As inundações provocadas pelo
dilúvio que caiu sobre o Rio Grande do Sul, arrastou também nutrientes
importantes do solo fundamentais para garantir a produtividade das culturas. Em
muitas localidades, será necessário um tempo razoável para reconstruir a fertilidade
do solo, afetada pela erosão.Conforme o mais recente levantamento da Defesa Civil, as enchentes atingiram 2,3 milhões de pessoas e causaram 155 mortes.
Um panorama sombrio emerge das
páginas do recente relatório do banco de investimentos, que aponta para perdas
consideráveis nas culturas vitais de arroz, soja e milho. Além disso,
destacam-se preocupantes danos nos setores do trigo, carnes e laticínios, cujos
prejuízos se avizinham como crescentes e de persistência indesejável.
As intempéries meteorológicas,
concentradas primordialmente nas regiões central e sul do Rio Grande do Sul,
durante o término de abril e o início de maio, desdobraram-se em um quadro
catastrófico. Em um lapso de pouco mais de uma semana, precipitações
excepcionais desabaram sobre a terra gaúcha, equiparando-se ao volume habitual
de chuvas previsto para mais de três meses, afetando severamente 332 dos 497
municípios locais.
Considerado o sexto maior
exportador do país, o Rio Grande do Sul desempenha um papel crucial na economia
nacional, representando 6,6% do montante total de vendas externas realizadas
pelo Brasil em 2023. Contudo, conforme adverte o Itaú BBA, a tarefa de
restaurar a fertilidade do solo, comprometida pela erosão e pela exaustão de
nutrientes, bem como a reconstrução da infraestrutura danificada, será hercúlea
em muitas localidades, possivelmente estendendo-se por anos.
Até o dia 8 de maio,
aproximadamente 82% da área destinada ao cultivo do arroz no estado já havia sido
colhida.Restando um total de 142 mil hectares para a conclusão da safra, dos
quais 23 mil estão irremediavelmente perdidos e 18 mil parcialmente inundados,
a situação é desafiadora. Em meio a essa contagem desoladora, uma parcela de
101 mil hectares emerge como a única não afetada pelas cheias. Estimativas do
Itaú BBA preveem uma queda de aproximadamente 3% na produção nacional de arroz,
embora tranquilize-se quanto à possibilidade de um cenário de desabastecimento,
ao menos em curto prazo, apesar da firmeza dos preços deste cereal, conforme
sinalizado no referido relatório.
No que concerne à cultura do
milho, o período de plantio no estado está programado para transcorrer entre o
final de maio e junho. Em diversas localidades, constata-se o escoamento da
camada fértil dos solos, um desdobramento que tende a encarecer os
procedimentos de implantação e fertilização.
No que tange à soja, havia a
expectativa de que o Rio Grande do Sul ascendesse à segunda posição entre os
principais produtores, superando o Paraná; uma projeção agora comprometida.
No segmento avícola e suinícola,
uma dezena de unidades frigoríficas chegaram a ser interrompidas. A avaliação
precisa dos danos econômicos estará intrinsecamente ligada à magnitude dos
transtornos logísticos, cuja extensão somente se tornará clara quando as águas
refluirem.
As autoridades locais têm
registrado colapsos de pontes e deterioração de vias em várias localidades
devido à erosão. Ademais, as operações no Aeroporto Salgado Filho, em Porto
Alegre, e nos portos de Porto Alegre e Pelotas foram suspensas.
A perspectiva ainda é sombria,
especialmente considerando as previsões de mais chuvas nos próximos dias. Uma
passagem do relatório enfatiza que, caso a desobstrução mínima das rotas
logísticas até as propriedades não seja alcançada nas próximas semanas, os
fluxos de produção de proteínas animais poderão enfrentar ainda mais
obstáculos, resultando em impactos mais substanciais.
Além disso, o Itaú BBA ressaltou
que a catástrofe ocorre em um momento de fragilidade financeira para muitos
produtores, já debilitados pelas secas dos últimos anos. "Sua recuperação
se inicia em um contexto extremamente desafiador", afirmam os redatores do
documento.