Aprosoja MT alerta que a falta de armazenagem em Mato Grosso compromete preços e defende crédito acessível para ampliar a estocagem
Com o fim da colheita do milho e a proximidade do plantio da nova safra de soja, os produtores rurais de Mato Grosso seguem enfrentando um problema antigo: a falta de capacidade de armazenagem.
Apesar do crescimento da produção e dos esforços no campo, a estrutura disponível continua distante da demanda. Por isso, muitos agricultores recorrem a soluções emergenciais, como o uso de silo bolsa e a armazenagem a céu aberto, o que compromete a competitividade.
Dados da Conab e do IMEA mostram que a capacidade estática do estado é de pouco mais de 53,4 milhões de toneladas, enquanto o déficit ultrapassa 52,6 milhões. Além disso, nas propriedades rurais, a participação representa menos de 30% do total, reforçando a dependência externa.
O produtor Denis Carlos Briancini, delegado da Aprosoja MT no núcleo Araguaia Xingu, relata como a falta de estrutura afeta o dia a dia. “Nós não temos armazém na fazenda e, na nossa região, praticamente não há asfalto. Assim, a logística fica muito ruim. Os armazéns não têm capacidade para receber todo o grão. Sofremos muito. Na soja mesmo, tive que colocar 40% da produção em silo bolsa. No milho, 70% também foi armazenado dessa forma”, contou.
Para Briancini, o alto custo de construção e as condições de financiamento inviabilizam novos investimentos. “O valor está muito caro. As linhas de crédito também pesam, com juros de 12% a 15% ao ano e prazos curtos. Nessas condições, fica impossível investir”, destacou.
O vice-presidente Norte da Aprosoja MT, Diogo Balistieri, reforça que a concentração da colheita em um período curto agrava a situação. “O produtor enfrenta problemas de logística e, principalmente, de armazenagem. Muitas vezes precisa esperar dias em filas de caminhões ou entregar em empresas que não transmitem confiança”, afirmou.
Segundo ele, apenas a ampliação da capacidade ou a construção de silos nas fazendas pode garantir autonomia. “Somente com armazenagem própria o produtor pode dizer que é dono da produção. Caso contrário, acaba na mão de multinacionais e compradores do mercado interno, perdendo competitividade no preço”, avaliou.
O presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, defende que a armazenagem seja tratada como prioridade nacional. “Hoje, o Brasil armazena menos de dois terços da produção, e Mato Grosso cerca de 50%. Isso afeta não apenas a segurança do produtor, mas também a segurança alimentar da população. Precisamos de políticas que facilitem o acesso a armazéns, inclusive no Plano Safra”, disse.
Nesse cenário, a entidade lançou a campanha Armazém para Todos, que incentiva especialmente pequenos e médios produtores. A iniciativa oferece inclusive um simulador que avalia a viabilidade do investimento e o retorno esperado.
Mais do que espaço para guardar grãos, a armazenagem é considerada estratégica para o futuro do agro em Mato Grosso. Afinal, permite maior autonomia na comercialização e reduz perdas logísticas, fortalecendo a competitividade dos produtores no mercado nacional e internacional.