Tão logo a guerra eclodiu, as cotações da soja em Chicago subiram 228 cents/bushel ou US$ 76/tonelada ou algo ao redor de R$ 24,62/saca, em 15 dias. O principal driver desta alta foi o óleo de soja, porque a guerra estancou o fornecimento de óleo de girassol, do qual a Ucrânia é um grande fornecedor mundial e porque o óleo de soja é usado na fabricação de biocombustível, que poderia eventualmente substituir parte do petróleo na fabricação de combustíveis, embora seja mais caro do que ele.enbsp;
Mas, neste meio tempo, em abril, a Indonésia derramou 1,0 milhão de toneladas de óleo de palma no mercado, pressionando os preços dos óleos vegetais em todo mundo, eliminando este componente altista do mercado de soja. De lá para cá, as cotações da soja recuaram 241 cents/bushel, nos gráficos da Bolsa de Chicago, 13 cents/bushel a mais do que tinham subido no início da guerra (você aproveitou para fixar preços em Chicago?). Mesmo assim, as cotações ainda estão elevadas, garantindo um lucro aproximado de 45% aos sojicultores brasileiros e tende a continuar assim até o final desta safra, pelo menos, a depender da duração e dos efeitos colaterais desta guerra, que promete ser longa.
Deixando propositadamente de lado grandes teorias econômicas, podemos explicar os efeitos da atual situação econômica brasileira e mundial da seguinte forma:
a) A pandemia já havia trazido retração do consumo mundial geral, por reclusão (lockout) em quase todos os países. Isto reduziu o consumo de quase tudo, mas, em especial, de combustíveis, de refeições ao vivo em restaurantes (mas aumentou o de entregas) e de compras em geral, porque as pessoas não saíam mais de casa. O consumo mundial é importante para o Brasil, porque exportamos matérias-primas para mais de 170 países;
b) Nem bem amenizou o efeito da pandemia, surge a guerra na Ucrânia. Putin aproveitou para fazer suas reclamações depois do estabelecimento de um governo fraco nos EUA (se Trump estivesse ainda lá, não haveria guerra, com certeza).enbsp; A guerra, qualquer guerra, afeta diretamente os preços do petróleo e dos fretes em todo mundo e, com eles, eleva os preços de todas as mercadorias, porque o preço do transporte (agora elevado) faz parte importante do custo de todas elas. Isto aumenta a inflação em todos os países do mundo.enbsp;
c) Esta guerra, em especial, trouxe um agravante: a Rússia é a segunda maior exportadora de petróleo e a maior de gás no mundo e a Europa é enormemente dependente dos insumos energéticos russos para sobreviver e pode entrar em estagflação, um estágio agudo de inflação.
d) Com a elevação do custo das coisas, as pessoas compras menos (menos carro, menos geladeira, menos roupas, até menos comida, menos tudo).
e) Esta retração geral de consumo em todo mundo faz as empresas venderem menos e encomendarem menos matéria-prima (commodities) necessárias para a fabricação dos seus produtos. Com isto, as ações destas empresas caem nas Bolsas de Ações e os preços das commodities caem nas Bolsas de Mercadorias (que é o que está acontecendo com soja, milho, trigo, minério de ferro, cobre, tudo).
Tudo isto é uma espiral para baixo, que não acontece só no Brasil, mas em todo Mundo. Os maiores atingidos, até o momento, são, pela ordem, Europa, China e (menos) Estados Unidos. O Brasil também está sendo atingido, mas grau bem menor do que os outros países, porque temos quase tudo o que necessitamos internamente (poderíamos ter também combustível se as refinarias contratadas pelo governo anterior tivessem sido terminadas, o que eliminaria a correspondência do preço da gasolina ao mercado internacional), especialmente os outros países da América do Sul, quase todos socialistas.