O Brasil, principalmente as regiões Sul e Sudeste, passa por uma crise hídrica sem precedente. Chegamos a esse ponto, literalmente desesperador, por fatores climáticos, ou seja, chuva bem abaixo da média como tem ocorrido nos dois últimos anos. Mas de forma alguma podemos colocar a “culpa” apenas em São Pedro. Existe um problema estrutural, em razão de a matriz energética brasileira ter como base a geração hidrelétrica.
O Paraná não foge ao modelo. Os reservatórios das hidrelétricas e os utilizados para o abastecimento da população estão no limite. Os quatro principais encerraram julho com nível médio de 50,48% da capacidade total, o menor desde fevereiro.
Por mais que volte a chover e a atual estiagem passe, provavelmente, o volume de água nos reservatórios, principalmente os das hidrelétricas, talvez nunca atinja o necessário para garantir a produção de energia para atender à demanda. Isso porque a matriz energética está desbalanceada.
Esse problema precisa ser enfrentado com rapidez. Não existem soluções no curto prazo, mas a crise pode ser minimizada ao adotarmos políticas para melhorar a matriz de geração de energia. Parte da solução e a mais rápida é a energia solar, com painéis fotovoltaicos, de preço razoável e implantação em pouco tempo.
Inclusive, há anos, o Sistema FAEP/ SENAR-PR tem incentivado os produtores rurais a migrarem para essa energia alternativa. Afinal, os ganhos são inúmeros: fim das altas contas de energia elétrica, garantia de energia de forma constante dentro da porteira, preservação do meio ambiente e independência energética. E a prova de que acreditamos nesta fonte de energia é que fomos além. No nosso Centro de Treinamento Agropecuário em Assis Chateaubriand, na região Oeste, instalamos uma usina fotovoltaica. Os 308 painéis solares têm 135 kWp de potência, que vão garantir economia anual de R$ 113 mil e redução de 20 toneladas de emissão de CO2.
A energia solar me parece lógica, para evitar que a produção rural, especialmente a avicultura, suinocultura, criação de peixes e produção de leite, seja prejudicada, não apenas pela falta de energia, mas principalmente pelo alto preço da conta de luz. Ainda mais com o término dos incentivos federais, em dezembro de 2022, e, consequentemente, com a extinção da Tarifa Rural Noturna, no âmbito estadual, que vai deixar a energia elétrica ainda mais cara.
Considerando os números do setor, os produtores rurais estão trilhando um caminho sem volta para as energias alternativas. Atualmente, o setor rural é responsável por 13% da energia solar instalada no país, de acordo com dados de 2020 da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Tenho certeza de que esse índice vai aumentar bastante, em rápida aceleração, nos próximos anos. Afinal, os agricultores e pecuaristas serão empurrados para as energias alternativas para compensar a falta de volume de água em nossos reservatórios de hidrelétricas.
Claro, não podemos esquecer de outros tipos de energias, como eólica, de biomassa e a partir do biogás. Esses também estão ganhando espaço dentro das porteiras. Independentemente do tipo de energia é preciso buscar alternativas à tradicional matriz. Só assim o Brasil poderá ajustar a sua matriz às necessidades futuras. No caso do meio rural, tudo que pudermos fazer para minorar esta crise é muito importante. Principalmente se tiver impactos positivos no bolso do produtor rural e na preservação da natureza.
Ágide Meneguette é presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR