Se no final de 2021 as perspectivas de crescimento para as fintechs ligadas ao agronegócio já eram extremamente animadoras, os acontecimentos do início de 2022 permitem dobrar a aposta. A principal movimentação neste sentido foi feita pelo Banco Central no dia 22 de março, com a publicação da Resolução BCB n° 204 [1], que permite o compartilhamento, mediante prévio consentimento, dos dados relativos às operações de crédito rural, em moldes semelhantes ao Open Finance.
A medida chega para adicionar uma potência de turbina em um ecossistema que já havia acionado seus motores no ano passado com o surgimento de bancos digitais formados pela associação entre grupos de produtores rurais, lançamentos de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) específicos para financiar o agronegócio, além de inúmeras iniciativas de grandes conglomerados de fabricantes de insumos para se aproximar de fintechs e desenvolver produtos mais acessíveis ao trabalhador rural.
Agora, nas palavras do próprio BC, tanto o sistema financeiro quanto outros fornecedores de funding, como o mercado de capitais, poderão ampliar a geração de novas soluções com o objetivo de oferecer condições mais favoráveis e adequadas às necessidades dos produtores rurais.
Isto será possível porque a nova funcionalidade do sistema permitirá ao produtor rural oferecer maior transparência quanto ao seu nível de alavancagem em operações de crédito rural, especialmente para potenciais agentes financiadores que não sejam instituições financeiras.
Só para ter uma ideia do potencial desta nova funcionalidade, o Sicor (Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro), plataforma pela qual se dá o registro das operações de crédito rural, e que será responsável pelo compartilhamento de dados, registra anualmente cerca de dois milhões de operações. Elas somam mais de R$240 bilhões em valores contratados sendo que nos procedimentos de registro das operações, são coletadas informações em 260 campos de dados, que estão sujeitos a 1,3 mil verificações.
Ainda segundo comunicado emitido pelo BC [2], por meio do ato de autorização de compartilhamento de dados, o autorizador poderá consentir o compartilhamento das informações relativas às suas operações de crédito rural com qualquer terceiro interessado, o que poderá contribuir ainda mais para o alcance dos resultados pretendidos com a implementação do sistema. Para obter acesso aos dados de operação de crédito rural coletiva, os interessados em fazer consultas deverão possuir autorização de todos os titulares da referida operação. O compartilhamento de dados pelo autorizador terá vigência de 180 dias ou por período inferior por ele assinalado, podendo o autorizador cancelar a autorização de acesso aos seus dados a qualquer tempo.
O acesso a este tsunami de dados é justamente o que as fintechs precisam para fazer aquilo que sempre fizeram e que está provocando uma verdadeira transformação no ambiente financeiro do país.
Essas startups, que já são identificadas pelo seu conceito próprio de agrotechs, conseguirão identificar com muito maior clareza a possibilidade de oferecer melhores experiências para o consumidor, no caso o produtor rural, no relacionamento com as instituições financeiras.
Baseadas em seu DNA que estabelece como princípio a busca pela máxima eficiência com os menores custos, amparadas por tecnologias emergentes, as fintechs do agro continuarão em busca de ‘deficiências’ nos modelos tradicionais de financiamento para continuarem se expandindo em nossa economia.
O compartilhamento de dados irá escancarar os problemas deste setor e as oportunidades que ele oferece, acelerando a níveis muito mais elevados a expansão destas empresas em número e em profundidade de inovação.
* Renato Aragon é Associate Director da Xsfera