher a moeda que preferir para realizar suas operações, explica o diretor de Planejamento e Inteligência Comercial da Secex, Herlon Brandão.
“Desde o início da série histórica de dados, em 1997, são registradas operações em outras moedas que não o dólar dos Estados Unidos. A moeda declarada reflete a escolha de uma moeda para fixação de valor na negociação de bens e valoração aduaneira”.
O diretor destaca que a moeda declarada na operação comercial, também chamada de moeda de denominação, não é necessariamente a mesma utilizada para o pagamento e recebimento de divisas, uma vez que os contratos de câmbio não são vinculados às exportações e importações.
“As moedas escolhidas para contrato de câmbio são registradas em outros sistemas, geridos pelo Banco Central, em tempos e com critérios distintos dos registros aduaneiros. Dessa forma, esses novos dados trazem uma visão comercial que podem enriquecer as análises que hoje existem a respeito de dados cambiais”, explica Herlon.