Deriva de defensivo da soja ameaça diversificação agrícola do RS

Seapi recebeu 115 denúncias - a maioria envolvendo videiras, oliveiras, erva-mate, nogueira-pecã e hortaliças
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Publicado em 11/02/2024

A diversificação da produção agrícola do Rio Grande do Sul está em risco. Culturas sensíveis como macieira, videira, oliveira, nogueira-pecã, erva-mate, tomate e hortaliças seguem sendo prejudicadas pela deriva de defensivos usados nas lavouras de soja. “Seguimos tendo problema com a deriva do 2,4-D aqui na Campanha. É um problema seríssimo que afeta muitos produtores e causa grandes prejuízos”, lamenta o agropecuarista Valter José Pötter, da Vinícola Guatambu, de Dom Pedrito, que atua na agricultura, na pecuária e na vitivinicultura.

O chileno Pedro Candelária, que preside a Associação de Vinhos da Campanha Gaúcha, reclama que, nesta safra, a grande maioria das 19 vinícolas que integram a entidade tiveram perdas de até 30% na produção em função da deriva do 2,4-D. “Este ano será muito ruim para a uva. A deriva foi generalizada de Candiota até Itaqui”, critica.O herbicida, quando aplicado de forma incorreta ou em condições atmosféricas inadequadas, é levado pelo vento (fenômeno chamado de deriva) e pode chegar a 20 ou 30 quilômetros de distância do ponto de origem. Com a deriva, atinge as plantações vizinhas.Candelária, que dirige a vinícola Campos de Cima, de Itaqui, na divisa com a Argentina, garante que os produtores fizeram denúncias e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) teria coletado amostras nos parreirais e realizado análises. “Mas eles não apresentam os laudos. E o Mapa é quem deveria proteger os produtores, mas não está fazendo nada”, afirma.O presidente lembra que a Associação agrega gigantes como Miolo, Salton e Cooperativa Nova Aliança, mas ao menos 15 das vinícolas que hoje formam a entidade são consideradas pequenas, pois produzem menos de 500 mil litros de vinho por ano. Muitos desses investidores são produtores de pequeno e médio porte e já trabalhavam com outras atividades rurais, como plantação de arroz, soja ou criação de animais, antes de começar a produzir vinhos. “O Rio Grande do Sul tem quatro estações bem definidas e isso permite uma diversificação agrícola. No entanto, se o problema da deriva persistir nós teremos apenas a monocultura da soja”, projeta.
Trator pulveriza plantação de soja. Foto: Divulgação/Vittia
Trator pulveriza plantação de soja. Foto: Divulgação/Vittia

Canal de denúncias

A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul criou canais exclusivos para denúncias para a ocorrência de derivas do 2,4-D e outros agrotóxicos hormonais em culturas sensíveis. E confirma que, após uma redução nas duas safras anteriores, as denúncias sobre deriva de defensivos usados em lavouras de soja voltaram a aumentar neste ano.
O diretor do Departamento de Defesa Vegetal Seapi, Ricardo Felicetti, revela que, na safra 2023/2024, a pasta recebeu 115 denúncias. No ano anterior foram 74 reclamações. As ocorrências foram generalizadas pelo Estado, mas ocorreram principalmente na Fronteira Oeste e Sudoeste, além da Serra Gaúcha, Planalto Médio e Região Metropolitana. As culturas atingidas por deriva de 2,4-D foram a uva, noz-pecã, oliveira e morango, tabaco, maçã, tomate, trigo, pêssego, milho e laranja. “Também houve denúncia de uma lavoura de soja atingida”, conta Felicetti.Ele admite que já era esperado um aumento do número de denúncias em função do volume de chuvas provocado pelo fenômeno climático El Niño. Com a redução das janelas de plantio, os produtores tiveram menos tempo para os tratos culturais e controle de pragas invasoras. “Os produtores que provocaram deriva não seguiram recomendações como respeitar condições meteorológicas como velocidade do vento entre 3 e 10 quilômetros por hora, umidade relativa do ar superior a 55% e temperatura ambiente menor que 30ºC”, ensina Felicetti. Os produtores autuados receberam multas com valores que variam de R$ 2 mil a R$ 27 mil, segundo ele.


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