Estudo do IDR-Paraná e Sistema FAEP mostra como a conservação do solo no Paraná avança com apoio técnico e participação dos produtores
Com o uso intensivo da terra e os impactos crescentes das mudanças climáticas, a conservação do solo no Paraná se tornou uma prioridade urgente para o setor agropecuário. Para aprofundar o tema, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), em parceria com o Sistema FAEP, desenvolveu uma pesquisa socioeconômica abrangente. O objetivo foi entender como os produtores adotam práticas conservacionistas e, ao mesmo tempo, mapear gargalos e oportunidades de melhoria.
De acordo com Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP, é essencial aproximar a ciência do campo. “A atuação conjunta entre instituições de pesquisa e os produtores rurais é essencial para transformar boas ideias em ações práticas. A pesquisa nos ajuda a entender onde estamos e o que podemos melhorar”, destacou.
Até agora, 630 agricultores já foram ouvidos. A pesquisa, portanto, tem potencial para nortear políticas públicas e estratégias do Sistema FAEP, especialmente por meio do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG).
O ATeG tem se mostrado uma ferramenta fundamental para a adoção de boas práticas. Isso porque aproxima os produtores das recomendações técnicas e facilita sua aplicação no cotidiano das propriedades. Além disso, promove uma cultura de sustentabilidade aliada ao aumento da produtividade.
Conforme os dados obtidos até o momento, 51,6% dos agricultores utilizam Cultivo Mínimo (CM), com gradagem ou escarificação. Outros 20% adotam o Sistema de Plantio Direto (SPD), enquanto 17,3% realizam Plantio Direto (PD) sem rotação de culturas, o que compromete a eficácia da técnica. Já o Plantio Convencional (PC) ainda é utilizado por 3,5% dos entrevistados. Além disso, 7,6% dos produtores não souberam identificar qual sistema usam.
No entanto, um ponto de atenção é a autodeclaração imprecisa. Muitos agricultores afirmam utilizar PD ou SPD, mas não seguem todos os critérios técnicos. Por exemplo, confundem sucessão com rotação de culturas. Isso evidencia a importância de qualificar a assistência técnica no campo.
Os pesquisadores Tiago Telles e Wander Piassa, do IDR-Paraná, destacam que há uma relação direta entre conservação do solo e valorização da terra. Segundo os dados, áreas com PD ou SPD registraram menos casos de erosão. Por outro lado, 64% dos produtores que utilizam PC relataram problemas de erosão. Entre os que não souberam informar seu tipo de manejo, esse índice sobe para 70%.
Além disso, a percepção de que solos bem manejados valorizam a propriedade tem crescido entre os produtores, o que pode estimular mudanças positivas no campo.
Outro fator relevante identificado na pesquisa é a influência das cooperativas. Entre os produtores cooperados, 41% praticam PD ou SPD. Já entre os não cooperados, esse número é de apenas 20%. Isso sugere que o acesso à informação e ao suporte técnico é decisivo para a adoção de sistemas mais sustentáveis.
Ainda que os dados sejam preliminares, os pesquisadores se mostram otimistas. Atualmente, cerca de 20% dos agricultores paranaenses adotam integralmente os pilares do SPD, o que está bem acima da média nacional, de apenas 7%.
Frequentemente, os produtores confundem os conceitos de rotação e sucessão de culturas. A rotação consiste em alternar espécies diferentes em ciclos agrícolas distintos, com foco na recuperação e manutenção da saúde do solo. A FAO recomenda, por exemplo, o uso de pelo menos três culturas em três anos.
Já a sucessão de culturas envolve a troca de espécies ao longo do mesmo ano agrícola, sem os mesmos benefícios para o solo. Um exemplo comum é a alternância entre milho e trigo no mesmo ciclo produtivo.