Doença com efeitos devastadores para a suinocultura, a circovirose começou a ser reportada ainda na década de 90 e, a partir dos anos 2000, passou a ser disseminada em todos os sistemas de produção tecnificados do mundo. O circovírus suíno PCV2, mudou a forma como entendemos as doenças na suinocultura por ser uma doença multifatorial e sinérgica com outros agentes, como M. hyopneumoniae e Influenza.
A doença inicialmente foi descrita como a síndrome do definhamento multissistêmico pós-desmame, com perdas nas granjas, que muitas vezes passavam de 20%, somadas à mortalidade e à refugagem. As medidas de manejo, brilhantemente descritas e agrupadas por François Madec, foram as primeiras ações para reduzir os impactos dessa doença. A situação só foi efetivamente controlada com a chegada ao mercado das vacinas contra o PCV2, nos anos 2000.
Desde o lançamento das vacinas para leitões contra a circovirose, em 2008, no País, a produção brasileira tem garantido a sanidade de seu plantel por meio da imunização e, dessa maneira, assegurado a entrega de índices zootécnicos promissores e lucrativos nas granjas.
Ao longo dos anos, no entanto, vem ocorrendo o surgimento de variantes do PCV2. Essa evolução do vírus já resulta na existência de pelo menos mais oito tipos de genótipos diferentes do vírus (do PCV2a ao PCV2h), com destaque para PCV2a, PCV2b e PCV2d, de distribuição mundial e associados à doença clínica e subclínica da circovirose. O PCV2d é o mais prevalente no mundo hoje, seguido pelo PCV2b.
Após a implementação da vacinação nos plantéis, a manifestação subclínica passou a ser a principal forma de apresentação dessa doença e deve ser motivo de muita atenção a campo. O que aprendemos é que a imunização não foi capaz de eliminar a infecção dos rebanhos, e sim de reduzir a carga viral e a interação do vírus com os leitões. O principal efeito subclínico é a redução do ganho de peso diário, já que é possível identificar a presença do vírus em tecidos-alvo para o PCV2, por meio da técnica de imuno-histoquímica, mas sem alterações significativas histopatológicas.
No Brasil, a maioria das granjas utiliza uma vacina que contém apenas antígenos contra o PCV2a, e isso pode fazer com que o sistema imune deixe escapar as variantes PCV2b e d, como temos visto na identificação desses agentes em casos clínicos de circovirose em granjas brasileiras.
No mercado brasileiro, há somente uma vacina que contém em sua formulação antígenos contra o PCV2a e o PCV2b, que proporciona uma maior proteção cruzada para as variantes PCV2a, PCV2b e PCV2d, as mais prevalentes hoje nas granjas. Essa é, portanto, a estratégia de maior espectro e que melhor controla os desafios impostos pelo circovírus.
Apesar de ser um patógeno já conhecido há bastante tempo, cuja situação é considerada controlada, novos aprendizados sobre o circovírus têm também gerado um alerta entre os pesquisadores e profissionais da área de suínos para trazer soluções cada vez melhores e mais eficientes no combate ao PCV2 e suas variantes e mutações.