Os mecanismos de ação são o modo como os produtos agem no controle de uma praga. Soluções químicas e biológicas atuam de formas diferentes e, por isso, o cuidado no manejo também é específico. De maneira geral, os pesticidas costumam apresentar os efeitos de forma mais rápida. Os biológicos, entretanto, geram resultados mais duradouros e sustentáveis.
A maioria dos pesticidas químicos atuam sobre o sistema nervoso da praga, nas membranas das células. As moléculas químicas atuam desequilibrando o transporte de íons, fazendo com que a célula fique superestimulada ou subestimulada. Em quaisquer dos casos, o funcionamento normal das células é desregulado, causando uma "pane geral" no corpo do artrópode, gerando sua morte.
Outros compostos químicos atuam impedindo a metamorfose. A metamorfose é uma transformação que ocorre por várias vezes na vida dos insetos (por exemplo, de lagarta para ninfa e para borboleta). Impedir esse processo é uma forma de bloquear o desenvolvimento da praga, que acaba morrendo, em vez de seguir para a próxima fase da vida.
Quando o produtor escolhe um inseticida, o produto deve ter o mecanismo de ação associado à inibição adequada. Um inseto adulto não sofre mais metamorfose, por exemplo, e, portanto, um produto que atua nesse processo não seria eficaz em seu controle.
Já o controle biológico pode ser caracterizado de uma forma sintética como o uso de organismos vivos para controlar a população de uma praga específica, tornando-a menos abundante e menos danosa. Estes inimigos naturais podem ser diversos organismos, como vírus, fungos, bactérias (microrganismos), insetos e ácaros (macroorganismos), e são utilizados diretamente na regulação da população praga.
Os principais mecanismos de ação dos agentes biológicos são a patogenicidade, o parasitismo e a predação.
Patogenicidade: ocorre quando dois organismos interagem e uma espécie bloqueia o crescimento, funções vitais ou reprodução da outra. Neste caso, associada principalmente aos microorganismos, a praga-alvo é infectada por seu inimigo natural, que a deixa "doente". A ação do microrganismo usado para controle não acontece em um só lugar, o corpo todo do artrópode-alvo é tomado pela infecção. No caso do fungo, uma vez dentro do corpo da praga, se desenvolve consumindo os tecidos e liberando toxinas, levando-a à morte e, muitas vezes, atingindo outros indivíduos da praga-alvo. Na agropecuária, por exemplo, o controle do carrapato-do-boi já tem sido feito por meio dessa técnica natural, sustentável e não agressiva aos humanos, animais e meio ambiente.
Parasitismo: o parasitismo é o fenômeno em que um determinado organismo utiliza outro organismo para se desenvolver. Existem alguns casos de espécies muito conhecidas na agricultura, como a microvespa Trichogramma pretiosum, que se desenvolve a partir de ovos de espécies de pragas, e a Cotesia flavipes, que parasita lagartas e se desenvolve por meio do uso de seus fluidos corporais. Essas espécies de parasitoide sempre acabam matando seu hospedeiro.
Predação: neste caso, são utilizados organismos que se alimentam diretamente de pragas em diversas fases de seu desenvolvimento, como ovos, larvas ou adultos. Um exemplo é o Orius insidiosus, um percevejo predador que se alimenta de diversas pragas agrícolas, como tripes e lagartas.
Vale ressaltar que o uso de inimigos naturais como agentes de controle biológico traz uma série de benefícios em relação aos químicos, pois não deixa resíduos nos alimentos, é seguro para quem aplica e quem consome a produção, bem como para animais de produção e criação, além de não agredir o meio ambiente. A ausência do período de carência entre a aplicação do inimigo natural e a retirada do leite para comercialização, por exemplo, é uma vantagem notável do uso de controle biológico na pecuária.
Outro ponto relevante é a resistência de pragas. Muitas delas adquirem resistência às moléculas químicas dos produtos, o que dificulta seu controle e causa danos severos aos cultivos, pastagens e rebanho. O uso de agentes de controle biológico diminui o risco de seleção de organismos resistentes, como ocorre com os químicos. Isso se deve principalmente devido ao seu modo de ação mais generalizado no corpo todo da praga, que dificulta um "contra-ataque, e à variabilidade genética que também ocorre nos inimigos naturais.
O potencial que o controle biológico oferece é expressivo e é preciso tornar essa ferramenta uma realidade para a saúde animal. Por meio de soluções ecológicas integradas e do incentivo à produção mais natural de alimentos, é possível proporcionar mais saúde aos animais, pessoas e meio ambiente.
* Larissa Elias é bióloga e pesquisadora da Decoy Smart Control, desenvolvedora de soluções biológicas para o controle de pragas.