Mudanças no mercado global movimentam a soja e derivados
Cenário internacional é marcado por clima incerto, demanda oscilante e mudanças estratégicas entre Brasil, EUA, Argentina e China
A soja e os óleos vegetais vivem um momento de volatilidade global. Foto: Canva
O Complexo Soja e Óleos Vegetais vive um período de alta volatilidade, influenciado por incertezas climáticas, margens pressionadas e movimentos estratégicos nos maiores mercados globais, segundo a Hedgepoint Global Markets.
Brasil avança com safra recorde em meio a riscos climáticos
O Brasil caminha para uma safra recorde de 178 milhões de toneladas, mesmo com atrasos no plantio e riscos associados ao La Niña, que tem probabilidade de 69% até janeiro. As exportações devem atingir 109 milhões de toneladas em 2024/25, sustentadas sobretudo pela demanda chinesa.
As margens internas têm permanecido baixas. Isso limita o ritmo de esmagamento e, consequentemente, pressiona os prêmios. Além disso, a comercialização segue lenta, com apenas 25% da nova safra vendida até agora. Como resultado, o atraso no plantio pode deslocar parte da demanda chinesa para os Estados Unidos até o fim de janeiro.
Segundo Luiz Fernando Roque, coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint, o país mantém potencial para ampliar sua liderança. No entanto, ele reforça que o clima e o ritmo de vendas exigem atenção constante.
Argentina mantém protagonismo nos derivados
A Argentina surpreendeu em 2024/25 ao alcançar exportações elevadas, próximas de 12 milhões de toneladas, apoiadas pela demanda chinesa e pela redução temporária de impostos. Para 2025/26, espera-se queda na área e na produção, estimada em 48,5 milhões de toneladas.
Apesar disso, o país continuará forte nas exportações de derivados, com projeções de 30 milhões de toneladas de fareloe 7 milhões de toneladas de óleo. A competição com Brasil e Estados Unidos deve se intensificar no mercado de produtos processados.
China mantém demanda forte, mas margens seguem apertadas
A China continua como principal motor da demanda global, com previsão de importações recordes de 112 milhões de toneladas. O país também deve ampliar o esmagamento para 108 milhões de toneladas.
Mesmo assim, os elevados estoques, próximos de 44 milhões de toneladas, reduzem a urgência nas compras. As margens negativas no esmagamento e os estoques elevados nos portos também desaceleram o mercado. As compras recentes de soja dos EUA refletem mais decisões políticas do que competitividade, já que o produto norte-americano permanece menos atrativo que o brasileiro e o argentino.
Estados Unidos mostram resiliência no esmagamento apesar da safra menor
Os Estados Unidos colheram uma safra revisada para 115,8 milhões de toneladas, abaixo do esperado, devido à redução de área plantada. Ainda assim, a produtividade atingiu recorde. As exportações caíram para 44,5 milhões de toneladas, cerca de 7 milhões abaixo do ciclo anterior, devido à ausência chinesa até outubro.
Por outro lado, o esmagamento segue forte. O movimento é sustentado pelas exportações de farelo e óleo e pela expectativa de mudanças na política de biocombustíveis proposta pela EPA. Caso o novo programa seja aprovado, os estoques de óleo podem cair e os preços internos podem subir. O mercado em Chicago rompeu a faixa de US$ 11,30 a US$ 11,40/bu, com espaço para atingir US$ 12/bu.
Óleo de palma apresenta estabilidade enquanto riscos logísticos persistem
Indonésia e Malásia seguem como líderes globais na produção e exportação de óleo de palma, com tendência de crescimento em 2025/26. A Índia e a China devem ampliar as importações. Entretanto, o La Niña pode gerar chuvas acima da média no Sudeste Asiático, afetando a logística regional.
O spread entre o óleo de soja e o óleo de palma voltou a estreitar, o que reduz a competitividade da palma. Ainda assim, qualquer interrupção logística poderá aumentar a volatilidade de preços e spreads.
