Em Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, Cévio Alberto Mengarda trabalha, junto com a família, na agricultura desde muito cedo. Hoje, aos 36 anos, o engenheiro agrônomo é responsável por administrar uma área de 600 hectares. Planta, como a maioria dos produtores na região, soja no verão. E, desde 2009, quando assumiu a responsabilidade de tocar uma parte dos negócios dos Mengarda, tem percebido a escalada do custo de produção.
“As margens estão cada vez mais espremidas, pois os principais custos têm se elevado muito, principalmente sementes, fertilizantes e combustível”, pontua Mengarda. “É fundamental falar nesse assunto, porque às vezes o agricultor aparenta estar vivendo num mar de rosas, por ter colhido uma safra boa. Mas, não contabiliza nem os custos com insumos, quanto mais os gastos como um todo”, compartilha.
Os dados do levantamento de custos de produção do Programa Campo Futuro, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que tem parceria com o Sistema FAEP/SENAR-PR, confirmam a preocupação do agricultor de Marechal Cândido Rondon. Em sete safras (de 2012/13 a 2018/19), o valor desembolsado para produzir um hectare de soja no Paraná aumentou 76,8%, considerando os gastos no chamado Custo Operacional Efetivo (desembolso direto). Enquanto isso, a inflação no período, de acordo com o Banco Central, foi de 49,7%.
Controle gera oportunidade
Esse descompasso entre a escalada do custo de produção e da inflação acende um alerta importante: é preciso controlar de forma rigorosa os gastos para não perder oportunidades de compra de insumos e comercialização da produção. “Se o produtor não está sabendo, não tem um histórico, acaba perdendo as melhores chances”, aponta Nelson Paludo, presidente da Comissão Técnica (CT) de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP.
O próprio Paludo e outros produtores que têm os gastos na ponta do lápis conseguiram aproveitar uma oportunidade na safra 2019/20. “Em abril de 2020, tivemos chances para comprar os insumos num preço bom para o plantio da soja 2020/21. Conseguimos fazer essas compras numa janela excelente. Agora se deixar para última hora, não tem jeito, tem que ir na loja e pagar o preço que está naquele momento e pronto”, reflete.
Na prática
O produtor Mengarda também aproveitou a mesma janela para comprar insumos, da safra que acabou de começar, antes da subida das moedas internacionais. Para se ter ideia, em julho deste ano, o dólar permaneceu em um patamar mais de 40% maior em relação ao mesmo período do ano passado. “Compramos os insumos antes da alta elevada do dólar que veio com a pandemia. Agora, o que estamos fazendo é travar o nosso custo [da safra 2020/21] aproveitando o momento de preços bons da soja para fazer venda antecipada. Isso só se consegue com planejamento”, aponta.
Para o produtor do Oeste do Paraná, nada é mais difícil do que produzir alimentos, pois esse trabalho envolve outras variantes em relação às envolvidas na estratégia de compra e venda.
“No fim das contas, esse dinheiro que a gente ganha se planejando é a parte mais fácil do processo, pois não depende do clima, do trabalho, da máquina. É só administração, acompanhar o mercado e controlar os gastos à risca”, finaliza.
Controle necessário
Hoje, no Paraná, a maioria dos produtores tem algum controle de custos, mas nem sempre da forma mais adequada. Para quem quer começar a fazer esse trabalho ou então para o agricultor aprimorar suas técnicas de gestão, a técnica do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP Ana Paula Kowalski aconselha arquivar, de forma organizada, as notas fiscais de compra e venda e anotar seus custos e receitas. “Cadernos de campo são muito úteis, o produtor poderá anotar seus coeficientes técnicos como produtividade média, densidade de plantio, doses de aplicação, horas trabalhadas. As informações ficam à mão para rápida consulta e para inclusão em planilhas ou outras ferramentas de gestão”, enfatiza Ana Paula.
Isso tudo, segundo a técnica, em meio a inúmeras decisões diárias, como qual cobertura de solo fazer, quando fazer manejos, que financiamento pegar, que sementes comprar, entre outras. “São tantas as decisões todos os dias que sem informações de qualidade, sem um controle rigoroso, fica difícil acertar nas escolhas que colocam em jogo o sucesso ou não da atividade agropecuária”, reflete.
Para ajudar o produtor a dar mais um passo na direção de um controle mais efetivo, o Sistema FAEP/SENAR-PR separou um exemplo de como é feito o controle de custos de uma propriedade rural. Além deste panorama condensado, também há uma tabela completa, com explicações mais detalhadas dos conceitos, na seção Serviços no site www.sistemafaep.org.br.